dezembro 15, 2010

Mídia & Polícia: Excertos de uma promiscuidade antiga, por Mauro Malin

PICICA: A promiscuidade entre Mídia & Polícia remonta aos anos 1960, quando "a troca de figurinhas se dava apenas entre policiais e jornalistas reacionários, ligados ao poder, sobretudo durante a ditadura".
VeraLuna1 | 7 de março de 2010 | 
O lema da Scuderie le Cocq era o de que bandido bom era bandido morto.
Menção Honrosa do XXVIII Prêmio Nacional Wladimir Herzog 2006
Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo- Movimento de Justiça e Direitos Humanos/OAB/RS

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MÍDIA & POLÍCIA
Excertos de uma promiscuidade antiga
Por Mauro Malin em 14/12/2010
 
Tem tradição no Brasil um certo deslumbramento da mídia com ações policiais violentas, desde que em territórios habitados por pobres. Vem de longe a relação promíscua da imprensa brasileira com a polícia, que até por motivos operacionais era praticamente a única fonte de informação dos repórteres – não por acaso chamados "de polícia", denominação que desagradava tanto um deles, Jorge Antônio Barros, que o levou a criar, em 2005, um blogue chamado "Repórter de Crime". 

E não se suponha que a troca de figurinhas se dava apenas entre policiais e jornalistas reacionários, ligados ao poder, sobretudo durante a ditadura (em 1968 conheci alguns, do O Globo, do O Dia, da falecida A Notícia, que andavam armados e entravam na Secretaria de Segurança Pública com a mesma desenvoltura com que o faziam nos jornais onde trabalhavam; como se um fosse extensão da outra). Não, a fascinação por relatos policiais contaminava igualmente gente que fazia oposição ao regime. 

Como na longa entrevista feita na segunda metade dos anos 1970 pelo saudoso Octávio Ribeiro, o Pena Branca, e pelo cartunista Jaguar, com Sivuca, assim apresentado pelo primeiro: "José Guilherme Godinho Ferreira, uma massa de músculos de 1m90 e muitos quilômetros de valentia (....), um ‘cana dura’, estimado pelos colegas novatos e veteranos da polícia carioca, superestimado pelos bandidos, que sempre evitam atuar em sua jurisdição: Madureira e adjacências." A entrevista faz parte do livro Barra pesada, publicado em 1977 pela Codecri, a editora do Pasquim.

Da Polícia Especial e do Esquadrão da Morte à Assembleia Legislativa
Quem é Sivuca? 

Notícia relativamente recente (fevereiro de 2008) publicada no Dia e encontrada na internet reza o seguinte:
"A Assembléia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) exonerou dois funcionários acusados de aliciamento ‒ um deles, filho do ex-deputado estadual José Guilherme Godinho, o Sivuca ‒ e adotou regras mais rígidas para a concessão do auxílio-educação [....]. Renato [Sivuca Ferreira] é filho do ex-deputado Sivuca, famoso por usar o bordão ‘Bandido bom é bandido morto’. Na década de 1970, foi apontado como um dos fundadores da Scuderie Le Cocq, um grupo de detetives da Polícia Civil dos mais temidos pela criminalidade do Rio de Janeiro, por sua atuação violenta e por suas ligações políticas."A Scuderie Le Cocq foi criada na década de 1960 para "vingar" o assassinato do detetive Milton Le Cocq de Oliveira pelo bandido Manuel Moreira, o Cara de Cavalo. Usava as iniciais "E.M." em seu brasão, que os associados podiam colar, sob a forma de adesivo, no para-brisa do carro. Achavam que essa insígnia afugentava assaltantes ou ladrões de automóveis. Segundo Sivuca, a abreviatura não significava Esquadrão da Morte, e sim "Esquadrão dos Motociclistas", que ele e Le Cocq haviam sido na Polícia Especial, criada durante o Estado Novo. Mas em cartazes deixados em locais de "desova", como ilustra foto no livro, a sigla aparece embaixo de uma caveira com as tíbias cruzadas.
Sivuca descreve assim o grupo, na ocasião da entrevista:
"A Scuderie Le Cocq tá tranquila, muito bem organizada. Existem cerca de 2.500 sócios, entre eles policiais, jornalistas, médicos, advogados, militares e outros profissionais liberais. A Scuderie foi criada para perpetuar a memória de Le Cocq. O presidente era o Euclides Nascimento e o jornalista David Nasser é o presidente de honra. Ele era muito amigo de Le Cocq."Convém lembrar que os esquadrões da morte se espalharam por vários estados e se ligaram a atividades como proteção a bicheiros e traficantes, roubo de carros, falsificação de documentos e venda de armas. Participaram, também, da repressão política durante a ditadura, especialmente em São Paulo. Geraram, no Rio de Janeiro, as atuais milícias.

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