julho 15, 2007

Armação no Pan 2007


ELZA E O CORO DOS CALHORDAS

Por Jair Alves - dramaturgo/SP

A abertura dos Jogos Pan-americanos, nesta sexta-feira 13, trouxe à cena mais um capítulo da guerra psicológica e suja, promovida pelos inimigos da Paz. Tudo ia bem, muito bem, a partir do hino nacional brasileiro, cantado por Elza Soares. Existe alguma artista brasileira que melhor expresse o sentimento do povo brasileiro? Difícil dizer. Os dois grupos de versos que compõem o hino nacional foram cantados até o seu final, acompanhado em uníssono pela grande maioria dos presentes, num espetáculo jamais visto. Até mesmo a entrada da primeira delegação - a Argentina - desfilou sem grandes alardes. Com esse gesto de tolerância, por parte dos presentes, poder-se-ia imaginar que o Brasil caminha verdadeiramente para a sua maturidade. A primeira parte da cerimônia decorreu sem nenhum incidente e terminou com Vanderlei Cordeiro de Lima desfilando saltitante, carregando a bandeira brasileira à frente da delegação. Alguém pode imaginar alguém mais sereno do que ele? Depois da inconcebível interferência de um fanático religioso, na última Olimpíada, Vanderlei se recompôs e continuou correndo até o final da prova, entrando triunfalmente no estádio de Atenas. É difícil dizer se existe alguém mais sereno do que ele, diante de uma insensatez.

Em seguida veio à apresentação artística do cerimonial que, apesar da mistura de carnaval e show da Globo para eventos comandados pela Xuxa, não chegou a comprometer. Afinal, estávamos num evento onde tudo vale a pena, desde que o gesto não seja parecido com o maluco escocês, em Atenas. Ai veio o inesperado por nós, e mais do que esperado para os calhordas de plantão. Quem anuncia a abertura dos jogos Pan-americanos é o presidente da Nação sede, e não o chefe da torcida do time mandante do jogo. E ai vimos a prova mais do que cruel, provinciana e de expresso mau caratismo. A ameaça de uma vaia, por parte de uma parcela do público presente, ao presidente Lula.

Antes de tudo é preciso dizer que ele ali representava o Estado brasileiro, a Nação brasileira, e Luiz Inácio Lula da Silva representa o Brasil. A não ser que aqueles calhordas que ameaçaram com esta vaia acreditem que podem, num golpe sujo, desonesto, provinciano e mesquinho derrubar o comandante maior da Nação, mesmo com sua esmagadora votação conquistada em outubro último. Só quem viveu esses momentos sabe que essas cerimônias cronometradas como esta, sabe que centenas de pessoas interferem no andamento do ritual. Assim sendo o cerimonial querendo "poupar" o presidente da República encontrou uma forma covarde para resolver a questão. Cortou o som do presidente Lula e deixou que o presidente do Comitê Olímpico anunciasse o evento. O ataque premeditado, ameaçando inclusive a beleza daquilo que se realizava até ali é insano, pois não previu conseqüências. A grande e esmagadora maioria ali presente no dia de hoje sequer pensou em política, pelo contrário, esqueceu de tudo em nome de uma festa coletiva. Ninguém é obrigado a aplaudir quem quer que seja, muito menos o presidente do seu país, mas vaiá-lo naquela circunstância é no mínimo é uma falta de educação, quando não um ato desordeiro. O coro de calhordas só consegue respeitar a imagem projetada no seu espelho.

Entenderam pouco ou nada, mesmo depois que Chico César - um artista negro, nascido do norte do Brasil, numa das regiões mais negras do continente - tenha cantado uma belíssima canção falando de PAZ. O coro dos calhordas acusa a violência que está fora do seu condomínio. Violência essa que está nas ruas, nos morros, porém não percebem que eles são os mesmos que mantém e financiam essa violência. Azar deles, azar nosso. Amanhã, com certeza, os jornais estrangeiros não diminuirão o prestígio do presidente Lula, mais uma vez vão registrar o “ímpeto selvagem dos brasileiros” para o desconforto dos componentes desse coro.

O Jornal Nacional, ao fazer um resumo da cerimônia não esqueceu de registrar o fechamento do evento com Daniela Mercury, que temos certeza não participaria dessa vaia, mas é impossível dizer que ela tenha ficado triste. Tristes, sim, ficamos nós com a Globo e com todos os jornais de amanhã, eles devem ignorar as participações de Elza Soares e de Chico César. Já o coro dos calhordas poderá ser elevado à categoria dos "heróis".

Sexta-feira 13/07/07

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Rogelio, gostei de ler seu blog e comungo de sua indignação com a "burrice" de alguns brasileiros que ainda não aprenderam a ser menos provincianos e influenciados pela mídia. Parabéns pelos escritos. Detalhe, sou gaúcho, radicado na Paraíba, terra do querido Chico César, nordestinho e não nortista como você colocou.
saudações cordiais.