Caro
Ontem, enquanto eu lia o e-mail de resposta [...] ao Marcos, eu penava no texto final de Kassandra de Krista Wolff. Pouco antes da invasão de Tróia pelos gregos, Kassandra tem uma dura conversa com o Eumelo. O General diz-lhe não acreditar nos homens que ela tanto defender. "Veste teus homens livres com o uniforme da minha polícia e verás no que eles se transformam".
Kassandra encerra o debate demarcando sua crença nos homens do povo, mesmo quando eles eventualmente se mostram autoritários, violentos:
- Eu só desprezo os carrascos. Faças o que fizeres, esses homens serão sempre maiores que tu. Se lhes acontecer, alguma vez, matar, é na loucura de um instante. Tu, não. Tu massacras segundo a lei e a lógica. Não rias de seu ar de destemor. Há séculos eles morrem e seu amor é dilacerado. O maior de seus crimes terá sempre uma desculpa. Mas não encontro desculpas para o crime que, em todos os tempos, tens cometido contra eles e que, para arrematar, tiveste a idéia de coodificar nesta imunda ordem que é a tua. Eu não baixarei os olhos!
Também achei o texto do Marcos um pouco duro. Mas, diante da rigidez autoritária da Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, de sua total ausência de cacoete democrático, de sua incapacidade de convidar o movimento social ao debate, de seu desprezo pelo diálogo... diante deste autoritarismo de Estado, não vejo suas palavras soam muito mais como um desabafo, ao qual sou solidário.
[...]
Encaro a iniciativa do Marcos, por mais dura que seja, como um grito desarmado diante de um Estado autoritário. Gostaria de ver um pouco desta indignação [...] voltada contra a ausência de diálogo da Coordenação Nacional... Afinal, se eventuais palavras duras incomodam, o silêncio do desprezo estatal é ainda mais violento, e até mesmo perverso.
Aos eventuais arroubos dos militantes, minha solidariedade. Ao silêncio dos governantes, meu desprezo. Meu, e de Kassandra.
[...]
PICICA - Blog do Rogelio Casado - "Uma palavra pode ter seu sentido e seu contrário, a língua não cessa de decidir de outra forma" (Charles Melman) PICICA - meninote, fedelho (Ceará). Coisa insignificante. Pessoa muito baixa; aquele que mete o bedelho onde não deve (Norte). Azar (dicionário do matuto). Alto lá! Para este blogueiro, na esteira de Melman, o piciqueiro é também aquele que usa o discurso como forma de resistência da vida.
setembro 17, 2009
Contra o espírito de rebanho e o silêncio dos inocentes
Nota do blog: A figura que você vê nesta fotografia é o nosso querido Marcus "Bad Boy" Vinicius de Oliveira, doutor em Psicologia, professor da Universidade Federal da Bahia, e militante "full time" da luta por uma sociedade sem manicômios, da qual é uma das suas principais lideranças. Aqui neste blog você poderá ler a potência criativa do companheiro Marcus Vinicius. Acesse A Clínica Psicossocial das Psicoses e saiba como se produz conhecimento na luta contra o fundamentalismo da psiquiatria conservadora. Por ter criticado a indiferença dos que assumem cargos públicos e esquecem suas responsabilidades sociais é o principal alvo de críticas dos que pretedem reduzi-lo à figura de criador de cizânias, o que está sendo refutado por quem não tem espírito de rebanho. Curiosamente, até a presente data o Ministério da Saúde é a única instância que não respondeu ao pedido de audiência feita pelos organizadores da Marcha dos Usuários de Saúde Mental por uma Reforma Psiquiátrica Antimanicomial. O texto abaixo é uma resposta aos críticos de Marcus Vinicius. Conto o milagre, mas não revelo o nome do santo (a menos que seja autorizado):
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