setembro 15, 2009

Loucos pela escola

Escola Estadual Euclides da Cunha
Manaus - Amazonas - Brasil
Acervo Nivaldo de Lima

Nota do blog: Há algum tempo pedi autorização da psicanalista Rita de Cássia de Araújo Almeida para postar no blog sua dissertação de mestrado intitulada "Loucos pela escola". Com fotografia da Escola Euclides da Cunha, feita pelo companheiro Nivaldo de Lima, dedico esse post aos alunos de medicina da UEA, que estão dando os primeiros passos no campo da saúde mental. O texto está em Mediateca: Saúde Mental e Racismo Ambiental. Você pode acessá-lo, também, por aqui Loucos pela escola. Boa leitura!

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"O mundo só caminha através do mal-entendido. É através do mal-entendido universal
que toda a gente se põe de acordo. Porque se, por infelicidade, as pessoas se
compreendessem, nunca poderiam pôr-se de acordo".
Charles Baudelaire in: Diário Íntimo

LOUCOS PELA ESCOLA

Rita de Cássia de Araújo Almeida

Resumo

Esta dissertação começa com a discussão de duas propostas político-filosóficas bastante atuais. Uma trata do desmonte dos manicômios como aparato de agenciamento social da loucura – a Reforma Psiquiátrica Brasileira – e a invenção de uma nova proposta institucional balizada pelos CAPS; outra trata das propostas que viabilizam uma maior abertura da escola para as diferenças – as Políticas de Educação Inclusiva. Se os muros do hospício desmoronam e as portas da escola se abrem, então, a escola se vê diante da oportunidade de acolher a diferença da loucura e de se deixar interpelar por essa experiência. Mas como pensar uma escola que perceba tal experiência como enriquecedora para o processo educativo e não como um peso a mais ou alguma coisa que precise ser apenas tolerada? Para tratar dessa questão teremos a psicanálise como parceira. Faremos uso de seu arcabouço teórico, de seu estilo – que permite entrelaçar a teoria com recortes de experiência – e principalmente, de sua posição discursiva, para inventar o que pretende ser a nossa contribuição: uma escola em movimento. O malestar dos laços sociais – discutido por Freud – retorna na teoria dos discursos de Lacan, que os concebe como formas de fazer laços, laços que, como veremos, sempre remetem a um impossível, a alguma espécie de fracasso. O discurso do mestre, o discurso da histérica, o discurso universitário, o discurso do analista e o discurso capitalista, são discursos presentes em todas as instituições inventadas pelo homem, incluindo a escola. Nossa aposta é a de que o discurso do analista – em sua intenção de promover o fracasso a agente do discurso – seja capaz de promover um dinamismo interessante no movimento discursivo da escola, fazendo dela um lugar mais aberto às diferenças: isso que desmonta e desconstrói o instituído. Uma escola em movimento é uma escola interpelada pela loucura e atravessada pelo discurso do analista, sendo assim, não pretende ser a solução dos mal-estares da educação, muito pelo contrário, sua inovação está exatamente em não ter a pretensão se livrar de tais mal-estares, mas sim transformá-los em motor e energia para o processo educativo.

Palavras chave: Psicanálise e Educação. Educação Inclusiva. Teoria Lacaniana dos Discursos. Reforma Psiquiátrica Brasileira. CAPS.
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