[...]
Que será de ti, Amazônia,
enquanto se teima em desconhecer
que teu reino se acaba
onde a tua imensa vegetação termina?
[...]
Que será de ti, Amazônia,
enquanto não forem avaliadas tuas perdas
e teu desgaste
em quatrocentos anos de falsa
prosperidade para o homem;
e de lente,
lentíssima agonia
para os sonhos e as riqueza
que te habitam?
[...]
Que será de ti, Amazônia,
enq1uanto o revolvimento do teu solo,
à cata de minérios,
envenenar os teus rios;
e as toras de madeira submersas
desabarem sobre ti
numa queda insalubre e frenética
de chuvas ácidas?
[...]
Que será de ti, Amaqzônia,
quando as tuas lendas não tiverem mais
onde pousar; e a doce flatua
do uirapuru
quebrar-se numa profunda elegia
sobre os rios que minguam
e os areais que avançam?
[...]
Que será de ti, Amazônia,
se continuas espoliada e sujeita
ao voto
que elege os teus algozes?
Nota do blog: Lendo a poesia do grande poeta Jorge Tufic, é preciso reconhecer a justa homenagem do título que lhe foi concedido pela Assembléia Legislativa de Cidadão do Amazonas. Tardava o reconhecimento desse velho pajé espiritual. Mas cá pra nós, o autor da proposta, que defende a re-construção da BR-319, certamente não conhece a obra do querido poeta, sobretudo a que foi publicada pela Livraria Valer "Quando as Noites Voavam", de onde retirei esses trechos do instigante poema "Que será de ti, Amazônia?". Aqui não é só a poesia que é desconhecida, a ciência também não é respeitada. Alfredo Wagner, antropólogo, professor das Universidades Estadual e Federal do Amazonas, é uma dessas vozes isoladas que alertam para a retaliação que o sul do Amazonas sofrerá com o asfaltamento da floresta. Depois do SOS Encontro das Águas, um outro SOS é possível: o SOS Manaus-Amazonas, antes que seja tarde. A experiência recente demonstrou que somos capazes de fazer um movimento supra-partidário, pois ali onde os movimentos sociais foram aparelhados o resultado foi desastroso. Salve, Jorge!
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