Nota do blog: Considero o debate interno entre as diversas forças políticas que fazem parte do PT um dos elementos mais importantes da cultura política do próprio partido e da história recente da república. Os frutos desse debate quando vem a público, nos auxilia a entender o que muitas vezes é omitido pela mídia que trata a informação como mercadoria. Este blog, graças à gentileza do companheiro José Barroncas, advogado, militante histórico do partido no Amazonas, tem recebido e postado as rigorosas análises de conjuntura de um dos mais respeitados líderes que compõe a direção nacional do PT. Se algum outro companheiro for tomado por mortal ciúme, não deixe esse sentimento prosperar. Reivindique espaço para a sua "tendência", fique à vontade, faça como o intrépido José Barroncas, mande os textos de seus lídimos representantes. Terei a honra de postá-los. Nada melhor do que um belo e apaixonado debate. Estas páginas eletrônicas estão abertas. Usem e abusem. Fiquem agora com o texto de Valter Pomar, publicado no Página 13.
As várias direitas e seus planos
Valter Pomar*
Pesquisa gorda, guarda baixa: assim foi noutros momentos, como em 2006, onde um erro político prejudicou nosso desempenho na eleição parlamentar e jogou a disputa presidencial para o segundo turno, além de afetar negativamente algumas campanhas estaduais.
Portanto, manda o bom senso que, ao mesmo tempo em que exploramos com força a possibilidade
de uma vitória já no dia 3 de outubro, mantenhamos o ceticismo, além de ficarmos alertas para as operações especiais de que a oposição de direita é reconhecidamente capaz.
Ao mesmo tempo, é preciso lembrar que há várias maneiras de ganhar e de perder. Logo, se não operarmos corretamente, podemos ganhar a eleição e ter muitas dificuldades no governo. Dificuldade que compartilhamos com vários de nossos hermanos continentais.
Desde 1998 até 2009, candidaturas progressistas e de esquerda ganharam a maior parte das eleições presidenciais ocorridas na América Latina. As exceções mais importantes foram o Peru (onde quase ganhamos), o México (onde fraudaram o resultado) e a Colômbia (onde o conflito militar prejudicou o Pólo Democrático Alternativo).
Desde 2009, a direita vem tentando recuperar os espaços perdidos. Apesar dos esforços, o resultado deste contraataque ainda é magro: ganharam no Panamá e no Chile, onde havia governos de centro-esquerda moderados; e ganharam na Colômbia, que eles já governavam.
Mas perderam no Uruguai, na Bolívia, no Equador. E vão perder na Venezuela (eleições legislativas em setembro) e no Brasil (eleições presidenciais em outubro).
Diante das dificuldades eleitorais, a direita latino-americana (e brasileira) opera planos alternativos.
O “plano b” nós vimos em Honduras: trata-se do tradicional golpe de Estado. Volta e meia eles ameaçam fazer isto na Guatemala e no Paraguai, que são considerados “elos fracos” da rede de governos
progressistas.
Como a sustentabilidade destes golpes depende de retaguarda militar, a direita latino-americana vê com simpatia a conduta dos Estados Unidos, que estimula o conflito na Colômbia, expande suas bases na região (quase 40) e reativa a IV Frota, que não por coincidência vai operar na região do pré-sal brasileiro.
Já o “plano c” da direita é mais sutil: trata-se de garantir que a esquerda não consiga implementar seu programa; nem consiga passar da condição de governo, para a condição de poder.
No caso do Brasil, a oposição de direita conta com dois importantes aliados para executar este plano: por um lado, os setores moderados da nossa coligação; por outro lado, o grande capital em geral.
Aliás, é bom lembrar: o grande capital tolera o nosso governo, pois como diz o próprio presidente Lula, nunca na história deste país os ricos ganharam tanto. Mas este mesmo grande capital não aprecia
políticas de distribuição de renda e faz oposição aberta a reformas estruturais de tipo democrático-popular.
Quando observamos o confronto eleitoral de 2010, isto fica claro: Serra expressa uma aliança entre neoliberais e desenvolvimentistas conservadores; já Dilma tem na sua campanha as forças democrático-populares, mas também tem ao seu lado desenvolvimentistas conservadores. Portanto, a ideologia desenvolvimentista conservadora e o grande capital, como força político-social, estão presentes
nas duas campanhas.
Neste sentido, o mais exato é dizer que o Brasil tem uma direita social (os grandes empresários, interessados na manutenção das estruturas sociais de exploração e dominação), que se manifesta politicamente
de diferentes formas: através da oposição de direita (PSDB-DEM-PPS), através dos setores governistas de centro-direita e inclusive através de aliados nos partidos de centro e esquerda (Marina e Palocci, por
exemplo).
Para a direita social, para o grande capital, melhor seria que o atual e a futura presidente da República não fossem filiados ao PT. Mas como a oposição de direita está mal das pernas, a direita social faz um movimento de pinça: por um lado, tenta esterilizar programaticamente a vitória de Dilma; por outro lado, trabalha para fortalecer os setores mais moderados da coligação. O PMDB, por exemplo, tem sido apontado como contraponto, dentro do governo, ao PT; e como cavalo de uma futura candidatura presidencial alternativa ao petismo, em 2014.
Para além destes movimentos táticos, a direita social opera para seguir controlando a maioria parlamentar, o judiciário, as forças armadas, a burocracia de Estado, os meios econômicos e a comunicação de massa. Por isto, a maior parte da direita se opõe ou pelo menos desconfia da proposta de uma Constituinte, mecanismo utilizado noutros países para reformar e democratizar o Estado.
Também por isso, a incrível pressão feita sobre o PT e sobre a campanha Dilma, para que aceitemos o controle monopolista dos meios de comunicação como um dado da natureza; e para que confundamos
liberdade de imprensa, com liberdade de empresa.
Há quem pense que este tema perdeu importância. Afinal, elegemos Lula e vamos eleger Dilma, apesar do monopólio. Isto é verdade; mas também é verdade que nossos feitos administrativos são maiores do que os
eleitorais; nosso acúmulo eleitoral é maior do que nosso acúmulo político; nossa força política é maior do que nosso acúmulo ideológico. Ou seja, o monopólio da comunicação serve para frear, limitar, retardar, o crescimento geral da esquerda. O que não impede vitórias eleitorais, mas torna muito mais difícil realizar mudanças mais profundas.
Os partidos de esquerda, as lutas sociais, os movimentos, são fundamentais para que a esquerda saia da condição de governo e passe para a condição de poder. Por exemplo, sem luta político-social, não
vai ocorrer reforma política democrática, nem reforma tributária progressiva. Sabendo disto, a direita adota a mesma tática em todos os países do continente: criminalizar os movimentos sociais e desconstituir os
partidos de esquerda.
Ou seja: tratam como ilegítimo e ilegal o fato dos setores populares se organizarem, de forma independente, para mudar as leis, influenciar governos e mudar o conteúdo social do Estado.
Para a direita, lobby é bom, luta político-social é mal.
Se a direita tiver sucesso na criminalização dos movimentos socias e na desconstituição dos partidos de esquerda, ou pelo menos conseguir criar um ambiente que dificulte a organização e a luta social, eles terão dado um passo muito importante para, mesmo perdendo eleições, continuarem mandando e
desmandando em nossos países.
Também por isto é tão importante eleger Dilma, sem perder de vista que as contradições da coligação e seus limites programáticos obrigam os partidos e movimentos de esquerda a manter forte pressão em favor
das reformas democrático-populares.
*Valter Pomar é membro do Diretório Nacional do PT
Leia o Página 13 em pdf.
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