Da série “A Veja mente”: Jornalistas desmentem nova “denúncia” feita pela Veja
12 setembro 2010
Jornal Agora do RS
Não durou nem o final de semana nova “denúncia” feita pela revista Veja, fustigando a campanha da candidata petista à presidência da república, Dilma Rousseff. Blogueiros e jornalistas que atuam fora das redações dos grandes veículos de comunicação do eixo Rio-São Paulo partiram para uma investigação paralela e desconstruíram a mais recente tentativa de ataque contra a petista, que lidera as pesquisas de intenção de voto. A nova acusação era contra Erenice Guerra, que sucedeu Dilma como chefe da Casa Civil junto à presidência da República.
Após passar duas semanas fustigando a campanha de Dilma com a denúncia de quebra de sigilo fiscal de pessoas ligadas ao adversário na corrida presidencial – o tucano José Serra -, a Veja e outros grupos que repercutem a revista optaram por mudar o foco dos ataques. O motivo foi o esvaziamento do “escândalo do sigilo”, após uma reportagem da revista Carta Capital que foi às bancas no final de semana. A revista denuncia que a quebra de sigilo iniciou bem antes, e teria sido provocada pela empresa Decidir.com, na qual Verônica Serra (filha do presidenciável do PSDB) e Verônica Dantas (irmã do banqueiro bilionário Daniel Dantas, condenado a 10 anos de prisão), eram sócias. Segundo a revista, a empresa, com sede nos EUA, expôs na internet os dados bancários sigilosos de pelo menos 60 milhões de correntistas brasileiros e a lista de Emitentes de Cheques sem Fundo do Banco Central (BC). À época (2001), o caso teria sido abafado pelo próprio BC.
Agora, a nova investida era sobre a sucessora de Dilma na Casa Civil, Erenice Guerra. Segundo a Veja, Erenice teria atuado para viabilizar negócios nos Correios intermediados por uma empresa de consultoria de propriedade de seu filho, Israel Guerra. A revista alega que ela teria se encontrado quatro vezes, fora da agenda oficial, com o empresário Fábio Bacarat, que seria ex-sócio das empresa Via Net Express e MTA Linhas Aéreas. Depois dos encontros com Erenice, intermediados por Israel Guerra, a empresa, de acordo com a “Veja”, teria conseguido contratos no valor total de R$ 84 milhões com os Correios. A “denúncia” foi replicada por outros veículos, como os jornais paulistas Estadão e Folha e o carioca O Globo. Mas uma outra parcela de jornalistas se movimentou para levantar o outro lado, omitido pelos veículos.
A primeira contradição na matéria de Veja veio do próprio empresário Bacarat, que teria servido de “fonte” para a revista. Ele mesmo divulgou nota, ontem, “rechaçando” as denúncias, e afirmando não ter qualquer relacionamento, “pessoal ou comercial”, com a chefe da Casa Civil. Disse ainda que não é e nunca foi funcionário da empresa citada, e repudiou o fato de ter sido usado como “mais uma personagem de um joguete político-eleitoral irresponsável do qual não participo, porém que afetam famílias e negócios que geram empregos”.
O blog pró-Lula “ Os Amigos do Presidente Lula” também fez seus próprios levantamentos sobre o caso. Pesquisando na Junta Comercial de São Paulo, o blog levantou a ficha cadastral da empresa via Net Express, da qual a Veja disse que Bacarat seria sócio. Mas, no documento oficial, não consta o nome do empresário citado pela revista. O mesmo ocorre com a suposta participação societária de Bacarat na MTA. O blog acusa a revista de ter publicado um “estelionato jornalístico”, e tornou público que divulgou as informações que levantou para diversas redações em todo o país.
O jornalista Luis Nassif foi outro que destrinchou o caso, e também acusa a revista de distorcer os fatos para criar mais um factoide, uma “bala de prata”, para ser utilizada na tentativa de virar a eleição em favor de Serra. Todas as denúncias apresentadas pela revista e reproduzidas pelos demais veículos tem sido usadas pela campanha do tucano contra Dilma. E até mesmo pessoas ligadas aos grandes veículos começam a criticar a cobertura das eleições, considerada desigual. No final de semana, a ombudsman da Folha, Suzana Singer, questionou seu próprio jornal. “Há dias, José Serra só aparece na Folha para fazer ‘denúncias’. Nada sobre seu governo recente em São Paulo. Nada sobre promessas inatingíveis, por exemplo”. E completou: “A Folha deveria retomar o equilíbrio na sua cobertura eleitoral e abrir espaço para vozes dissonantes”.
Fonte: Página 13
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