dezembro 03, 2010

Tombamentos no Amazonas põe deputado contra o IPHAN

Sinésio Campos
Foto: Rogelio Casado
O buraco é mais embaixo, companheiro!

O deputado estadual Sinésio Campos não aprendeu a lição das urnas. Com metade dos votos obtidos nas eleições de 2006, desta vez, em 2010, conseguiu salvar sua reeleição graças ao voto de legenda. O eleitor avaliou sua conduta parlamentar, marcada pela defesa de projetos contrários aos interesses populares e não perdoou, retirando-lhe mais de 15 mil votos. Entre seus erros pode ser contabilizado a defesa da construção do terminal portuário das Lajes, sobre cuja rejeição social ele não deu a menor pelota.  Se adotar novamente esse caminho, no próximo pleito Sinésio poderá dar adeus ao mandato parlamentar.

O movimento socioambiental SOS Encontro das Águas está perplexo com a reiteração da conduta anti-popular do parlamentar, que semeia confusão ali onde é necessário esclarecimentos. Todos nós queremos um novo porto para atender as demandas do Polo Industrial de Manaus. Existem oito pontos sendo estudados, mas encasquetaram com a região das Lajes, no Encontro das Águas. Porque não entra na cabeça do deputado que está em jogo um patrimônio natural de tamanha relevância, como é Alter do Chão, no seu estado de origem? Alegar, após dois anos de luta, com a farta produção de argumentos, devidamente documentados, que o IPHAN está tombando “na marra” o Encontro das Águas como patrimônio nacional, é o último grito de desespero de quem perdeu o apoio da opinião pública, e que aposta suas últimas fichas no apoio dos segmentos mais conservadores da sociedade amazonense. Historicamente esses setores apoiaram iniciativas igualmente danosas, como, p.ex., a hidrelétrica de Balbina. Jogada de risco. Sinésio arrisca perder a credibilidade que lhe resta.

É preciso desmascarar a obsessão com que alguns agentes públicos e privados estão a defender a construção do referido terminal. Não é de hoje que se sabe dos interesses privados a conviver promiscuamente com agentes que deveriam defender interesses públicos. Há pelo menos duas empresas com estreitas relações com o governo do qual o deputado foi líder, e que certamente estão a cobrar retorno do apoio oferecido a alguns projetos governamentais, dentro da velha lógica de que um “favor” se paga com outro “favor”. Do contrário, não teriam cometido a deselegância em pressionar algumas das nossas instituições para silenciar os agentes que ofereceram, publicamente, resistência à construção do terminal portuário, face ao descabido impacto socioambiental a ser provocado na região do Encontro das Águas. 

O caso do porto do Chibatão é exemplar. Quando a sociedade se cala e a autoridade promove concessão graciosa de licença para funcionamento de um terminal portuário, não é só um porto que desaba, mas com ele nossas competências e responsabilidades sociais. No caso do terminal portuário das Lajes é a dimensão socioambiental que importa. Comprometer o ambiente ecológico e promover o racismo ambiental é a mais grave infração que uma administração pública pode perpetrar contra seu povo. É um desrespeito ao povo da zona leste da cidade de Manaus, sujeita a toda sorte de impactos ambientais, como o despejo de resíduos poluentes no lago do Aleixo. 

Sinésio compromete a imagem do Partido dos Trabalhadores ao deixar seu mandato subordinado a interesses de projetos que não dialogam com a sociedade. Pior. Soa falso o argumento de que se contrapõe a supostos agentes contrários ao desenvolvimento. Depois da manifestação de respeitáveis agentes de distintas áreas do conhecimento sobre o imbróglio criado pelo cinismo resultante da subordinação dos valores republicanos aos interesses de ocasião, é bom deixar de lado o velho e perverso mecanismo de cumprir acordos que não foram legitimados pela opinião pública esclarecida. E não estamos a falar de votos despejados na urna, mas dos votos de compromisso com a verdade e a ética do bem dizer. 

Chega de “dança de ratos e sapateado de catita”!

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