junho 25, 2006

A cidade e os loucos públicos dos anos 50/60

Cartão Postal: A Favorita - Vista geral de Manaus













Alguns amigos(as) me honraram com seus depoimentos sobre os loucos de rua da nossa infância na cidade de Manaus, vista acima num cartão postal clássico da loja de fotografia "A Favorita", situada quase esquina da rua Henrique Martins com Av. Eduardo Ribeiro.

No primeiro plano, vê-se o cais flutuante sobre a baía do Rio Negro. Rivalizava com a Catedral de N.S. da Conceição - bem defronte - a atenção dos manauras. Aos domingos, era batata (gíria dos anos 50/60), lá estavam as classes sociais mais populares, em seus vestidos de passeio domingueiro, a usufruir as belezas do coração da cidade.

Se a Catedral oferecia no seu entorno um agradável passeio público, arborizado e com pequenos lagos artificiais, o cais flutuante era imbatível; nele fruia-se a mais bela paisagem conhecida pelos povos da floresta: o rio. Beira de rio é coisa que encanta qualquer amazônida que se preze. A da baía do Rio Negro, com pores-de-sol inesquecíveis no verão abrasador de Manaus, nem se fala; contempla-se deitando olhares cumpridos até perder de vista. Espaços de convívio por excelência, notadamente as crianças, no seu eterno brincar, eram seus principais beneficiários: ou "danavam-se" a correr pelo passeio público, a bom comer pipoca, quebra-queixo, algodão doce, ou divertiam-se alimentando peixes no cais da Manaus Harbour. Tudo era festa.

Ancorado no cais, há pelo menos um navio da Booth Line, companhia inglesa de navegação, onde trabalhou como prático da bacia amazônica o comandante Rogelio Casado, meu pai, com quem fiz muitas viagens até Belém do Pará, sua terra natal, em navios de nomes castelhanos: Vamos, Venimos, Valiente.

Cortada por dois grandes igarapés, o de São Raimundo está fora do quadro, vendo-se apenas à direita o igarapé de Educandos, por onde podia-se atingir o bairro do mesmo nome através de catraias, embarcações rústicas movidas por dois longos remos dispostos em duas forquetas laterais.

Aos fundos pode-se ver a mata que cercava a cidade, ainda intacta. A malha de igarapés nela existente possibilitou uma rede de balneários púbicos e privados. A qualidade de vida da população de pouco mais de 300 mil manauaras jamais seria reproduzida. A mata viria abaixo e os igarapés seriam assoreados e/ou canalizados para dar lugar a dezenas de novos bairros, a partir do final dos anos 60 com a criação da Zona Franca de Manaus. Não são poucos os que afirmam que há males que vem para o bem: a zona franca depredou o patrimônio paisagístico de Manaus, porém teria deixada intacta a floresta amazônica, como se pode obervar ao comparar com a trágica depredação das florestas do Pará. Até quando?

O limite urbano da cidade, ao norte, era dado pelo Boulevard Amazonas; ao leste, pelo igarapé da Cachoerinha. Para além do boulevard, no final do bairro de Flores, ficava o Hospital Colônia Eduardo Ribeiro, criado em 1894 numa dependência da Santa Casa de Misericórdia, tendo sido transferido para a Rua Ramos Ferreira no dia 18 de fevereiro de 1898, onde funcionou até 1926, para finalmente ocupar um asilo de mendicidade denominado Colônia dos Alienados Eduardo Ribeiro; mais tarde receberia duas outras denominações: Hospital e Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro.

Mas essa é uma outra história. Por ora, acompanhe o depoimento sobre os loucos de rua. Na sua maioria, personagens célebres da Manaus dos anos 50/60. Outros relatos vieram de fora do estado do Amazonas. Desde já convido-os a refletir sobre o papel que esses loucos representaram e continuam representando na imaginação popular? E mais: como nossas memórias podem contribuir para a inclusão social dos loucos na cultura dos nossos tempos? A todos que colaboraram com seus generosos testemunhos, meus agradedimentos. Posted by Picasa

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