agosto 22, 2006

Nem tudo tá perdido

Foto: Arnaud Frich - Statue de Saint François d'Assise, Rome-Itália
















Nota: Valei-me, São Francisquinho! Nem tudo tá perdido. Enquanto alguns dirigentes de CRMs (Conselhos Regionais de Medicina) flertam com os partidários da contra-reforma psiquiátrica, e alguns dirigentes de CRPs (Conselhos Regionais de Psicologia) preferem manter-se distantes da luta antimanicomial, Marcus Vinicius de Oliveira, vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia dá um exemplo de como conciliar atitude profissional e comportamento político, em defesa de uma outra Psicologia no país. Leia matéria publicada em Agência Notícias do Planalto: http://www.noticiasdoplanalto.net/index.php?option=com_content&task=view&id=1505&Itemid=43

TERRA EM DEBATE: Psicologia quer contribuir na transformação da estrutura fundiária

ENTREVISTA -Entendendo que as questões agrárias são mais uma preocupação que também deve contar com a contribuição da Psicologia, vários profissionais e estudantes da área estão buscando a aproximação com as comunidades tradicionais (índios, trabalhadores rurais e quilombolas). Eles querem entender quais são as dificuldades enfrentadas por estes povos e aos poucos levar o atendimento e as técnicas da área para dentro destas comunidades, que muitas vezes não dispõem deste atendimento profissional.

Para saber mais sobre até que ponto a Psicologia pode ajudar na questão agrária, a Agência Notícias do Planalto conversou com o vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia, Marcus Vinicius de Oliveira. Ouça agora a entrevista:

Agência Noticias do Planalto: Marcus, qual a ligação entre a Psicologia e os temas que envolvem a luta pela terra?

Marcus Vinicius de Oliveira: A Psicologia como ciência e como profissão tem muitas contribuições para oferecer para a sociedade. No Brasil a Psicologia tem uma tradição de trabalho muito elitista, por isso um grupo de psicólogos que trabalham no Conselho tem tido a preocupação em fazer com que a Psicologia possa dialogar mais com as problemáticas que são próprias das populações da sociedade brasileira. Especialmente um conjunto destes segmentos que envolvem indígenas, quilombolas, assentados. Estas populações têm algo em comum a nosso ver. São comunidade que, por um lado encontram-se fragilizadas porque estão à margem das políticas públicas e, por outro lado, são populações que têm na luta pela terra um ponto central de sua identidade. Por isso, nós achamos que a Psicologia pode ter uma contribuição.

ANP: E na sua opinião, qual é o entendimento que a sociedade tem destas questões fundiárias?

MVO: O latifúndio hoje é um latifúndio diferente. Não quer dizer que é melhor, é diferente porque hoje, por incrível que pareça, ele parece mais apoiado do que ele já teria sido anteriormente. O latifúndio consegue uma metamorfose e consegue produzir legimitidade. Com isso estou querendo dizer que a sociedade brasileira tem uma dificuldade de percepção da gravidade da estrutura fundiária e da percepção dos reflexos desta estrutura fundiária que determinam muitos aspectos da vida da sociedade. Há uma despolitização uma inconsciência da sociedade.

ANP: Por ser um tema novo em discussão na Psicologia qual o entendimento dos profissionais da área destas questões?

MVO: No nosso grupo dos psicólogos, vou te confessar que não é muito diferente. Esta é uma questão que nós, como Conselho Federal de Psicologia (que somos o órgão de fiscalização profissional), estamos cumprindo nosso papel de alertar nossos colegas que existe aí uma área de atuação possível para a Psicologia. Mas obviamente a gente não pode desprezar o elemento político e ideológico que está envolvido nesta compressão da necessidade de transformação da estrutura fundiária. Mas objetivamente é um lugar onde os psicólogos podem vir a contribuir e ter um papel importante.

ANP: Em julho, foi criada a Rede de articulação nacional para debater essa relação entre luta pela terra e Psicologia. Qual o papel dela?

MVO: Essa rede é a tentativa de manter acesa a chama de um esforço de investigação. Não basta o apoio político e ideológico, é preciso ter uma competência tecnológica. É preciso que o psicólogo, além de ser favorável a luta dos índios, do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra], é preciso que ele saiba dialogar com estes grupos populacionais, saiba compreender as especificidades culturais destes grupos, saiba compreender as dinâmica sociais da convivência, dos conflitos. Enfim, que o psicólogo possa conhecer esta população. Então esta rede ela vai ser responsável pela construção deste projeto, de que a Psicologia possa cada vez mais, ser mais adequada e competente para oferecer a sua contribuição para esses movimentos sociais.

Vocês acabaram de ouvir a entrevista com o vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia, Marcus Vinicius de Oliveira.

De Brasília, da Agência Notícias do Planalto, Gisele Barbieri

17/08/06 Posted by Picasa

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