Foto: Rogelio Casado - arte de usuário de saúde mental, 2005
Nota: Enquanto a Associação Brasileira de Psiquiatria pisa na jaca ao atacar a Política Nacional de Saúde Mental conduzida pelo Ministério de Saúde, sinais inquietantes de que a violência contra portadores de transtorno mental não cessa nos hospitais psiquiátricos brasileiros, agora atinge as ruas.
Na madrugada do dia 25 de julho, em Manaus-AM, foi encontrado no pátio do Serviço de Pronto Atendimento do bairro de Alvorada o corpo de Cosme Miranda, assassinado com vários golpes de barra de ferro. Há duas semanas atrás, em São Paulo a TV Bandeirantes flagrou policiais militares agredindo um portador de transtorno mental. Na semana que passou, novamente em Manaus, um usuário dos serviços de saúde mental foi agredido por seguranças de um supermercado; a família não quis repercutir o caso pela imprensa amazonense.
Que a Associação Brasileira de Psiquiatria silencie sobre esses fatos era de se esperar. Segundo os rituais em vigência, ela só o faz se provocada oficialmente. Surpreendente é o silêncio dos bons. Esse inquieta e preocupa.
No dia 5 de julho, três adolescentes morreram carbonizadas no Hospital Psiquiátrico da Santa de Misericórdia do Rio Grande-RGS - hospital psiquiátrico de adultos -, onde foram internadas por decisão judicial para tratamento psiquiátrico de dependência de drogas.
Agora foi a fez de Natal-RGN contribuir, vergonhosamente, com mais uma morte no interior do Hospital Psiquiátrico João Machado.
O silêncio deseduca e desorienta o que quer que chamemos de opinião pública.
Neste cenário, os jornais locais podem desempenhar um papel fundamental na defesa da construção da cidadania dos portadores de transtorno mental. Essa deu no Diário de Natal:
Médico denuncia descaso no João Machado
O diretor da Associação Norte-riograndense de Psiquiatria, médico Maurilton Morais, denuncia o descaso hospitalar na morte de um paciente que estava internado no Hospital Psiquiátrico João Machado. Segundo ele, no dia 19 de julho, José Felipe dos Santos, 60 anos, que estava internado há dois meses, foi encontrado morto na quadra da 4ªEnfermaria com queimaduras no corpo devido à prolongada exposição ao sol. A Secretaria Estadual de Saúde Pública abriu sindicância e uma comissão foi formada para investigar o caso. O fato preocupa até mesmo a direção do João Machado, que levou o caso ao Conselho Estadual de Enfermagem. José Felipe dos Santos deu entrada no Hospital João Machado no dia 19 de maio deste ano. Exatos dois meses depois, o paciente foi encontrado morto por familiares da própria vítima numa quadra por trás da quarta enfermaria do hospital. ''O corpo ficou cerca de quatro horas exposto ao sol sem ninguém saber que ele estava morto. O problema é que no João Machado tem muita gente (paciente) para poucos médicos. Acho que está havendo muita propaganda, muito 'diz que vai fazer' e que na realidade pouco se tem evoluído'', reclama Morais. A diretora técnica do João Machado, Fátima Lima, disse que a direção do hospital está preocupada com o caso e afirmou que a primeira atitude foi levar a situação ao Conselho Estadual de Enfermagem e à Secretaria Estadual de Saúde. ''Ele realmente foi encontrado morto e o que sabemos que a causa foi um enfarto. Sem querer justificar a morte do paciente, mas o Hospital João Machado tem uma estrutura antiga de manicômio fechado, com grades e isolamento. Fica difícil controlar todos os pacientes agora que trabalhamos no sistema aberto. Há sim uma carência de psiquiatras, mas que é um problema nacional'', disse.
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