Kehl na velocidade 5
Foi rápido. O Estadão demitiu Maria Rita Kehl do seu quadro de colunistas ontem à noite, quatro dias após a psicanalista escrever um artigo elogiando o governo Lula. Era um tema delicado, já que o grupo Estado havia acabado de declarar apoio à candidatura Serra em editorial, por isso o artigo "Dois Pesos..." foi lido por toda a cúpula da redação antes de ser publicado. Os caciques do jornal concluíram que o texto não tinha nada de mais e liberaram a publicação. Dias depois, porém, quando os acionistas se irritaram e resolveram pedir a cabeça de Khel, nenhum dos chefes teve culhões para bancá-la.Lendo o artigo, é difícil de entender qual foi a linha invisível que Khel cruzou. O texto não tem nada que Luís Fernando Verísssimo ja não tenha escrito. Mas Veríssimo está lá há décadas, é uma grife do grupo Estado, e o mais importante: o filho de Érico começou a escrever no Estadão numa outra época, quando havia muito mais espaço para opiniões diferentes nos jornais.
E nem foi há tanto tempo assim. Há quinze anos, colunistas como Marilene Felinto e o saudoso Aloysio Biondi viviam desancando a Folha de S. Paulo dentro da própria Folha. Hoje, dificilmente algum deles teria espaço no jornal. Vivemos uma época em que a Folha tira site de humor do ar e a Abril demite editor na National Geographic por ousar xingar muito a Veja no Twitter. Já fomos mais plurais — de todos os lados. Quando começou, a Caros Amigos publicava capa com jornalista da Folha e abrigava colunistas que defendiam o capitalismo. Isto também seria impossível de imaginar nos dias que correm. Cada vez mais, parece sobrar espaço apenas para o jornalismo de gueto, feito a reboque de alguma ideologia. Na real, há cada vez menos espaço para jornalismo.
E antes que o primeiro puxassaco de patrão venha dizer que é "normal" veículos demitirem jornalistas com visões diferentes das de seus chefes, como se ninguém tivesse compromisso com a própria opinião ou com a verdade, sugiro dar uma olhada no jornalismo americano. E uma olhada carinhosa neste perfil, bastante critico, feito pelo New York Times do magnata da mídia Carlos Slim: The Reticent Media Baron.
O que tem de mais? Slim, criticado na matéria do New York Times, já era um dos principais acionistas do próprio Times quando o texto foi escrito. A diferença é que lá os editores têm culhões.
Fonte: Boteco Sujo
Aproveito e coloco aqui o recado da filha da Maria Rita, Ana Kehl de Moraes, publicado ontem no Facebook:
Ana Kehl de Moraes CONFIRMADO agora: depois de escrever DOIS PESOS, Maria Rita Kehl foi demitida. O edtior diz que como a noitícia vazou antes da real decisão, ele ficou obrigado a isto. Sabe-se lá. Pra quem quiser falar, sugerir, reclamar, xingar, esse é o email do Estadão: falecom.estado@grupoestado.com.br Eu to fazendo campanha. Bjs
Nota do blog: Leia também o comentário de Luciano Martins da Costa "A última coluna da psicanalista".
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