Sangue na Goela (*)
As próximas 24 horas nos colocam diante de duas Nações brasileiras. Uma delas, voltada para um futuro brilhante, libertando-se das amarras de um Brasil atrasado; outra mergulhada num mar de incertezas, representado por um gigante adormecido onde quem pode mais chora menos. Não há dúvida que o nosso destino será decidido entre as nove e às 17 horas deste domingo, três de outubro. O que virá depois será conseqüência. O principal jornal televisivo, numa coreografia ensaiada com os dois principais Institutos de pesquisa, anuncia que “nem tudo está perdido”, que “nosso futuro é incerto”, e que “nada está decidido”. Não está mesmo! Resta saber qual o instrumento que a grande maioria da população tem para, com justiça, escolher o seu melhor caminho? É pouco compreensível que um presidente da república que, segundo esses mesmos institutos, goza de prestígio espetacular, tenha sua proposta de continuidade e estabilidade econômica e social “esculhambada” pelos veículos de comunicação. A principal peça publicitária, diz respeito a pouca experiência demonstrada pela candidata do governo. Contra isso, um argumento simples pode desmontar a farsa. Ou, uma pergunta: o quê a população efetivamente conhecia, de Fernando Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso? Presidentes que antecederam Lula à frente da Nação. A população conhece hoje Dilma Rousseff, menos ou mais do que os dois à sua época?
Duas questões explicam este momento de incerteza, fabricado pelos principais órgãos de Comunicação:
O primeiro, diz respeito aos números. São 128.805.829 brasileiros, aptos a votar neste domingo (três de outubro) e as pesquisas, quando publicadas, se baseiam no número de entrevistados, o que em si já é uma contradição. É possível dizer com pequena margem de erro que há uma semana ao menos uma, entre duas pessoas já tinha se decidido a votar na candidata de Lula. A razão é que não há dúvida sobre o que poderá acontecer nos próximos anos, com ela presidente. A certeza em cada brasileiro tem sido bem mais robusta, do que àquela às vésperas de se escolher Collor ou FHC. É possível dizer, também, que desses 50% da totalidade dos eleitores brasileiros (64 milhões), somente 10% (12,8 milhões) poderia mudar de opinião em uma semana. Vem daí a pergunta: que fato extraordinário teria acontecido nesses últimos sete dias, que pudesse reverter o quadro de tal maneira para se chegar aos números sugeridos pelas pesquisas nessa noite de sábado? Nada, absolutamente nada, se comparada às barbaridades proferidas pelas revistas e jornais, ou pelo principal oponente ao longo das três primeiras semanas de setembro. A resposta está na forma matreira como tem sido apresentado o resultado das pesquisas, nesses últimos dias. Fala-se, agora, em um percentual sobre os votos válidos. Mas, que bola de cristal nós temos (ou, quem sabe, esses dois institutos tenham) que possa garantir qual será o percentual de comparecimento ás urnas, e o principal, qual extrato social irá se abster, e por qual razão? Trocando em miúdos, os Institutos disseram neste sábado que seis milhões e quatrocentos mil brasileiros aptos a votar, mudaram de opinião como num passe de mágica. Isso, nós vamos conferir dentro de algumas horas.
Segunda questão, e a mais grave - o que transforma esse otimismo, demonstrado pela maioria da população brasileira, numa reprovação beirando a cólera, e que vem alimentando a linha editorial e as centenas de mensagens iradas pela Internet, muitas delas próximas à insanidade? A razão de tamanho ódio, paradoxalmente quando atingimos este nível de otimismo numa população que tem tudo para se considerar vivendo no inferno, é o mesmo mote que transformou a descoberta das riquezas do pré-sal numa disputa sovina, despertando a cobiça dos já endinheirados, e dos pretendentes a novos ricos. Isso assusta, pois esta parcela diminuta pode incendiar um plenário disperso, sem veículos de comunicação, imparciais. Isso explica, também, porque as “denúncias” ligadas ao sigilo fiscal e bancário não colaram. Segundo esta parcela, o vice-presidente do PSDB e a filha de Serra se deram bem. Já no caso de uma hipotética propina de 100 mil reais, do filho (da agora ex-ministra) despertou a revolta escondida, dessa legião dos candidatos a novos ricos. “Por quê, não eu?”. Paradoxal, ainda, que façam uso justamente da moralidade, quando essa moral está muito distante do seu objetivo como proposta de vida.
Esta mesma parcela diminuta e radical é capaz de se organizar, pois parodiando um revolucionário brasileiro morto durante a ditadura - a ação mobiliza. A ação proposta por esta parcela, é destruir, desestabilizar e, se for preciso, matar; e não escrever uma nova história harmoniosa para a Nação Brasileira.
Jair Alves – dramaturgo 03/10/2010
(*) Verso de referência do compositor Gordurinha feito a Rui Barbosa
“E Rui Barbosa, cabra de sangue na goela,
Foi pra Inglaterra ensinar inglês”
Foi pra Inglaterra ensinar inglês”
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