dezembro 04, 2010

Observatório da Imprensa faz balanço da cobertura

PICICA: Alberto Dines dá a cara pra bater com sua abordagem singular sobre o conflito urbano provocado pela cumplicidade entre traficantes "pé-de-chinelo" e os setores corruptos da polícia carioca. Acho problemático o uso da expressão "terrorismo" para tipificar a conduta crimininosa dos "marginais" ligados ao tráfico contra os "marginais" incrustados no aparelho policial. Não surpreenderá se a direita levantar como bandeira a criação de leis anti-terror. Também parece duvidoso que o triunfalismo da mídia seja mero reflexo de uma população cansada de ver o Estado apanhar na luta contra o tráfico, e que viu essa volta por cima como um alívio para o sofrimento das camadas mais pobres do Rio de Janeiro. Há mais coisas entre o céu e a terra do que foi produzido pela cobertura triunfalista (grifo nosso). Uma coisa que não se sabe, por exemplo, é se a classe média aceitaria a invasão do seu território, onde vive uma parte expressiva dos consumidores de drogas. Pode-se argumentar que, neste caso, trata-de apenas de consumidores, como se todo o abastecimento estivesse concentrado nos morros da  cidade maravilhosa. Aliás, digno de nota, foi o reconhecimento de um ex-oficial do BOPE, durante a cobertura da Rede Globo, de que se os usuários deixassem de consumir drogas durante um mês, seria quebrada a estrutura econômica do tráfico. Os usuários agradecem e cobram pelo fim da criminalização a que estão sujeitos. Ora, o reconhecimento de que o consumo é um fato social, deveria ensejar o aprofundamento da discussão da liberação de drogas, taxação da produção através de impostos, oferta de tratamento para o consumidor patológico, medidas que somadas contribuiram para o efetivo desmonte da gigantesca estrutura criminosa que une traficantes a diversos agentes do aparelho de estado.  Foi graças às críticas formuladas à cobertura triunfalista que a mídia passou a incorporar um fato incômodo que estava sendo varrido para debaixo do tapete: são reais as chances das "milícias" terem obtido vantagens com a limpeza de alguns territórios, alterando a geografia do tráfico e abrindo novos espaços para a "venda de serviços". Caso o governo do Rio de Janeiro continue dando mole para a corrupção policial, as ações na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão serviram apenas para salvaguardar o êxito da Copa 2014. Tanto assim, que dada a incompetência governamental, o Exército brasileiro está sendo chamado para garantir a paz nesses territórios. Oxalá a missão não descambe para o cenário que tomou conta do México. Seria trágico. De todo modo, estão aí as críticas de Dines e do seu Observatório da Imprensa, que podem ser vistas aqui e lidas em "O balanço da cobertura".
SrtaObservadora | 3 de dezembro de 2010 | 
Programa sobre a onda de terror tomou conta do Rio de Janeiro a partir de uma série de ataques de traficantes de drogas.

Nenhum comentário: