PICICA: "Aos 35 anos publicou a sua tese de
doutorado com o nome de “História da loucura”, que ao lado de
“Nascimento da Clínica” figuram as primeiras obras do pensador. Nestes
livros, Foucault exerce uma crítica bastante violenta às práticas
psicológicas e questiona o conceito de loucura levantando uma tese que
inaugura por assim dizer o que ele chama de arqueologia das ciências
humanas: não há relações de poder sem a constituição correlata de um
campo de saber, nem há saber que não suponha e constitua, ao mesmo
tempo, relações de poder."
Foucault
Nascido em Poitiers (França) em 15 de
outubro de 1926, Michel Foucault é uma das grandes potências do século
XX em termos de pensamento. Filho de pais médicos, não cede à pressão
familiar e estuda para ingressar na École Normale, onde se interessa
por filosofia e história. Era um estudante tímido e solitário, conhecido
por suas piadas irônicas. Licenciou-se em filosofia na Sorbonne e
depois cursou o Instituto de Psychologie e obteve diploma de Psicologia
Patológica. Poucos anos depois, já lecionava em diversas universidades
pela europa, ja havia escrito para diversos jornais e trabalhado em
instituições psiquiátricas e prisionais, além de participar ativamente
da cena intelectual francesa ao lado de Gilles Deleuze, Jean-Paul
Sartre, Merleau-Ponty, Lacan…
Aos 35 anos publicou a sua tese de
doutorado com o nome de “História da loucura”, que ao lado de
“Nascimento da Clínica” figuram as primeiras obras do pensador. Nestes
livros, Foucault exerce uma crítica bastante violenta às práticas
psicológicas e questiona o conceito de loucura levantando uma tese que
inaugura por assim dizer o que ele chama de arqueologia das ciências
humanas: não há relações de poder sem a constituição correlata de um
campo de saber, nem há saber que não suponha e constitua, ao mesmo
tempo, relações de poder.
Apropriando-se do estruturalismo,
especialmente de Levi-Strauss, Foucault põe em marcha essa arqueologia
em mais dois livros: As palavras e as coisas (68) e Arqueologia do saber
(69). Seu esforço é de mostrar na história as descontinuidades e
rupturas dos discursos para que, dessa forma, possamos ter uma
perspectiva clara de como se deu a constituição de um campo de saber que
se institui como poder.
Em 1970, após alguns anos como
coordenador de um curso de filosofia na Tunísia, Foucault é convidado a
dar aulas no college de France. Sua conferência inaugural é um marco,
considerado por alguns como um divisor de águas na obra do filósofo.
Nesta nova etapa, Foucault se distancia do estruturalismo e abandona
parte do projeto Arqueológico, voltando-se para um projeto chamado
Genealógico. Qualquer semelhança com Nietzsche não é coincidência, os
livros Vigiar e Punir (1975) e o projeto inconcluído de uma História da
Sexualidade (dos 6 volumes planejados apenas 3 foram escritos) se usam
da ideia nietzscheana de uma historiografia da vontade de poder. Os
artigos organizados por Roberto Machado no célebre “Microfísica do
poder” datam desta época. O ponto aqui é desvelar as práticas capazes de
criar discursos de verdade, que são então usadas como técnicas de
dominação. Trata-se de estudar o poder em seu campo da dominação e de
sujeição, atuando nos indivúos.
Os Estados Unidos atraíram Foucault em
função do apoio à liberdade intelectual e em função de São Francisco,
cidade que proporcionou a ele a vida que desejava. Seu libertarismo com
relação à sexualidade e as relações em geral chocaram a sociedade
americana de então. É desta última fase os dois volumes da História da
Sexualidade, dedicados aos Gregos e Romanos, onde aparece ainda um
grande tema da filosofia foucaultiana, a saber, do cuidado de si.
Esta última fase torna-se importante
por contribuir com as lutas por resistência. A busca por criatividade
nas lutas, não porque o ser humano não é livre, mas exatamente por causa
de sua liberdade. Esta última fase trata da “história do presente”, uma
busca por caminhos novos para a subjetividade, resultado de um processo
inventivo e criativo de resistência às técnicas de dominação e
normatização. Produzir novos estilos de vida é um trabalho contínuo de
subjetivação, um campo de tensões aberto para às lutas.
No dia 2 de junho de 1984, Foucault teve
complicações por conta da AIDS, e foi internado. No hospital, recebeu
visitas de grandes amigos, inclusive Deleuze, e teve uma leve melhora.
Mas, devido às complicações, os antibióticos não foram capazes de conter
a infecção no cérebro. Foucault morreu aos 57 anos em Paris, no dia 25
de junho de 1984. O jornal Le Monde anunciou sua morte na primeira
página do jornal e Deleuze leu um trecho da introdução de “Uso dos
Prazeres” em seu funeral.
A vida de Foucault é cheia de anedotas e fofocas, por isso, incluímos aqui uma concisa Biografia Inadequada:
Quando criança Foucault era um ciclista
entusiasmado e adorava jogar tênis. Já era sexualmente ativo ao final de
sua adoelscência, mas guardava segredo quanto à sua orientação
homossexual, por ter medo de sua carreira ser arruinada por escândalos
sexuais. Tinha o apelido de “Fuchs” (Raposa, em francês), por conta de
sua grande inteligência e seu corpo esguio. Com 24 anos, ingressou no
Partido Comunista Francês, mas não costumava ir às reuniões. Cozinhava
muito bem e também bebia bastante. Gostava de dirigir seu Jaguar marrom
em alta velocidade pelas ruas de Paris. Foucault amou lecionar nos
Estados Unidos, lá pode experimentar vários novos tipos de drogas, além
de frequentar clubes de sadomasoquismo e saunas gays. Quando morreu, o
filósofo deixou o quarto volume da série “História da Sexualidade”, cujo
sub-título é “As Confissões da Carne”, para ser publicado postumamente,
ainda estamos esperando.
Fonte: Razão Inadequada
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