PICICA: “Nas ruas o desejo transborda, gritando a
impossibilidade de manter a impossibilidade do real, grafitando de vida
a parede cinza da ordem moribunda. Devemos apostar na rebelião do
desejo. Aqueles que se apegarem às velhas formas serão enterrados com
elas” – Mauro Luis Iasi, Cidades Rebeldes
Junho voltou! [ou, Megaeventos, Meganegócios, Megaprotestos]
- Por Rafael Trindade e Vinícius Lopes
“Nas ruas o desejo transborda, gritando a impossibilidade de manter a impossibilidade do real, grafitando de vida a parede cinza da ordem moribunda. Devemos apostar na rebelião do desejo. Aqueles que se apegarem às velhas formas serão enterrados com elas” – Mauro Luis Iasi, Cidades Rebeldes
O começo de junho passado foi marcado
pelas manifestações da MPL-SP contra o aumento das tarifas em São Paulo.
Fui às manifestações desde o terceiro ato e vi o crescimento
exponencial desde a fatídica quinta-feira, dia 13 (“amanhã vai ser
maior”), até as manifestações/comemorações no dia 19. Vi também o
apartidarismo se tornando antipartidarismo. As pessoas invadiram as ruas
lenvando todo tipo de pautas, direita, esquerda, ditadura, anarquia, e
mais mil coisas. As manifestações cresceram e se multiplicaram, como
Deus mandou. Acredito que vivemos um período de ebulição em nosso país e
mais especificamente em nossa cidade. Com meus modestos 25 anos, nunca
vi nada parecido acontecer.
“Aqueles que são alijados do poder de decisão sobre seu destio tomam esse destino com seu próprio corpo, por meio da ação direta” – Raquel Rolnik, Cidades Rebeldes
O
dia 17 de junho de 2013 presenciou a maior manifestação já vista no
país. Claro, claro, isto é confuso, estranho, misturado, plural. Mas
quer palavra mais bonita para descrever este movimento? Essa pluralidade
usa a cidade como arma para sua própria retomada. Somos uma juventude
que está começando a tomar as ruas; tanto faz se isso acontece aos
tropeços, nos tornamos cada vez mais politizados dia após dia.
Obviamente temos ideias que competem e se contradizem, temos skinheads
batendo em punks e “apartidários” quebrando bandeiras de partido. Temos
que lidar com isso, melhor assim do que as ruas vazias e todos vendo
novela das 8.
“O cotidiano é o campo dos mecanismos de adaptação, e a luta não é a regra” – Mauro Lins Iasi, Cidades Rebeldes
Sendo assim, podemos dizer que são tempos
de exceção: junho está voltando. Praticamente todos os dias da semana
temos uma manifestação acontecendo (elas mais que dobraram):
trabalhadores exigindo seus direitos, reivindicando melhores condições
de trabalho, moradia, transporte, salários, enfim, vida! Não é mais uma
questão de lei, é maior que isso! Nosso modelo representativo está
gasto? Claro! As manifestações dificilmente dão em alguma coisa? Talvez!
Mas estamos nos movendo, agindo, e refletindo sobre nossos atos! A
cidade está fervilhando de ideias! Temos que aproveitá-las.
“Os protestos globais devem servir de lembrança ao fato de que temos a obrigação de pensar em alternativas” – Slavoj Zizek, Cidades Rebeldes
O MTST está ocupando prédios, exigindo
melhores condições de moradia. Guilherme Boulos, representante do
movimento, deu entrevistas em grande emissoras e se reuniu com Dilma
Rousseff. O MPL-SP já está planejando novos atos na capital, buscando
melhorar as condições do nosso transporte. O movimento contra Copa está
nas ruas semanalmente (sendo atacado pelas costas ou não), manifestando
sua indignação por um evento que não traz benefícios para o povo que a
sustenta. Professores saem às ruas. Motoristas, cobradores e
metroviários cruzam os braços e desafiam o sindicato que parece não os
representar. Policiais civis ameaçam entrar em greve na copa. É um bom
momento para pensar e fazer política.
O
que os manifestantes nos dizem? As pautas são claríssimas, mas mesmo
que não fossem, nossos tempos deixam claro a enorme tensão social pela
qual passamos. Nossa cidade é dividida em mil camadas (ou seriam mil
platôs?), a segregação nos atinge por todos os lados. Somos a espécie de
animal que mais aprendeu a abaixar a cabeça! Tomar as ruas é um grito
de reconhecimento (à la Hegel). Mas a pluralidade das indignações é a
expressão pura de uma cidade que está cansada de se encaixar em formas
pré-estabelecidas que a impedem de experimentar vidas novas.
Todo dia, todo santo dia, faça chuva ou
faça sol: acorda cansado, café-da-manhã corrido, condução lotada, ônibus
lotado, metrô lotado, trabalho de merda, almoço caro de merda, trabalho
com tédio e fadiga, café requentado, ônibus lotado, metrô lotado,
lotação obviamente lotada, andar com medo de ser assaltado, chegar em
casa e ver o Datena pra ficar assustado ou William Bonner mentindo na
canal ao lado. Não, não mais…
“E se os problemas de funcionamento do capitalismo, em vez de distúrbios acidentais, forem estruturalmente necessários? Muito se falou da violência por parte dos manifestantes. Mas o que é essa violência quando comparada àquela necessária para sustentar o sistema capitalista global funcionando ‘normalmente’?” – Slavoj Zizek, Cidades Rebeldes
É a primeira Copa do mundo que vejo onde
as ruas não estão pintadas, onde as bandeiras não estão penduradas nas
janelas, onde as camisetas verde/amarelo estão encalhadas nos estoques.
Esta copa será diferente! Mesmo que os comerciais de TV insistam em
colocar uma bola de futebol em tudo (“E amarra o amor na chuteira”), nós
sabemos que nosso país está passando por um momento histórico que vai
muito além da Copa do Mundo. Junho voltou, confesso que estou ansioso,
não pela bola rolando, mas pelos protestos gritando.
Manifesto
Aquilo que se apresenta. Aquilo que está
na consciência. Aquilo que desenha em outras tintas, o que estava
Latente, subentendido, camuflado.
ManifestAção
Ação de tornar tudo manifesto. Vazar em poros aquilo que estava entalado em gargantas de pus.
MAN-i-FESTA
Desocupados adoradores de balburdia.
Micareteiros de rua. Seguidores da moda do protesto. Não sabe o que está
fazendo mas está fazendo e mostrando que está fazendo e logo faz o que
todos estão… fazendo.
MAN-infestaDOR
Qualquer cidadão insatis-feito que
precisa gritar, mesmo que não seja ouvido, as dores que tentam ser
camufladas em seu cotidiano. Qualquer espécie de ser vivo que briga por
alimento, sem ter que sujar os cotovelos em lama mijada pelos poderosos.
Man – in – festança
Plim Plim.
Pro-testar
Testar inúmeras outras vias que não a via já entupida.
Sinônimo: bater a testa inúmeras vezes, até não ter testa. Nem vezes.
Fonte: Razão Inadequada
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