junho 24, 2014

"Movimento nacional chama brasileiros a se unirem a protestos", por Marcela Belchior

PICICA: "Relembrando a intensa adesão popular nas Jornadas de Junho de 2013, a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (ANCOP) compreende que governos, forças policiais, a Federação Internacional de Futebol (FIFA) e grandes empresários vêm tentando criar uma separação entre a população que apoiou as lutas do ano passado e os atos deste mês. "Além dos (as) que estão nas ruas, convidamos a todos (as) os (as) brasileiros (as) a expressarem seus desejos de vitória no futebol e no direito social, perguntamos e lançamos a campanha: que outras vitórias queremos para o Brasil?”, convida a ANCOP, em nota."

Copa 2014




Movimento nacional chama brasileiros 
a se unirem a protestos




Adital

Mídia NINJA

Pouco mais de uma semana após a abertura dos jogos da Copa do Mundo FIFA 2014 no Brasil, que iniciaram no último dia 12 de junho, num contexto de forte repressão e truculência policial aos protestos nas ruas de todo o país, o movimento dissonante ao megaevento chama a população brasileira a se unir aos manifestantes já nas ruas.

Relembrando a intensa adesão popular nas Jornadas de Junho de 2013, a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (ANCOP) compreende que governos, forças policiais, a Federação Internacional de Futebol (FIFA) e grandes empresários vêm tentando criar uma separação entre a população que apoiou as lutas do ano passado e os atos deste mês. "Além dos (as) que estão nas ruas, convidamos a todos (as) os (as) brasileiros (as) a expressarem seus desejos de vitória no futebol e no direito social, perguntamos e lançamos a campanha: que outras vitórias queremos para o Brasil?”, convida a ANCOP, em nota.

A Articulação afirma repudiar o modelo de segurança implementado pelo Estado em nome do megaevento. Segundo o movimento, as cenas de tortura e violência testemunhadas em várias cidades brasileiras serão tratadas com ainda mais questionamentos por parte dos movimentos sociais.

No texto, a ANCOP deixa claro que a luta das vozes dissonantes nunca foi contra o futebol, como parte da mídia comercial hegemônica, governos e empresários divulgam, na tentativa de desqualificar o movimento. A questão, destaca a nota, sempre foi construir uma outra Copa do Mundo, inserida em outro modelo de cidade, onde houvesse interesse político também em conquistas na educação e saúde pública.

Além disso, chama A atenção pelas necessidades de demarcação de terras indígenas, do fim de violência estatal e "limpeza” étnico-racial, do fim de remoções e despejos forçados, de desmilitarização da polícia e contra a criminalização dos movimentos sociais.

"Nós que torcemos, assistimos à privatização do nosso sentimento pela Fifa [Federação Internacional de Futebol]. Mas continuamos torcendo. Torcendo pelas pessoas que ousam pensar diferente e querem explicação dos gastos da Copa, que ousam querer que as pessoas não sejam despejadas de suas casas para se construir estádios. Torcemos para as que ousam querer segurança para crianças e adolescentes contra a exploração sexual, e as que ousam até querer trabalhar e ganhar dinheiro com a Copa!”, expõe a nota.

A ANCOP enfatiza que os questionamentos giram em torno das violações dos direitos humanos e que é possível que os protestos por uma cidade melhor convivam com um campeonato de futebol. "Muitas de nossas lutas nesse período foram justamente para que a Copa não se tornasse de poucos. Lutamos pelo direito ao trabalho nos jogos, pelo livre direito de ir e vir e contra a política de higienização social”, afirma.

Dias de intenso embate

Mídia NINJA

Exatamente um ano após a conquista do Movimento Passe Livre, que alcançou junto ao governo estadual de São Paulo a revogação do aumento de 20 centavos na tarifa de ônibus e metrô, em 19 de junho de 2013, a sociedade civil organizada voltou às ruas paulistanas, levantando, dessa vez, a bandeira da Tarifa Zero na cidade.

"Se a Copa é do Mundo, a cidade vai ser nossa! Tarifa Zero Já!”, dizia jogral feito pelo movimento na Praça do Ciclista. Segundo o coletivo Mídia NINJA, uma marcha reuniu 5 mil pessoas, seguindo pela Avenida Paulista até a Avenida Rebouças, zona nobre e movimentada de São Paulo. Os manifestantes exigiam melhores condições de transporte para todos e a readmissão dos 42 trabalhadores demitidos durante a greve dos metroviários. Sem a presença da polícia, o ato saiu pacificamente pelas ruas.

Na mesma cidade, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) realizou ato mobilizando cerca de 15 mil pessoas. Elas solicitavam urgência na votação do Plano Diretor para a construção de moradias populares. Já em Brasília, capital do país, manifestação nas imediações do Estádio Mané Garrincha contra o genocídio da juventude negra e pela desmilitarização da Polícia Militar (PM) foi reprimida pelo Estado. Ativistas foram proibidos de estenderem faixas com denúncias.

Em Fortaleza, Estado do Ceará, repercutem as arbitrariedades das forças policiais contra midiativistas e manifestantes. Na tarde do último dia 17 de junho, em ato nas imediações do Estádio Castelão, onde ocorreria o jogo Brasil X México, um repórter fotográfico e colaborador do coletivo Na Rua, mídia alternativa, foi agredido por policiais enquanto cobria o protesto.

Na mesma ocasião, um rapaz de 15 anos foi linchado por outros jovens e também por agentes policiais, além de 12 adolescentes terem sido apreendidos e ilegalmente privados de liberdade por quase 24 horas na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA). Dias antes, no ato de 12 de junho, o coletivo midiativista Nigéria, de Fortaleza, teve sua câmera derrubada e tomada por agentes de segurança privada da FIFA Fan Fest e não mais restituída.



Marcela Belchior

Jornalista da ADITAL

Fonte: Adital

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