maio 24, 2006

Imbróglio

Anibal Beça, poeta
Rolou na orkut: imbróglio na cultura manaura. Chico Cardoso, artista e produtor cultural pôs a boca no trombone. Aníbal Beça, poeta, produtor e animador cultural meteu o dedo na ferida. Em causa os rumos da política de cultura do município de Manaus. Só o prefeito Serafim Corrêa foi poupado. Sobrou para o "comando gestor da administração e planejamento" da Prefeitura de Manaus. Leia o comentário do Chico e a resposta do Anibal.

IMBRÓGLIO


Chico: Grande Poeta. Eu não entendo como um homem inteligente como o Sarafa pode concordar com tanta cegueira em relação à cultura. Fui nomeado chefe do núcleo de artes cênicas, por causa da amizade com o Tony, mas fico na dúvida, porque só acredito na revolução cultural se caminharmos no sentido oposto ao do (...) Tô triste e cansado, mas ainda com as armas da criação em punho. Você e sua obra são minha inspiração. Não vamos desistir, Grande Poeta!

Amigos e amigas, está tudo no ORKUT, na página do Chico Cardoso. Para vcs. entenderem, dêem um pulo até à minha página.
Bom final de semana.

Abraço

Anibal


Queridíssimo Chico: Seu scrap me deixou emocionado. Sei que comungamos pela mesma linha de pensamento, ações e afinidades. Há 60 anos (a fazer este ano no dia 13 de setembro), venho me dedicando à causa cultural. O anjo que me apareceu, quando nasci, não me disse que seria gauche pela vida, senão o que trilharia as curvas do caminho, um entortado, maudit, transgressor nato, que não viria para beber, mas imolar-se na sede. Jamais me locupletei com prebendas e sinecuras. Desde sempre, sou e estou filiado a dois partidos: o PP (que não é o do Maluf) Partido da Poesia, esta velha senhora que me acompanha há 40 anos, e ao PC (que não é o comunista) Partido da Cultura. O meu apoio ao Sarafa não foi somente nessa última eleição não. Acreditava que colocando um da nossa geração, teríamos, enfim, um projeto cultural sem assistencialismos populistas, sem cooptações, sem instrumentalização. E isto está consignado na cartilha de sua plataforma eleitoral..

Que, inclusive, tem a minha participação juntamente com o Epitácio Neto, meu querido Pita, e o meu irmãozinho poeta-jornalista Paulo José Cunha. Com a vitória, todos ansiávamos pelo prometido "choque gerencial", em todas as áreas. Mas, infelizmente - não por culpa do Sarafa, mas do comando gestor da administração e planejamento, que, simplesmente, acha que os artistas devem se transformar em micro-empresários, talvez um vezo rançoso do SEBRAE (Vide o "Pequenos projetos, grandes idéias"). Traduzindo: querendo valorar o produto do artista, a obra de arte, como qualquer mercadoria. Quanto custa um poema? Uma apresentação solo de um bailarino? E um espetáculo de teatro? E por aí vai num besteirol sem precedentes. O pior que foram buscar gente completamente alheia, sem nenhuma vivência e conhecimento do ambiente cultural da cidade. Como vc. disse: "pára-quedistas". Sem nenhuma afinidade com a administração, a animação da coisa cultural. Fiquei pasmo com essa invencionice de "corpos estáveis".

Quê que isso, minha gente!!! E pasmem: a idéia, saída e avalizada por pessoa da Academia, com mestrado e doutorado. Como criar corpos estáveis se o município sequer tem um teatro? Melhor seria batizá-lo de "Corpos perambulantes". A não ser que o pessoal integrante estacione junto aos burocratas da Secretaria de Cultura. Outra coisa: Como é que se extingue a Fundação Villa-Lobos, batalha saída do sonho do querido maestro Dirson Costa, sem nenhuma consulta à sociedade, às categorias artísticas organizadas, e o próprio Conselho Municipal de Cultura. Este, aliás, só Deus sabe... O mesmo vale para a criação da Secretaria de Cultura. Nenhum setor ou segmento artístico foi consultado. Propus um Fórum para discutir com os artistas, as universidades, o comércio, a indústria, enfim, a sociedade como um todo, pelo menos as linhas das políticas culturais a serem executadas. Remendando o que deveriam ter feito antes.

Parece até um retrocesso, antidemocrático. Nem no governo do Golpe, com Arthur Reis, isso ocorreu. Vc. Lembra muito bem do I SEMINÁRIO DE REVISÃO CRÍTICA DA CULTURA DO AMAZONAS, que, em ampla discussão, foi aprovada em plenária a criação da FUNDAÇÃO CULTURAL ao invés de uma secretaria de cultura, por que mais ágil, com maior liberdade, que este modelo autárquico oferece. Veja bem, não sou contra a criação da Secretaria de Cultura. Eu ficaria sozinho, vagando pelos nossos rios, se este projeto não fosse realizado. O que eu questiono é a maneira autocrática, de cima pra baixo, que as coisas têm sido feitas. Contrariando o que foi dito nos palanques e escrito na Plataforma Eleitoral. Sabe como a Cultura é tratada pelo primeiro escalão? Como varejo. E, isso, ficou bem claro na Mensagem que o prefeito Serafim Corrêa apresentou à Câmara Municipal. Não dedicou sequer uma linha, em seu discurso, para cultura. Estou completamente gessado, sem pessoal administrativo, sem direito a Internet.

Como vamos nos comunicar com o MINC, com outros conselhos e fundações? Agora mesmo estamos realizando a primeira versão dos PRÊMIOS LITERÁRIOS CIDADE DE MANAUS, um evento de caráter nacional, recebendo inscrições de todo o país, e as dúvidas e as consulta têm sido respondidas por mim, através do meu PC, pela minha linha particular da Vivax. O que me deixa triste, mas não desmotivado, ainda, é como se deixa de dar visibilidade para um projeto desses, de alcance nacional. Nenhuma vinheta, nenhum spot, e a imprensa escrita, principalmente, divulga timidamente. Não por culpa dela, mas por que sequer temos uma assessoria de comunicação. Pleito esperado desde março do ano passado, quando indicamos o nome da jornalista e escritora Leyla Leong, juntamente com mais dois nomes, e mesmo com a nossa insistência junto ao prefeito, até hoje não conseguimos. Por mais de 5 tentativas, o secretário de administração veta. Eu sei aonde ele quer chegar.

Não pense ele que a extinção do Fundo e do Conselho vai ser batalha fácil. Não estou sozinho nesta luta. Anseio de 30 e tantos anos, quando, vc. também participando à frente do Grupo Origem, nos instalamos na Assembléia Legislativa, para assegurar na Constituição Estadual a criação do Fundo Estadual de Cultura (que, felizmente, está se instalando). Foi um belo resultado. Comemoramos muito, lembra-se? Mesmo que só agora saia da letra fria da Constituição. Tardou, mas veio. E da maneira correta, discutida amplamente por mais de 3 meses. Também é motivo para comemorarmos. Pois bem, meu amigo, tem muito mais coisa. Vc. me conhece e sabe dos meus arquivos implacáveis. A paciência tibetana esgotou-se. Nunca imaginei que ganharia de presente, no ano em que comemoro 40 anos de atividade literária, 45 de música e 60 de idade, esse presente indigesto. Não sou eu que mereço respeito, mas todos os artistas, artesãos, literatos que vivem e produzem em Manaus. Ferido, magoado e indignado paro por aqui.

Anibal Beça Posted by Picasa

Nenhum comentário: