Nota do blog: Usuários dos serviços de saúde mental de todo o país, acompanhados por familiares e técnicos de saúde mental, foram a Brasília e no dia 30 de setembro de 2009 realizaram a Marcha dos Usuários por uma Reforma Psiquiátrica Antimanicomial. Foi a maior resposta já dada aos conservadores e inimigos da reforma, que desde 2006 vinham detonando as conquistas do movimento por uma sociedade sem manicômios, ocupando importantes espaços da mídia. Diga-se, de passagem, que o setor conservador só ocupou o espaço da crítica (que lhes interessa) porque deixou-se de ouvir os segmentos (sobretudo os usuários) que, historicamente, ocuparam os espaços públicos para exigir o fim dos manicômios e a implantação de uma rede substitutiva ao modelo manicomial. E não foi por falta de pedido de audiência. Mudamos de estratégia, e graças à força da presença dos usuários em Brasília conquistamos a IV Conferência Nacional de Saúde Mental. Tudo o que queremos é mais respeito com nossas demandas e nossa visão crítica. (Dedico essa postagem para as professoras e alunas das Faculdades Salesianas Dom Bosco, que se dispuseram a abrir espaço para ouvir a história dos caminhos e descaminhos da reforma psiquiátrica no Amazonas, sem se assustar com a radicalidade do discurso desse velho militante das causas im-possíveis, afinal não se pode dar mensagens dúbias quanto ao fim do manicômio).
Está em jogo o saber acumulado pelo movimento social por uma sociedade sem manicômios. Não se pode submeter à disciplina o que não tem governo, sob pena de levar água para outros moinhos. Há muito perdemos a virgindade política.
Na tarefa de edificação de uma sociedade sem manicômios, as contradições não precisam ser apagadas. Tampouco mascará-las. É preciso aprofundá-las, sem medo de ser feliz.
Acaso teme-se com o aprofundamento das contradições o surgimento da divisão? Ora, ora! A divisão é um fato. Ao criarmos uma nova ideologia – a de uma sociedade sem manicômios –, quem assegura o restabelecimento da unidade? A ruptura com o manicômio não é fruto de mera retórica, mas da reversão da escala de prioridades. Assim como não estamos autorizados a fazer o que quisermos, também não podemos nos deixar levar pela idéia de que aos inimigos da Reforma interessam novas formas de gestão da Saúde Mental. Ora, pois!
Manaus, Abril de 2010.
Rogelio
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com
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