PICICA: "Que filme bosta! Disse
um velhinho após o fim da sessão de Avanti Popolo. Arretado! Era o que eu
pensava quando o filme acabou. Reações exacerbadas a parte, Avanti Popolo talvez
seja “o” filme político brasileiro, aquele que não tenta ser Godard ou Glauber.
Mas aquele que é escondido em si, expressando-se aos poucos e lentamente
alcançando o espectador."
Avanti Popolo
Que filme bosta! Disse
um velhinho após o fim da sessão de Avanti Popolo. Arretado! Era o que eu
pensava quando o filme acabou. Reações exacerbadas a parte, Avanti Popolo talvez
seja “o” filme político brasileiro, aquele que não tenta ser Godard ou Glauber.
Mas aquele que é escondido em si, expressando-se aos poucos e lentamente
alcançando o espectador.
Dirigido por Michael
Wahrmann e estrelado pelos atores Carlos Reichenbach e André Gatti, Avanti
Popolo não possui um enredo propriamente dito, o básico é: Após anos, filho (Gatti) volta a
morar com o pai (Reichenbach) e sua cadelinha. Sendo um relacionamento pouco
amigável, os diálogos entre ambos são raros. Filmes em Super 8mm permeiam o
restante da narrativa, esses sendo imagens dos protagonistas nos anos 60 e 70.
Avanti
Popolo é um
filme meditativo sobre a insistência do passado em se manter presente e
como o procuramos com o intuito de reatar laços há muito perdidos. Essa
busca também é
enfatizada pelo desaparecimento do irmão, durante a ditadura militar. O
Super 8
é a memória persistente, escondida na casa que sofre da ação do tempo.
As
leituras são diversas e variadas.
Além disso, o filme é um exercício de
metalinguagem sobre a manipulação e o papel que a imagem exerce em nós. Em cena
chave, o filho leva o projetor para conserto e acaba descobrindo que o técnico
é cineasta e fundador de um dogma, que só tem ele como membro. Esse diálogo é
facilmente a cena mais memorável do filme, é quando ele encontra seu sentindo.
Ressaltando todo o percurso da narrativa até então, a cena é uma provocação
direta ao espectador sobre o papel do cinema em nossas vidas.
Os comentários políticos do filme são sutis e
reflexivos, ganhando força com os segmentos narrados pelo próprio diretor. Onde
ele, através de associações livres e poéticas (Sem soar pretensioso), traça
comentários que podem ser interpretados tanto como sendo sobre a narrativa,
como sobre o subtexto do filme. Aqui, não há cinema propagandista idiota,
também não existem jogos de montagem para a defesa de teses políticas.
O final do filme é um
dos mais bonitos dos últimos tempos. Sem apelar para o sentimentalismo, Wahrmann
consegue dar um fechamento político e humano a sua história de maneira simples
e direta (diferentemente do resto do filme). Para esse cinéfilo, Avanti Popolo
é cinema que une em sua melhor forma. Merece ser visto, especialmente em épocas
de Ocupe Estelita e de eleições para presidente.
Música pra acompanhar:
Fonte: Blow Up Now
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