julho 14, 2014

"Avanti Popolo" (Blow Up Now)

PICICA: "Que filme bosta! Disse um velhinho após o fim da sessão de Avanti Popolo. Arretado! Era o que eu pensava quando o filme acabou. Reações exacerbadas a parte, Avanti Popolo talvez seja “o” filme político brasileiro, aquele que não tenta ser Godard ou Glauber. Mas aquele que é escondido em si, expressando-se aos poucos e lentamente alcançando o espectador."

Avanti Popolo



Que filme bosta! Disse um velhinho após o fim da sessão de Avanti Popolo. Arretado! Era o que eu pensava quando o filme acabou. Reações exacerbadas a parte, Avanti Popolo talvez seja “o” filme político brasileiro, aquele que não tenta ser Godard ou Glauber. Mas aquele que é escondido em si, expressando-se aos poucos e lentamente alcançando o espectador.

Dirigido por Michael Wahrmann e estrelado pelos atores Carlos Reichenbach e André Gatti, Avanti Popolo não possui um enredo propriamente dito, o básico é: Após anos, filho (Gatti) volta a morar com o pai (Reichenbach) e sua cadelinha. Sendo um relacionamento pouco amigável, os diálogos entre ambos são raros. Filmes em Super 8mm permeiam o restante da narrativa, esses sendo imagens dos protagonistas nos anos 60 e 70.

Avanti Popolo é um filme meditativo sobre a insistência do passado em se manter presente e como o procuramos com o intuito de reatar laços há muito perdidos. Essa busca também é enfatizada pelo desaparecimento do irmão, durante a ditadura militar. O Super 8 é a memória persistente, escondida na casa que sofre da ação do tempo. As leituras são diversas e variadas.

 Além disso, o filme é um exercício de metalinguagem sobre a manipulação e o papel que a imagem exerce em nós. Em cena chave, o filho leva o projetor para conserto e acaba descobrindo que o técnico é cineasta e fundador de um dogma, que só tem ele como membro. Esse diálogo é facilmente a cena mais memorável do filme, é quando ele encontra seu sentindo. Ressaltando todo o percurso da narrativa até então, a cena é uma provocação direta ao espectador sobre o papel do cinema em nossas vidas.

 Os comentários políticos do filme são sutis e reflexivos, ganhando força com os segmentos narrados pelo próprio diretor. Onde ele, através de associações livres e poéticas (Sem soar pretensioso), traça comentários que podem ser interpretados tanto como sendo sobre a narrativa, como sobre o subtexto do filme. Aqui, não há cinema propagandista idiota, também não existem jogos de montagem para a defesa de teses políticas. 


O final do filme é um dos mais bonitos dos últimos tempos. Sem apelar para o sentimentalismo, Wahrmann consegue dar um fechamento político e humano a sua história de maneira simples e direta (diferentemente do resto do filme). Para esse cinéfilo, Avanti Popolo é cinema que une em sua melhor forma. Merece ser visto, especialmente em épocas de Ocupe Estelita e de eleições para presidente.

Música pra acompanhar: 



Fonte: Blow Up Now

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