julho 05, 2014

"Resenha – Clube da Luta", por Rafael Trindade

PICICA: "Tyler Durden: Somos uma geração sem peso na história, cara. Sem propósito ou lugar. Nós não temos uma Grande Guerra. Nem uma Grande Depressão. Nossa Grande Guerra é a guerra espiritual… nossa Grande Depressão são nossas vidas. Todos nós fomos criados vendo televisão para acreditar que um dia seríamos milionários, e deuses do cinema, e estrelas do rock. Mas nós não somos. Aos poucos vamos tomando consciência disso. E estamos muito, muito revoltados.”" 

Resenha – Clube da Luta

 
96894_Papel-de-Parede-Clube-da-Luta-Fight-Club--96894_1680x1050

As regras do Clube da Luta:
  1. Você não fala do clube da Luta;
  2. Você NÃO fala do Clube da Luta;
  3. A luta só acaba quando alguém disser “pare” ou perder os sentidos;
  4. Só duas pessoas em cada luta;
  5. Uma luta de cada vez;
  6. Sem camisa, sem sapatos;
  7. As lutas duram o tempo que for necessário;
  8. Se esta é a sua primeira noite no Clube da Luta, você tem que lutar.
Quebrando as duas primeiras regras, pretendo fazer uma análise deste filme que tanto me marcou. Lançado em 1999, o filme traz Edward Norton (narrador), no papel de um americano de classe média com uma vida medíocre e sem perspectivas, e Brad Pitt (Tyler Durden), representando tudo que o narrador quer ser mas não tem coragem. Adaptação do livro de Chuck Palahniuk, Clube da Luta é uma Ode contra a nossa grande depressão atual: nossas vidas:
Tyler Durden: Somos uma geração sem peso na história, cara. Sem propósito ou lugar. Nós não temos uma Grande Guerra. Nem uma Grande Depressão. Nossa Grande Guerra é a guerra espiritual… nossa Grande Depressão são nossas vidas. Todos nós fomos criados vendo televisão para acreditar que um dia seríamos milionários, e deuses do cinema, e estrelas do rock. Mas nós não somos. Aos poucos vamos tomando consciência disso. E estamos muito, muito revoltados.”
Esta é a razão de ser de todo filme, todos os personagens vivem a grande depressão espiritual de uma época perdida em entorpecimento e comerciais de televisão, eles sentem isso, mas não conseguem se libertar. Viramos escravos das revistas de beleza, carros, móveis. O filme inteiro é um grito de protesto, não queremos mais a sua arte, as suas ideias, o seu ideal de perfeição! Um grande Sim! está por trás de cada soco que quebra um dente ou põe um homem inconsciente. O grito é em nome da algo maior, mas para criar algo no lugar, é preciso destruir antes.
Tyler Durden:Você não é seu trabalho. Você não é o quanto de dinheiro tem no banco. Você não é o carro que dirige. Você não é o conteúdo da sua carteira. Você não é a porra da sua (calça) caqui”
Como chegar ao fundo? Esta é a pergunta, para ser livre é preciso antes chegar ao fundo, livrar-se de tudo que impeça o movimento, liberdade, deixar as coisas que não importam realmente fluírem. “as coisas que você possui, acabam possuindo você“. Estamos presos a emprego, família, amigos, posição social, contas…

O filme tem um sentido muito afirmativo, basta ter coragem para perceber. “Sem dor, sem sacrifício, não teríamos nada“, tudo que Tyler quer é criar algo novo, dar um novo sentido, ter a capacidade de sentir o mundo novamente, experienciá-lo como nunca antes, “este é o melhor momento de sua vida, e você o está perdendo em outro lugar“. Ele busca a liberdade, não a que nos vendem, mas a uma liberdades que podemos sentir como tal. Estamos entorpecidos, este é o diagnóstico, como superaremos a nós mesmos? Convenhamos, não temos tempo a perder, “em uma linha de tempo longa o bastante, a taxa de sobrevivência de todos cai pra zero“, e as saídas de emergência nunca são confortáveis.

Tudo que nos venderam se deteriorou e agora não temos nada, eram sonhos falsos e não temos como voltar para o útero de nossa mãe pedindo segurança e conforto, também não há mais Deus para o qual rezar. “Você precisa considerar a possibilidade de Deus não gostar de você, nunca o quis, e muito provavelmente ele te odeia. Não é a pior coisa que poderia acontecer“, não há nada de errado, estamos cansados de sua teologia e seus ideais. O prazer se encontra na luta, e é impossível isso não ficar mais óbvio que em Clube da Luta. Nos alimentamos de nossos medos, nos alimentamos do desconforto, crescemos e nos tornamos melhores: “Antes você precisa saber, não temer, que um dia você vai morrer“. A possibilidade da morte como combustível para a vida. Só assim, usando o medo e a dor como combustível, a possibilidade de mudança se torna real.

tn_RaymondKHessel

Tyler: “Amanhã será o dia mais bonito da vida de Raymond K. Hessel. Seu café da manhã será melhor que qualquer refeição que você e eu jamais provamos”

A possibilidade de morte, por exemplo, é o que dá vida para Raymond K. Hessel: tenho certeza, nunca provaremos um café da manhã tão bom quanto o dele. Esta é a intenção de Tyler, “Sem medo. Sem distrações. A habilidade de deixar aquilo que não interessa verdadeiramente passar“. Deixar para trás tudo que atrapalha, deixar para trás a falsa liberdade que te venderam na TV, e procurar sua legítima forma de ser livre. “Quanto mais você descer, mais alto vai voar“.
Sejamos um pouco como Tyler, aliás, façamos como o Narrador e deixemos o que há de Tyler em nós mostrar um pouco o caminho. “Eu não quero morrer sem cicatrizes”; ainda não sabemos do que somos capazes, e muitos morrem sem nunca saberem! Ainda não chegamos ao fundo do poço e só assim seremos verdadeiramente livres, só assim encontraremos nosso verdadeiro caminho. Mas sabemos de uma coisa, derrubamos Ídolos, deixamos de lado a perfeição (“um momento é o máximo que você pode esperar da perfeição“). Queremos a vida intensa, não a promessa da vida intensa (veja: a mediocridade do caminho do meio), Tyler nos deixou algumas diretrizes importantes, mas antes, temos que chegar ao fundo:
Projeto Caos:
  1. Você não faz perguntas;
  2. Você NÃO faz perguntas;
  3. Sem desculpas;
  4. Sem mentiras;
  5. Você precisa confiar no Tyler.
5370288857_9265d9c0db_z


Fonte: Razão Inadequada

Nenhum comentário: