abril 25, 2008

Brasil deve aprender com epidemia de dengue no Rio

Aedes aegypti
09-04-2008 - Entrevistas - Brasil deve aprender com epidemia de dengue no Rio

O pesquisador-titular da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz Paulo Sabroza, um dos maiores epidemiologistas especializados em endemias como a dengue do Brasil, alerta que o país deve aprender com a atual situação carioca. Em entrevista ao Informe Ensp, Sabroza destaca que a epidemia de dengue no Rio era prevista e analisa diversos pontos negativos que devem ser considerados. Para evitar novas epidemias, ele ressalta a urgência da implantação de uma política de saneamento mais eficaz, de uma política habitacional e da regularização do abastecimento de água no município do Rio de Janeiro. "Só quando reduzirmos a vulnerabilidade socioambiental e a injustiça social na ocupação do espaço urbano começaremos a resolver o problema da dengue", destaca Sabroza.

Por que o Rio de Janeiro está passando por essa situação caótica em razão da epidemia de dengue?
Paulo Sabroza:
O município do Rio de Janeiro vem passando pela sua mais grave epidemia de dengue, caracterizada pela reintrodução do tipo 2. Certamente, esta não foi a maior epidemia, se considerarmos o número de casos. Nos anos em que ocorreram as introduções de um tipo novo do vírus - o tipo 1 em 1996, o tipo 2 em 1991 e o tipo 3 em 2002 -, foram registrados muito mais casos. A gravidade da epidemia atual decorre das mudanças no padrão epidemiológico dos casos, com a ocorrência de grande número de casos graves em crianças menores de 14 anos e elevada mortalidade. Decorre também da incapacidade das ações de saúde, no município do Rio de Janeiro, de prevenir a instalação da epidemia, de conter a difusão do processo epidêmico. Essas ações de saúde não conseguiram nem mesmo impedir a mortalidade excessiva pela doença.

A crise da dengue no Rio de Janeiro podia ser prevista a partir de dois indicadores registrados no ano de 2007: a ocorrência de muitos casos graves, particularmente em crianças, pela circulação da dengue tipo 2 na região Nordeste; e a persistência de bolsões de transmissão elevada de dengue tipo 3 em algumas áreas da cidade, nos anos seguintes à grande epidemia de introdução do tipo 3 de 2002, mostrando que o potencial de transmissão havia se mantido e a constatação de índices de infestação pelo vetor eram elevados em diversos pontos da cidade.

Como, em 2007, já estavam sendo isolados casos do tipo 2 no Rio de Janeiro e, na cidade, persistiam as condições socioambientais que favorecem à transmissão do vírus, podia-se anteceder um grande risco da epidemia. A epidemia poderia não ter ocorrido em 2008, mas, certamente, ocorreria nos anos seguintes. Mesmo assim, a crise não foi evitada.
Outra grande preocupação decorrente desta epidemia é com a possibilidade de difusão do processo epidêmico pelo tipo 2 para outras áreas do estado do Rio de Janeiro e para outros estados como ocorreu após todas as três grandes epidemias anteriores. A repetição do padrão de mortalidade elevada e muitos casos graves em crianças pode ser ainda mais desastroso em regiões com menor acesso aos serviços de saúde e menor disponibilidade de profissionais capacitados para atendimento das formas graves da dengue.

Leia a entrevista na íntegra. Acesse Amazônia Fiocruz
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