abril 29, 2008

Moradias assistidas: um desafio para a Reforma Psiquiátrica no Amazonas

Foto: Rogelio Casado - Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, Manaus-AM, 1980

Reforma Psiquiátrica nos anos 1980 - Essa é a imagem do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro do início dos anos 1980, logo depois que um grupo de jovens psiquiatras, liderados por Silvério Tundis, denunciaram a complexa relação entre violência e corrupção admistrativa. Cerca de 160 pessoas conviviam num espaço insalubre, submetidos ao ócio químico.

Desfeita a promiscuidade entre interesses públicos e privados (o diretor do hospital psiquiátrico era proprietário da única clínica privada que mantinha cerca de 120 leitos psiquiátricos), muita água rolou debaixo da ponte: a clínica privada seria fechada; a maior parte do pessoal ali internado passou a fazer tratamento ambulatorial no hospital psiquiátrico, e uma minoria necessitou internação por um breve período; um pavilhão aberto passou a servir como alojamento dos internos de longa data: estes participaram de um trabalho agrícola remunerado, que produzia, no auge do seu desenvolvimento, 1 tonelada de verduras/mês (para esclarecimento da jovem psicóloga que anda distorcendo a história desse período na mídia local: o Grupo de Agricultura foi criado na minha gestão como Diretor Clínico, no início de 1980, e desapareceu logo depois que fui convidado a me retirar do hospital psiquiátrico por um movimento corporativista da minha própria categoria, o que aconteceu no final dos anos 1980).

Até que se perdeu o bonde da história! Nos anos 1990, o que restou do primeiro período da Reforma Psiquiátrica no Amazonas restringiu-se à vertente desospitalizadora: atualmente existem apenas 46 internos de longa permanência (longe da realidade de muitos hospitais psiquiátricos de outras regiões brasileiras). No entanto, suas demandas ainda carecem de acolhimento nos novos dispositivos legais previstos na legislação vigente, seja federal ou estadual. Aqui, não me refiro apenas aos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial para cuidados intensivos, semi-intensivos e não-intensivos de pessoas em sofrimento psíquico), mas aos Centros de Convivência (para a prática de esportes, arte e programas de geração de arte) e as Moradias Assistidas ou Serviços Residenciais Terapêuticos (para os internos de longa permanência hospitalar).

Reforma Psiquiátrica nos anos 2000 - Essa história está sendo escrita. Parte dela pode ser encontrada no site PICICA - Observatório dos Sobreviventes, que brevemente estará se transformando num portal. Muitos são os que se apropriam da linguagem dos militantes da Reforma Psiquiátrica brasileira, poucos os que têm uma prática coerente, pautada para além da ética da tutela.

Longe desse cenário camaleônico, desponta no Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro o trabalho da Terapeuta Ocupacional Márcia Maria Gomes de Souza e sua equipe, responsável pelo processo de transição da saída dos internos-residentes para as moradias assistidas, sobre o qual venho publicando uma série de artigos no Jornal Amazonas em Tempo, às quartas-feiras, todos reproduzidos neste blog .

Para entender o contexto em que se move o trabalho de Márcia Maria, convido o(a) leitor(a) a ver as imagens e ler as próximas postagens. Por elas é possível se situar num dado período da história da Reforma Psiquiátrica no Amazonas. Trata-se de um trabalho coletivo produzido para as comemorações do Dia Nacional de Luta Antimanicomial de 2004. Publicá-lo é resgatar eventos que simbolizam uma época. Afinal, sem visão histórica é impossível compreender a atuação dos atores que se deslocam no cenário político da luta por uma sociedade sem manicômios, para o Bem e para o Mal (desculpa aí Maniquel!).

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