LAÇO LASSO
Aníbal Beça ©
“Ouvir de novo a tua voz seria Matar a sede com água salgada”.
Herberto Helder
“Boca ó minha delicia meu néctar eu te amo“
Gillaume Apollinaire
Punhais de nuvens descem com os ventos
Desembainhados para lívios lábios
Abrindo à fuga o fogo do momento
Seda e linho se atiçam nesse acaso
Para a chuva de sílaba imanente
Regando a pele fina que se enlaça.
Úmido aço no laço sem tormento
Desfaz todos os nós toda trapaça:
Molhado lambe a língua rio fluente.
A porta se escancara e tudo passa
Sem grãos medindo a hora nua ausente
Enquanto mãos caçando viram caça.
A fala dos afetos frente a frente
Derrete-se ao veludo das palavras
E vai esvaziar o véu silente.
Nervura calipígia denso espasmo
Revira persiana iridescente
Raio de íris fremente em mar de pálpebras.
Estrela negra rompe o mar cadente
Rútila brilha a lira acalentada
No arpejo umidamente da vertente
Suor falaz dos poros pelos flancos
As mãos soletram montes num poente
De um sol mormaço rubro caligráfico
Escrita em arrepio abstinente
A ausência se estertora em ímã sáfico
Um hino de atração soa dolente.
Dois lábios que se encontram num abraço
São asas de avoantes reticentes
Mas sabem do selvagem no céu vasto.
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