setembro 22, 2008

Caboco Tranca-Rua: Nu e Cru

Foto: Rogelio Casado - Democratização da UA - Manaus-AM, Anos 1980

Da dir. para a esq.: João Pedro, Arminda Mourão, Edson Ramos, Falcão Vasconcelos, Andrea Alanis, José Ribamar Bessa Freire, Omar Aziz. No fundo, à dir.: Marilene Corrêa da Silva. Ao centro: Octávio Hamilton Botelho Mourão e João Bosco Araújo. E ainda: Narciso Lobo, Otoni Mesquita e Elenise Scherer.

TAQUI PRA TI

CABOCO TRANCA-RUA: NU E CRU

José Ribamar Bessa Freire

21/09/2008 - Diário do Amazonas

Sr. Djalma Castelo Branco,

Saudações


Escrevo essa carta, mas não repare os senões, para dizer o que penso sobre o texto publicado aqui, domingo passado. Nele, você se expõe, exibe as credenciais e aparece nuzinho. Nu e cru. Por isso, publiquei-o na íntegra também no meu site, embora isso não me fosse solicitado, para que o leitor conheça esse auto-retrato. Efetivamente, o texto informa muito mais sobre o autor do que sobre o tema. Nesse sentido, a escrita é mesmo a foto de quem escreve. Basta tão somente revelar essa foto.


Vou recapitular pro leitor que está pegando o bonde andando. Cachaceiro e leviano. Dessa forma você tratou o presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas, Francisco Auzier Moreira, num programa local de tv, porque o desembargador defendeu os interesses públicos – a liberação de uma rua – contra os interesses privados de quem se auto-intitula dono da rua. Você agrediu um magistrado honrado, o Tribunal de Justiça, os ambientalistas e a sociedade amazonense. A coluna, em solidariedade ao juiz e aos ambientalistas, puxou tua orelha e te chamou de Caboco Tranca-Rua (31/08).


Ah, Margarida, pra quê! Contrariado, você ameaçou me processar diz-que por danos morais. Assustei: será que, sem querer, te desmoralizei? Nos últimos 25 anos, assinei 700 artigos e NUNCA fui processado. Opino, ironizo, debocho, satirizo, cobro, brinco, rio, me emociono e manifesto indignação sempre sobre condutas públicas, mas jamais ataquei a honra pessoal de ninguém. Nunca chamei quem quer que seja de cachaceiro, canalha, escroque, corno, viado, pulha, covarde. Meus artigos não usam tais palavras. Não ofendo. Argumento. Por isso, pergunto: quais os danos morais que te causei?


Você responde escrevendo que sou “um caluniador contumaz, daqueles que compram briga aqui e acolá pelo puro prazer de saciar seus instintos bestiais”. Qual foi a calúnia? Você diz: “Calunia-me, tenta me difamar, chamando-me de forasteiro. Chamar de forasteiro um caboclo nascido em Paiuni (...) é querer tripudiar sobre cidadãos de bem. Somente um canalha pode agir assim. Você vai ter que provar o que falou (...) Vou te processar. Quero que proves, seu canalha covarde (...) seu escroque” .

O forasteiro


Deixa de ser leso, rapaz! Onde é que reside a canalhice em chamar alguém de forasteiro? Forasteiro não é ofensa moral, é uma simples descrição. Vai lá no Aurélio. Forasteiro é quem vem de fora. Quando você diz que nasceu em Pauini e que mora em Manaus, está assumindo a sua condição de forasteiro, porque veio de fora. Isso não constitui insulto. A bióloga Elisa Wandelli, ambientalista que defende a cidade, efetivamente é uma doce e corajosa forasteira, a quem Manaus muito deve. Aliás, o Brasil foi feito assim: por forasteiros. O que seria o Amazonas sem os arigós? O que seria Manaus sem essa cabocada maravilhosa que vem do interior?
Mas você, Tranca-Rua, que sabe que o buraco é mais em baixo, escreve: “O canalha dessa coluna mora fora de Manaus, em Icaraí, Niterói, no Rio. É, pessoal, o ‘boca suja’ não mora em Manaus. É mais um forasteiro que vive da mentira”... Rapaz, você, além de descobrir a pólvora, acende vela pra Santa Etelvina. Sou forasteiro no Rio, mas não em Manaus, da mesma forma que você é forasteiro em Manaus, mas não em Pauini. Ficamos combinados assim?


Não é crime morar fora da cidade natal. Astrid Cabral, grande poeta nascida em Manaus, que mora no Rio, cantou: “não sou eu que vivo em Manaus, é Manaus que vive em mim”. Fisicamente, estou fora de Manaus, mas minha cabeça e meu coração vivem permanentemente aí. Escrevo sobre Manaus, respiro Manaus, sofro os problemas de Manaus, as agressões ambientais contra a cidade me afetam, porém o contrário não é crime. Você, por exemplo, vive ai e, em vez de Pauini, sonha com Miami. Isso também não é crime. No máximo te transforma de Caboco Tranca-Rua em Hybrid Shut-Street.


O dono do Tribunal


O nosso Shut Street atribui a mim exatamente o que ele faz comigo, com o juiz e com os outros: ofensas. Quatro vezes me chama de canalha, depois de escroque, covarde e até mesmo de forasteiro, que para ele constitui um insulto. Atrapalhado com as palavras, exibe um raciocínio confuso e acaba atacando – ele mesmo - sua própria honra. Todos os insultos com os quais me brinda se voltam contra ele como um bumerangue. Devia se autoprocessar por danos morais causados à própria pessoa.


Os fatos a que me refiro são de domínio público e foram registrados pela mídia. Ele derruba os postes de uma rua, bloqueia pistas, decepa árvores, esmurra o diretor do Implurb, espanca o advogado Abdala Sahdo, agride verbalmente o presidente do TJA, parece possuído pelo capiroto, me esculhamba com palavras que nunca uso e quem tem instintos bestiais sou eu, que nunca dei tapa em uma mosca? Qua-qua-ra-qua-quá! Freud chama isso de projeção - um processo defensivo através do qual as imagens interiores se projetam em outras pessoas. Éguate. Eu einh, Rosa!


O Tranca-Rua se comporta, como se fosse o dono do Tribunal, acha que o TJA existe para servir aos seus interesses. Recentemente, teve o topete de entrar com uma representação no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), questionando a posse do desembargador Hosannah Menezes na presidência do TJA. A representação foi, evidentemente, arquivada. O Tranca-Rua não pertence ao Poder Judiciário, a informação que tenho é que sequer concluiu o curso de Direito na Nilton Lins. Agora, entrou com uma ação por danos morais contra mim (001.08.2366651-0).


Taí. Essa eu pago pra ver. Será altamente revelador saber qual o juiz que vai condenar alguém por estar defendendo o Tribunal, seu presidente e o Judiciário. Isso sem nunca ter tocado na honra do sr. Tranca-Rua, a quem não conheço. Se por acaso um magistrado te desse ganho de causa, meu caro Tranca-Rua, ele estaria assinando um documento dizendo que ele é TEU juiz e não juiz da sociedade. Será um enorme prazer recorrer de tal decisão. Era só o que faltava para o meu curriculum vitae. Vou aparecer, outra vez, no New York Times.


Não vou responder o que o Tranca-Rua diz sobre minha atuação como professor. Alguns ex-alunos já o fizeram (http://www.taquiprati.com.br/). Quanto ao meu anti-jornalismo porque não ouvi o outro lado, o galo cantou, mas o Tranca-Rua não sabe aonde. A coluna é de opinião, não é uma editoria de notícias. Aliás, o Tranca também não ouviu o outro lado, nem a mim, nem aos ex-alunos. Ainda é tempo, Tranca-Rua. Te arrepende de teus pecados e conquista tua paz interior. Caso contrário, vai cheirar teu pé ou catar coquinho.


P.S. – Não vou mais responder ao Tranca-Rua, o que não significa que renuncio ao direito de criticá-lo se continuar trancando ruas. Agora, só converso com ele na Justiça. O cangaceiro do Glauber Rocha tem razão: “O cangaceiro cansou. Cansou não porque lhe faltasse forças para enfrentar o seu adversário, mas porque não podia mais respeitá-lo, considerando que é terrível gastar tanta energia com o que não evolui nem engrandece”.

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