setembro 26, 2008

Eleições Municipais e Saúde Mental (VIII)

Foto: Rogelio Casado - Coral Viva Voz da Associação Chico Inácio - Manaus-AM, out. 2006

Nota do blog: Antes do governador Eduardo Braga sancionar a Lei de Saúde Mental no dia 10 de outubro de 2007, no ano anterior a Associação Chico Inácio marcava presença, com o seu Coral Viva Voz, na Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas, pela comemoração do Dia Mundial de Saúde Mental (foto acima).

Eleições Municipais e Saúde Mental (VIII)

Houve um tempo, nesta cidade, em que as pessoas com transtorno psíquico foram reduzidas a viver sob o ócio químico do modelo de assistência baseado no hospital psiquiátrico. Carmem “Doida” era exceção à regra.

Em nome da humanização dos serviços, a emergência dos ambulatórios medicalizadores, que passaram a existir em Manaus a partir dos anos 1970, continuaria, de modo asséptico, a interditar desejos e seqüestrar a palavra, mantendo-os outra vez sob silêncio químico.

Daí porque a bandeira da humanização não se sustenta diante da evidência de que o lugar do louco continua aprisionado numa visão manicomial que prescinde de muros: bastam medicamentos tarja preta usados, de modo distorcido, na domesticação dos sujeitos e seus desejos. Bem administrados, reconhecidamente têm méritos, especialmente se acompanhados da escuta qualificada, quase sempre ausente nas práticas desse “mundo manicomial”.

Já se disse que não há desinstitucionalização da loucura sem novos saberes, novos fazeres, um novo olhar. Por todo o país eles estão em construção, comprometidos com a produção de mais vida e com a geração de redes de inclusão, baseados na ética da luta por uma sociedade sem manicômios.

Em Manaus, essa revolução cultural do imaginário social começou a ganhar contorno nos idos dos anos 1980 através de um trabalho agrícola remunerado para cerca de trinta internos do hospital psiquiátrico, tendo como perspectiva um novo cuidado em saúde, no qual o objetivo estava centrado nos ganhos de autonomia e de vida para seus usuários.

Nem a aliança entre o espírito provinciano e a prática do corporativismo foi capaz de calar os novos discursos oriundos das práticas antimanicomiais. A pequena e corajosa Associação Chico Inácio – filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial – é um dos emblemas desse compromisso com novas possibilidades desejantes, sob a ética da proteção das redes sociais inclusivas. Entretanto, os candidatos à Prefeitura continuam ignorando essa voz. Até quando?

Manaus, Setembro de 2008.
Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com

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