setembro 29, 2008

Gilson Carvalho e a regulamentação dos mercados financeiros

BOA SEMANA PARA TODOS:

Sou um pediatra com foco em saúde pública geral e metido a palpitar na área de economia em saúde. Não me atrevo a fazer uma análise da situação atual da economia americana, por falta de competência. Faço coro com o sentimento dos povos diante desta crise. Mais uma vez capitalistas defendem um capital sem risco. Na hora em que se aproxima o risco, o capitalismo não pede, mas, exige medida socialista. Apelam para a solidariedade e com o sacrifício de todos para salvar alguns.

Parecia longe... mas, já tivemos o nosso PROER TUPINIQUIM E NÃO FAZ TANTO TEMPO ASSIM. Na mesma época queríamos um PRÓ-SUS para salvar o SUS e... não conseguimos até hoje.

Vivemos num país onde o setor bancário, de investimento ou comercial, vem batendo recordes e mais recordes de faturamento e lucro. Vamos nos mesmos caminhos dos falidos americanos? Taxas exorbitantes do uso do dinheiro, próprio ou de empréstimo garantindo altos salários de uma minoria, com bônus de produtividade-metas. Tudo transferido ao custo dos produtos pagos por quem, muitas vezes, nem tem acesso ao essencial à sobrevivência.

US$700 bi DARIAM O EQUIVALENTE A R$1,281 tri ...
METADE DO PIB BRASILEIRO DE UM ANO INTEIRO (SOMOS A 9ª. POTÊNCIA ECONÔMICA MUNDIAL)...
SEIS VEZES TODO O GASTO COM SAÚDE NO BRASIL 2007 (PÚBLICO E PRIVADO).
A PERGUNTA QUE NÃO CALA:
QUANTOS DETENTORES DE CAPITAL SERÃO SALVOS? QUANTOS DESPROVIDOS DE CAPITAL... PERECERÃO? QUANTOS PAÍSES SUBMERSOS OU EMERGENTES PIORARÃO? QUANTO MENOS VIDA-SAÚDE HAVERÁ NO MUNDO NO PÓS CATÁSTROFE?????

PRIMEIRO UM COMENTÁRIO COM AS LEMBRANÇAS DE MARX


CESAR BENJAMIN

Karl Marx manda lembranças

O que vemos não é erro; mais
Uma vez, os Estados tentarão
salvar o capitalismo da ação
predatória dos capitalistas


AS ECONOMIAS modernas criaram um novo conceito de riqueza. Não se trata mais de dispor de valores de uso, mas de ampliar abstrações numéricas. Busca-se obter mais quantidade do mesmo, indefinidamente. A isso os economistas chamam "comportamento racional". Dizem coisas complicadas, pois a defesa de uma estupidez exige alguma sofisticação.

Quem refletiu mais profundamente sobre essa grande transformação foi Karl Marx. Em meados do século 19, ele destacou três tendências da sociedade que então desabrochava: (a) ela seria compelida a aumentar incessantemente a massa de mercadorias, fosse pela maior capacidade de produzi-las, fosse pela transformação de mais bens, materiais ou simbólicos, em mercadoria; no limite, tudo seria transformado em mercadoria; (b) ela seria compelida a ampliar o espaço geográfico inserido no circuito mercantil, de modo que mais riquezas e mais populações dele participassem; no limite, esse espaço seria todo o planeta; (c) ela seria compelida a inventar sempre novos bens e novas necessidades; como as "necessidades do estômago" são poucas, esses novos bens e necessidades seriam, cada vez mais, bens e necessidades voltados à fantasia, que é ilimitada. Para aumentar a potência produtiva e expandir o espaço da acumulação, essa sociedade realizaria uma revolução técnica incessante. Para incluir o máximo de populações no processo mercantil, formaria um sistema-mundo. Para criar o homem portador daquelas novas necessidades em expansão, alteraria profundamente a cultura e as formas de sociabilidade. Nenhum obstáculo externo a deteria.

Havia, porém, obstáculos internos, que seriam, sucessivamente, superados e repostos. Pois, para valorizar-se, o capital precisa abandonar a sua forma preferencial, de riqueza abstrata, e passar pela produção, organizando o trabalho e encarnando-se transitoriamente em coisas e valores de uso. Só assim pode ressurgir ampliado, fechando o circuito. É um processo demorado e cheio de riscos. Muito melhor é acumular capital sem retirá-lo da condição de riqueza abstrata, fazendo o próprio dinheiro render mais dinheiro. Marx denominou D - D" essa forma de acumulação e viu que ela teria peso crescente. À medida que passasse a predominar, a instabilidade seria maior, pois a valorização sem trabalho é fictícia. E o potencial civilizatório do sistema começaria a esgotar-se: ao repudiar o trabalho e a atividade produtiva, ao afastar-se do mundo-da-vida, o impulso à acumulação não mais seria um agente organizador da sociedade.

Se não conseguisse se libertar dessa engrenagem, a humanidade correria sérios riscos, pois sua potência técnica estaria muito mais desenvolvida, mas desconectada de fins humanos. Dependendo de quais forças sociais predominassem, essa potência técnica expandida poderia ser colocada a serviço da civilização (abolindo-se os trabalhos cansativos, mecânicos e alienados, difundindo-se as atividades da cultura e do espírito) ou da barbárie (com o desemprego e a intensificação de conflitos). Maior o poder criativo, maior o poder destrutivo.
O que estamos vendo não é erro nem acidente. Ao vencer os adversários, o sistema pôde buscar a sua forma mais pura, mais plena e mais essencial, com ampla predominância da acumulação D - D". Abandonou as mediações de que necessitava no período anterior, quando contestações, internas e externas, o amarravam. Libertou-se. Floresceu. Os resultados estão aí. Mais uma vez, os Estados tentarão salvar o capitalismo da ação predatória dos capitalistas. Karl Marx manda lembranças.

CESAR BENJAMIN,
53, editor da Editora Contraponto e doutor honoris causa da Universidade Bicentenária de Aragua (Venezuela), é autor de "Bom Combate" (Contraponto, 2006). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.

SEGUNDO UM RESUMO DA FOLHA DETALHANDO O PLANO AMERICANO DE SALVAR BANCOS, AS CATEDRAIS DO CAPITALISMO:

28/09/2008 - 18h36

Veja os principais pontos de projeto de lei sobre plano anticrise dos EUA da Folha Online - com Efe e Associated Press

Líderes do Congresso americano e a Casa Branca anunciaram neste domingo um acordo sobre o plano de US$ 700 bilhões para combater a crise financeira que abala os EUA. O projeto de lei, com 106 páginas, deve ser votado amanhã pela Câmara dos Representantes (deputados) e o Senado americano, provavelmente à tarde, como adiantou a líder democrata Nancy Pelosi. Em linhas gerais, o projeto limita os poderes do Executivo para gerir o pacote, estreita a vigilância sobre a aplicação dos recursos, reduz os pagamentos milionários aos grandes executivos por trás das instituições financeiras que quebraram, além de ampliar benefícios para os contribuintes. Veja abaixo os principais pontos do plano:

O Departamento do Tesouro dos EUA terá a sua disposição os US$ 700 bilhões requisitados pelo secretário Henry Paulson, mas o montante não ficará disponível de uma vez só. Do total, uma parcela de US$ 250 bilhões será liberada imediatamente e outros US$ 100 bilhões, somente se o presidente George W. Bush julgar necessário;

* O Congresso pode reter os US$ 350 bilhões restantes se não estiver satisfeito com o desempenho do programa.

* Os contribuintes vão receber direitos de compra de ações (warrants), de quem pode se beneficiar assim que as empresas beneficiadas pelo programa se recuperem;

* O governo vai limitar os ganhos dos principais executivos das companhias participantes do programa. Os chefes de empresas quebradas não poderão receber os benefícios multimilionários --conhecidos como "golden parachute"-- quando forem despedidos.

* O governo também vai elevar os impostos a empresas que paguem a seus executivos salários acima de US$ 500 mil por ano.

* O programa será supervisionado por um conselho, que deve incluir o presidente do Federal Reserve (banco central americano), Ben Bernanke, entre outra altas autoridades;

* O governo poderá renegociar os prazos das hipotecas que vier a adquirir para ajudar os moradores com problemas em saldar suas dívidas, a fim de evitar despejos;

* O secretário do Tesouro poderá exigir dos bancos que comprem seguros de modo a ter alguma cobertura para suas carteiras de investimento que incluam títulos de alguma forma vinculados a hipotecas.

* O teor geral do plano contempla tanto as principais exigências do secretário Henry Paulson quanto as principais críticas dos legisladores americanos ao teor do pacote, críticas essas que fizeram as negociações se arrastarem por uma semana.

* Mesmo pressionado pela Casa Branca e pelo mercado financeiro, o Congresso insistiu em controlar a concentração de poderes exigida pelo Executivo para gerir a economia.

* "Eu não conheço ninguém que goste que o centro do universo econômico esteja em Washington", comentou o senador Chris Dodd, presidente do Comitê bancário do Senado. Ele ressaltou: "o centro de gravidade está por aqui temporariamente. Deus permita que somente fique assim até que o crédito volte a circular de novo".

TERCEIRO UM TEXTO COM VÁRIAS REFERÊNCIAS:


Amig@s,

Semana passada um dos maiores bancos de investimentos do mundo, o Lehman Brothers, declarou falência com uma dívida de $613 milhões de dólares. Antes dele vieram abaixo a Fannie Mae e Freddie Mac as maiores corretoras EUA e a seguradora AIG. Para evitar um colapso total da economia e o pânico nas bolsas de valores, os Estados Unidos lançaram um pacote econômico astronômico. Um governo que antes defendia o mercado livre, auto-regulado, agora está intervindo com um cheque de USD$ 700 bilhões para Wall Street. Quem vai pagar a conta? Os contribuintes. O pacote econômico do governo logo vai afetar o bolso da classe média, a garantia de empregos, de moradia, poupanças e previdências sociais.

A crise já abalou a Europa, chegou na China e Ásia, e promete alcançar o resto do mundo. Devemos nós pagar pela irresponsabilidade das instituições financeiras dos Estados Unidos?

Cidadãos comuns do mundo todo estão se sentindo impotente perante as forças do mercado e a promessa de uma forte recessão. O sistema financeiro é tão complexo que poucos conseguem entender, muito menos se manifestar sobre este assunto tão importante. Mas esta semana nós conseguimos uma chance única de agir e demandar maiores regulamentações para o mercado financeiro. Nossa campanha será apresentada para líderes Europeus e pretendemos entregá-la também para o Congresso dos Estados Unidos e o próximo presidente americano. Para apresentar está petição à líderes globais, precisamos de um grande número de assinaturas, portanto clique no link para assinar a petição
: http://www.avaaz.org/po/global_finance_action/?cl=129707459&v=2168

O mercado financeiro global é pouco compreensível para um leigo em economia, as regras que o governam estão cheias de pequenas falhas e brechas. Nas últimas décadas as instituições financeiras se aproveitaram de uma política de mercado livre com uma regulamentação mínima. Quando o mercado finalmente ruiu, eles ficaram com uma dívida enorme que agora será paga com dinheiro público. Até os neoliberais mais radicais que pregam o livre comércio estão pedindo regulamentações mais fortes. A segurança econômica da população não pode mais ser colocada em risco, o mercado financeiro precisa de regulamentações mais rígidos que os responsabilizem pelas suas ações.

Entre os que apóiam um mercado mais monitorado está o Ex-Primeiro Ministro da Dinamarca, Poul Rasmussen. Ele se aliou à Avaaz para entregar nossa petição para um encontro de líderes europeus onde uma proposta de reformulação do mercado financeiro será discutida. Segundo Rasmussen, é importante demonstrar a mobilização da sociedade civil global em resposta à crise, mostrando para líderes europeus e globais que a opinião pública quer mais transparência e regulamentação: “Uma reforma do mercado financeiro é um passo fundamental em direção à uma globalização mais justa. Sua voz pode contribuir para isso”.

O mercado financeiro global está interligado e todos serão afetados, desde o operário até o alto executivo, da Ásia à América do Sul. Os governantes ainda estão em choque sem dar boas explicações nem apresentar soluções. Precisamos unir nossas vozes agora, enquanto o futuro ainda está sendo definido. Assine a petição no link abaixo e encaminhe este email para seus amigos e familiares:
http://www.avaaz.org/po/global_finance_action/?cl=129707459&v=2168

Com esperança e determinação, Paul, Graziela, Ricken, Ben, Iain, Veronique, Brett, Pascal, Milena e toda a equipe Avaaz

..................................

Leia mais: Congresso dos EUA estuda resgate financeiro de 700.000 bilhões de dólares - AFP:
http://afp.google.com/article/ALeqM5iBvQKdiCJ63E2JFV-SUxzFQkw9Sg

Crise vai durar pelo menos até 2009 - Estado de São Paulo: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20080921/not_imp245517,0.php

Entenda a crise financeira que atinge a economia dos EUA - Folha Online: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u447052.shtml

Folha de São Paulo, Sábado, 20 de Setembro de 2008

TERCEIRO UM COMENTÁRIO COM AS LEMBRANÇAS DE MARX


CESAR BENJAMIN

Karl Marx manda lembranças


O que vemos não é erro; mais
Uma vez, os Estados tentarão
salvar o capitalismo da ação
predatória dos capitalistas

AS ECONOMIAS modernas criaram um novo conceito de riqueza. Não se trata mais de dispor de valores de uso, mas de ampliar abstrações numéricas. Busca-se obter mais quantidade do mesmo, indefinidamente. A isso os economistas chamam "comportamento racional". Dizem coisas complicadas, pois a defesa de uma estupidez exige alguma sofisticação.

Quem refletiu mais profundamente sobre essa grande transformação foi Karl Marx. Em meados do século 19, ele destacou três tendências da sociedade que então desabrochava: (a) ela seria compelida a aumentar incessantemente a massa de mercadorias, fosse pela maior capacidade de produzi-las, fosse pela transformação de mais bens, materiais ou simbólicos, em mercadoria; no limite, tudo seria transformado em mercadoria; (b) ela seria compelida a ampliar o espaço geográfico inserido no circuito mercantil, de modo que mais riquezas e mais populações dele participassem; no limite, esse espaço seria todo o planeta; (c) ela seria compelida a inventar sempre novos bens e novas necessidades; como as "necessidades do estômago" são poucas, esses novos bens e necessidades seriam, cada vez mais, bens e necessidades voltados à fantasia, que é ilimitada. Para aumentar a potência produtiva e expandir o espaço da acumulação, essa sociedade realizaria uma revolução técnica incessante. Para incluir o máximo de populações no processo mercantil, formaria um sistema-mundo. Para criar o homem portador daquelas novas necessidades em expansão, alteraria profundamente a cultura e as formas de sociabilidade. Nenhum obstáculo externo a deteria.

Havia, porém, obstáculos internos, que seriam, sucessivamente, superados e repostos. Pois, para valorizar-se, o capital precisa abandonar a sua forma preferencial, de riqueza abstrata, e passar pela produção, organizando o trabalho e encarnando-se transitoriamente em coisas e valores de uso. Só assim pode ressurgir ampliado, fechando o circuito. É um processo demorado e cheio de riscos. Muito melhor é acumular capital sem retirá-lo da condição de riqueza abstrata, fazendo o próprio dinheiro render mais dinheiro. Marx denominou D - D" essa forma de acumulação e viu que ela teria peso crescente. À medida que passasse a predominar, a instabilidade seria maior, pois a valorização sem trabalho é fictícia. E o potencial civilizatório do sistema começaria a esgotar-se: ao repudiar o trabalho e a atividade produtiva, ao afastar-se do mundo-da-vida, o impulso à acumulação não mais seria um agente organizador da sociedade.

Se não conseguisse se libertar dessa engrenagem, a humanidade correria sérios riscos, pois sua potência técnica estaria muito mais desenvolvida, mas desconectada de fins humanos. Dependendo de quais forças sociais predominassem, essa potência técnica expandida poderia ser colocada a serviço da civilização (abolindo-se os trabalhos cansativos, mecânicos e alienados, difundindo-se as atividades da cultura e do espírito) ou da barbárie (com o desemprego e a intensificação de conflitos). Maior o poder criativo, maior o poder destrutivo.

O que estamos vendo não é erro nem acidente. Ao vencer os adversários, o sistema pôde buscar a sua forma mais pura, mais plena e mais essencial, com ampla predominância da acumulação D - D". Abandonou as mediações de que necessitava no período anterior, quando contestações, internas e externas, o amarravam. Libertou-se. Floresceu. Os resultados estão aí. Mais uma vez, os Estados tentarão salvar o capitalismo da ação predatória dos capitalistas. Karl Marx manda lembranças.

CESAR BENJAMIN, 53,
editor da Editora Contraponto e doutor honoris causa da Universidade Bicentenária de Aragua (Venezuela), é autor de "Bom Combate" (Contraponto, 2006). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.

***

"SAÚDE DEPENDE DA LEI DOS 5 + : MAIS BRASIL, MAIS SAÚDE-SUS, MAIS EFICIÊNCIA, MAIS HONESTIDADE E MAIS RECURSOS."
SAÚDE! PAZ! FELICIDADE!

Gilson Carvalho
Médico Pediatra e de Saúde Pública
Textos em:
www.idisa.org.br
Posted by Picasa

Nenhum comentário: