Foto: Rogelio Casado, Lula, 2002
Nota: Revendo as fotografias que fiz quando Lula veio ao Amazonas na campanha eleitoral de 2002, verifiquei que uma delas era premonitória: nas cãs de Lula sinais de que a moringa ia esquentar, mais ainda, com os patetas que manchariam a história do Partido dos Trabalhadores, que acreditavam poder usar dos mesmos expedientes praticados em 500 anos de história da direita no Brasil sem deixar a bunda de fora. O recente escândalo do dossiê contra os tucanos (pássaro habituado a comer excrementos) é prova de que o PT não se livrou de todos os falsos petistas que ainda se abrigam sob sua bandeira.
Como se não bastasse o que minha lente captou, um outro sinal de mau agouro vivi na pele, durante a caravana-carreata que saiu do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes. Logo após cumprimentar o companheiro Lula, em frente da Rodoviária de Manaus, fui derrubado pelo ônibus em que ele se deslocava com os apoiadores da sua campanha. Comigo estava, na minha motocicleta - uma Shadow, da Honda, 1.110 cilindradas -, o companheiro Jorge Laborda. Lula quis descer do ônibus, que parou momentaneamente. Foi convencido de que o momento não permitia o ato de solidariedade. Caído no chão, vi os carros passarem a poucos metros da minha cabeça. Sobrevi, eu e o companheiro Jorginho. Atordoados - ajudado por um policial -, levantamos a motocicleta, que parecia ter mais do que os seus habituais 320 kg, e continuamos na caravana. Jorginho teve ferimentos leves. Desafortunadamente, o mesmo não ocorreu com esse escrevinhador. Na altura da Avenida Getúlio Vargas, mal alcancei o ônibus em que viaja o companheiro Lula, para cumprimentá-lo e dizer que estava tudo bem, a dor não permitiu: além do joelho e cotovelo esquerdo feridos, durante todo esse trajeto senti que o volume da bolsa escrotal havia aumentado de tamanho. Isso mesmo! Os testículos ficaram do tamanho de uma laranja. Cáspite! Petista de carteirinha, senti ali que precisava renovar o carimbo do partido que ajudei a construir, para enfrentar a pedreira que vinha pela frente. Só não precisava carimbar os meus testículos, companheiro! Em tempo: o acidente ocorreu em função de uma manobra ensandecida de um carro usado por um grande jornalão do sul-maravilha, obrigando o motorista do ônibus em que Lula se encontrava a evitar um choque com o veículo. Sobrou para mim.
Relendo a entrevista concedida por Chico Buarque, e que aqui foi pinçada por uma companheira leitora (hoje acordei com meus antigos hábitos linguísticos; arre!), faço minha declaração de voto: assino embaixo do texto-entrevista concedida por um dos maiores símbolos da resistência a todos os tipos de autoritarismo.
Leia o texto de apresentação do Chico pela anônima companheira, depois deite e role na entrevista.
Por e-mail:
A cada uma de suas entrevistas, o compositor e cantor Chico Buarque de Holanda sempre surpreende por sua lucidez e enorme coerência.
Agora, no lançamento do seu novo CD, Carioca, ele novamente brilhou ao falar sobre a situação política brasileira. A direita deve ter ficado furiosa, com saudades dos tempos da ditadura militar que o perseguiu e censurou; a esquerda "rancorosa" deve ter ficado ressentida com seus irônicos comentários; já os setores da sociedade que, mesmo críticos das limitações do governo Lula, não perderam a perspectiva, ganharam novo impulso criativo para a sua atuação.
Mas é melhor deixar o poeta falar, pinçando trechos das suas entrevistas na revista Carta Capital e no jornal Folha de S.Paulo:
Sobre a crise política:
É claro que esse escândalo abalou o governo, abalou quem votou no Lula, abalou, sobretudo o PT. Para o partido, esse escândalo é desastroso.
O outro lado da moeda é que disso tudo pode surgir um partido mais correto, menos arrogante. No fundo, sempre existiu no PT a idéia de que você ou é petista ou é um calhorda. Um pouco como o PSDB acha que você ou é tucano ou é burro (risos).
Agora, a crítica que se faz ao PT erra a mão. Não só ao PT, mas principalmente ao Lula. Quando a oposição vem dizer que se trata do governo mais corrupto da história do Brasil é preciso dizer 'espera aí'.
Quando aquele senador tucano canastrão diz que vai bater no Lula, dar porrada, quando chamam o Lula de vagabundo, de ignorante, aí estão errando muito a mão. Governo mais corrupto da história? Onde está o corruptômetro? É preciso investigar as coisas, sim. Tem que punir, sim. Mas vamos entender melhor as coisas. A gente sabe que a corrupção no Brasil está em toda parte. E vem agora esse pessoal doPFL, justamente ele, fazer cara de ofendido, de indignado?! Não vão me comover...
Preconceito de classe:
O preconceito de classe contra o Lula continua existindo - e em graus até mais elevados. A maneira como ele é insultado eu nunca vi igual. Acaba inclusive sendo contraproducente para quem agride, porque o sujeito mais humilde ouve e pensa: 'Que história é essa de burro!?' 'De ignorante!? ' 'De imbecil!?'.
Não me lembro de ninguém falar coisas assim antes, nem com o Collor. 'Vagabundo! Ladrão! Assassino! - até assassino eu já ouvi'.
Fizeram o diabo para impedir que o Lula fosse presidente. Inventaram plebiscito, mudaram a duração do mandato, criaram a reeleição. Finalmente, como se fosse uma concessão: deixaram Lula assumir. 'Agora sai já daí, vagabundo!'. É como se estivessem despachando um empregado a quem se permitiu o luxo de ocupar a Casa Grande. 'Agora volta pra senzala!'. Eu não gostaria que fosse assim.
Eu voto no Lula! A economia não vai mudar se o presidente for um tucano. A coisa está tão atada que honestamente não vejo muita diferença entre um próximo governo Lula e um governo da oposição. Mas o país deu um passo importante elegendo Lula.
Considero deseducativo o discurso em voga: 'Tão cedo esses caras não voltam, eles não sabem fazer, não são preparados, não são poliglotas'. Acho tudo isso muito grave.
Hoje eu voto no Lula. Vou votar no Alckmin? Não vou.
Acredito que, apesar de a economia estar atada como está, ainda há uma margem para investir no social que o Lula tem mais condições de atender. Vai ficar devendo, claro. Já está devendo. Precisa ser cobrado. Ele dizia isso: 'Quero ser cobrado, vocês precisam me cobrar, não quero ficar lá cercado de puxa-sacos'. Ouvi isso dele na última vez que o vi, antes dele tomar posse, num encontro aqui no Rio.
Sobre o PSOL:
Percebo nesses grupos um rancor que é próprio dos ex: ex-petista, ex-comunista, ex-tudo. Não gosto disso, dessa gente que está muito próxima do fanatismo, que parece pertencer a uma tribo e que quando rompe sai cuspindo fogo. Eleitoralmente, se eles crescerem, vão crescer para cima do PT e eventualmente ajudar o adversário do Lula.
Papel da mídia:
Não acho que a mídia tenha inventado a crise. Mas a mídia ecoa muito mais o mensalão do que fazia com aquelas histórias do Fernando Henrique, a compra de votos, as privatizações. O Fernando Henrique sempre teve uma defesa sólida na mídia, colunistas chapa-branca dispostos a defendê-lo a todo custo. O Lula não tem. Pelo contrário, é concurso de porrada para ver quem bate mais.
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