setembro 21, 2006

São Gonçalo-RJ: soropositivos pedem socorro

Foto: Rogelio Casado - I Parada do Orgulho Louco, 2004









Nota: Toda vez que a vida de cidadãos soropositivos para o HIV está em risco, me lembro de uma das grandes lideranças da luta contra o avanço da epidemia de aids no Amazonas: Laurinha de Souza Brelaz, presidente da Rede de Amizade & Solidariedade às Pessoas com HIV/Aids-AM - ong de pessoas soropositivas e voluntários da causa. Parceira da Associação Chico Inácio - ong de familiares, técnicos e usuários de saúde mental, aqui ela aparece de blazer interpretando personagem da minha peça "Quero uma casa pra morar", por ocasião da I Parada do Orgulho Louco, em setembro de 2004. Tenho orgulho de ter ajudado a fundar essas duas ongs, o que permitiu que suas demandas fossem pautadas no debate público das políticas de saúde no estado do Amazonas.

Seguramente, Laurinha já manifestou apoio aos companheiros soroposivitos de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, depois que Roberto Pereira, do Centro de Educação Sexual - CEDUS - Co-Representante ONG-Sudeste/CNAIDS-MS, enviou por e-mail a mensagem e o manifesto abaixo. Em tempo, aqui vai minha solidariedade.

Usuários da Saúde em São Gonçalo pedem socorro

Prezados (as),

Por ocasião da reunião ordinária do Fórum ONG/AIDS de agosto, realizada ontem, 30/08, recebemos da parte de usuários do Serviço Público de Saúde do Município de São Gonçalo/RJ, a carta manifesto abaixo transcrita, onde, para nossa tristesa e repúdio, é relatada a situação de total abandono a que as pessoas soropositivas desse município estão relagadas.

Na tarde de ontem, fizemos circular na rede uma extensa matéria do Jornal O FLUMINENSE, onde a precariedade desse atendimento é retratada.

Cumpre ressaltar que essa situação não é nova e se arrasta há vários anos, já havendo sido inclusive motivo de ação junto ao Ministério Público, quando o Fórum Estadual ONG/AIDS-RJ, o PN/DST/AIDS e a Assessoria Estadual de DST/AIDS (SES/RJ) estivem juntos à SMS local na tentativa de encontrar uma solução que, se não resolvesse, ao menos pudesse minimizar o problema.

Desde então vimos acompanhando a luta dos usuários na tentativa de fazer valer os seus direitos de um atendimento digno, mas que pelo total descaso dos gestores locais, vem piorando dia a dia.

Vale lembrar que São Gonçalo é um dos municípios mais populosos do Estado do Rio de Janeiro e, com absoluta certeza, um dos mais abandonados pelas autoridades.

Por conta disso, vimos divulgar a Carta Manifesto, solicitando sua replicação pela rede, na expectativa que, em pleno processo eleitoral, possa "sensibilizar" as autoridades legalmente constituídas em prol de uma busca de solução a curto prazo.

Solidariamente,


Roberto Pereira
Secretaria Fórum ONG/AIDS-RJ
(AFADA - CEDUS - SAVIK)
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Carta de Manifesto

QUEM ESTÁ SENDO LESADO?

Nos usuários(as) do Único Serviço de Aids oferecido pela Prefeitura Municipal de São Gonçalo, comunicamos e manifestamos a nossa indignação contra OMISSÃO DO PODER PÚBLICO local; a negligência do Conselho Municipal de Saúde de São Gonçalo e a omissão das autoridades competentes no município, aí incluídos a Câmara de Vereadores.

Está em andamento uma Ação Civil Pública, promovida pelo Ministério Público contra a Prefeitura Municipal de São Gonçalo, quanto ao descumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta anteriormente assumido junto ao Ministério Público, Ministério da Saúde e população, para o enfrentamento da epidemia de Aids no Município. Mesmo assim o Poder Público não respeita o acordo firmado e faz vista grossa.

Nosso movimento tem o objetivo de trazer ao conhecimento do cidadão gonçalense; da Comissão Estadual de Aids; do Programa Nacional de DST/Aids-MS; da mídia; da Ordem dos Advogados do Brasil (Seção de São Gonçalo) e do Ministério Público, o DESCASO E ABANDONO que se instalaram na Saúde Pública do nosso Município, no caso específico do PROGRAMA DE AIDS, que passamos a manifestar:

Não é verdade a afirmação e defesa do Subsecretário de Saúde do município de que "o Único Serviço de Aids oferecido pela Prefeitura Municipal de São Gonçalo é de ponta".

Alertamos primeiramente quanto a banalização de Aids no Brasil e principalmente no nosso Município. Não sabemos ao certo qual é a quantidade existente - se é para mais ou menos o número - de contaminados pelo vírus HIV no Município de São Gonçalo. Há uma estimativa de 8.000 (oito mil)contaminados pelo vírus HIV e este número pode ser muito superior aos dados oficiais.

Somos 3.700 o número de pacientes cadastrados naquela unidade e atualmente contamos apenas e somente com 02 (dois) médicos infectologistas para atender 2.000 pacientes ativos (em acompanhamento), quando para atender esta demanda, haveria a necessidade de 10 médicos.

Dos 2.000 cadastrados ativos, 750 estão usando medicamentos, sendo que por semana, chegam em média 05 pacientes novos. Os pacientes novos que receberam o diagnostico do HIV, estão sendo orientados a ficar num fila de espera para primeira consulta. Já são 50 na fila de espera.
QUEM SE LEMBRA DA HISTORIA DA ESCOLHA DE SOFIA?
ESSE É O ÚNICO SERVIÇO DE AIDS DO MUNICÍPIO E NÃO FUNCIONA COMO DEVERIA.

As crianças estão em torno de 100. Podem ser muito mais pois algumas se encontram em tratamento no município vizinho de Niterói. É só observar a leitura abaixo e concluir o porquê, essas crianças se encontram nesse município.

Também não podemos deixar de mencionar, o porquê dos adultos fugirem para Niterói: É PARA NÃO MORREREM.

Com a quantidade atual de médicos infectologistas existentes no Único Serviço de Aids da cidade, fica impossível a HUMANIZAÇÃO do atendimento, COMPROVANDO a irresponsabilidade da própria Secretaria de Saúde Municipal e da Prefeitura Municipal como Administradora.

Faltam leitos específicos para internação de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde; não tem médico para DST (doenças sexualmente transmissíveis); não é fácil o encaminhamento de pacientes para diversas especialidades médicas; os recursos humanos são os mais problemáticos e muitas das vezes não contam com a capacitação adequada de alguns profissionais, conforme o relatório de diagnóstico da Metropolitana II.

É vergonhosa a qualidade da assistência no pré-natal quando uma grávida recebe o diagnóstico para Aids no Município. Não tem genecologista-obstreta para acompanhar no serviço de Aids, principalmente na maternidade do Hospital Luiz Palmier, setor de "porta de entrada". Isso é um absurdo, no momento em que a transmissão vertical pode ser evitada com tratamento precoce.

Os recursos financeiros de Fundo a Fundo, do Incentivo da Saúde para o combate da epidemia de Aids no Município, não estão sendo gastos como deveria ocorrer. Isto demonstra que o Poder Público não se interessa em utilizar como deveria, para reduzir a incidência e transmissão do HIV e da infecção das doenças sexualmente transmissíveis; da Transmissão Vertical; para expandir e aperfeiçoar o diagnóstico, tratamento e assistência de pessoas com HIV, DST e AIDS e, principalmente, fortalecer a sua instituição pública, nesse caso o Programa Municipal de Aids, que legitimamente pertence aos cidadãos gonçalenses.

Assinado
Os usuários e usuárias do Único Serviço de Aids de São Gonçalo.
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Roberto Pereira
Centro de Educação Sexual - CEDUS
Co-Representante ONG-Sudeste/CNAIDS-MS
Av. General Justo, 275 - bloco 1 - 203/ A - Castelo
20021-130 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil
Tel: (21) 2544-2866 Telefax: (21) 2517-3293
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Um comentário:

Anônimo disse...

Todos nos sofremos com falta de tudo , de respeito , de remedio , de atenção das autoridades, em fim , não temos amparo onde quer que seja , seja no trasporte, na alimentação. Tudo para termos hoje em dia , infelizmente temos que brigar lutar , devemos nos unir mais para tornar nossas vidas mais praticas.
cariocadorio2003@yahoo.com.br