fevereiro 19, 2007

Frauta de barro











Frauta de barro
Luiz Bacellar
Ed.Valer, Manaus, 2004

Soneto do cigarro

Pequena múmia de fumo
na sua branca mortalha,
simbolizando o resumo
dessa obscura batalha

que sofre a folha macia
do tabaco que se faz
fumaça e assim concilia
os pensamentos de paz...

E quanta coisa nos conta,
ao cabalístico jogo
dos gestos de nossa mão,

sua ruiva estrela tonta,
em hieroglifos de fogo
no meio da escuridão...


Ciranda à roda de um tronco

Mangueira de minha rua
Do velho tronco enrugado
Que serve de alcoviteira
Ao casal de namorados.

O vento mexericando
Com tuas folhas assanhadas
Te arrepia as verdes franjas
Em murmúrios assustados.

As formas dos papagaios
Te pendem das galharias
Como brancos esqueletos
De duendes enforcados.

Te escorre o luar das folhas
Com seu brilho niquelado
Como um colar de rainha
Sobre um dossel desfiado.

Mangueira de minha rua
Vivo cheio de cuidados
Pela ingrata que tortura
Meu coração macerado.

E hei de quebranto e saudade
Morrer contigo abraçado.
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