Astrid Cabral
NOTA: Anibal, meu querido poeta, não resisti e caí em tentação. Também sou chegado numa transgressão. Impossível ficar indiferente a este tão belo afago crítico da grande poeta Astrid Cabral. A esta dupla violação de correspondência peço a indulgência de ambos. Como aqueles que perdem o amigo mas não a piada, nada me deteria em prestar uma singela homenagem a dois respeitados poetas do Amazonas.
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VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA
Os comentários vindos da grande poeta Astrid Cabral, me deixaram deveras envaidecido. Daí, quero crer, ela não se importará se eu der ao conhecimento dos amigos sua bela carta. Como transgressor nato, posso até me perdoar. Jamais me arrepender dessa violação. Vamos a ela:
"Anibal, amigo querido e grande poeta:
Estou maravilhada com a leitura do teu livro. Só agora é que pude mergulhar nele. (Minha vida de aposentada nada tem de inativa. De meados de novembro a meados de janeiro fiquei por conta de Mariana e Laura. Feliz é quem tem neto por perto. Você e Eugênia estão nesse rol.)
Confesso que fiquei orgulhosa com a alta qualidade de Folhas da Selva. A Valer soube valorizar a obra-prima poética de tua lavra, produzindo um livro primoroso sob todos os aspectos. Passou a perna na Girafa, amigo. Viva para todos os detalhes, gramatura do papel, aquarelas de Gisele Alfaia (é do Amazonas?) prefácio do Zé Maria e orelhas do Tufic.
Poucos poetas como tu são capazes de dominar estéticas tão diversas. Tens mão de mestre para a riqueza barroca e a riqueza despojada, o requinte verbal do Ocidente e do Oriente.
Em Folhas da Selva, o casamento do olhar nipônico com a natureza amazônica resultou numa associação fascinante -- saboroso fruto da globalização na área da literatura. Na realidade, a atitude de reverência à natureza faz parte da cultura milenar da Ásia e nossos índios e caboclos trazem isso na índole, no sangue.
O importante é que sintetizaste tudo isso em versos publicados, porque como dizes num haicai: "As coisas não ditas/ pela escrita se perderam" e agora, esse momentos iluminadas e fugazes não vão mais se perder. Lembro aquele haicai belíssimo: "Jogando a tarrafa/ caboclo desfaz a lua -- / pesca estrelas de escamas". Amigo , nem Bashô escreveria um haicai melhor. Sabes como poucos jogar a tarrafa no mar da poesia. Deus te abençoe por tanta beleza.
A viagem por tua selva de folhas foi uma experiência de pura emoção, contemplação virtual da paisagem através das palavras, partilha no ritual de celebração da obra divina.
Abraço-te com imenso carinho. Isabela e Mariana adoraram ver os retratos da feira do Sesc, rever-te e conhecer a flor da netinha. Beijos na querida Eugênia. "
Astrid
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NOTA: Belíssimo afago, não? Se você está em Manaus, vá correndo à Livraria Valer e adquira esta pequena obra-prima de haicais do poeta Aníbal Beça: Folhas da Selva. Para os amazonenses que moram fora do estado, uma pequena mostra:
Arrepio de águas
na brisa da manhã -
banzeiro de rio.
Conheça os sites do sexygenário Anibal Beça, que segundo o poeta Zemaria Pinto tem uma vida integralmente dedicada à poesia. È vero! Dos sessentinha, quarenta são dedicados à poesia. Ei-los:
www.portaldaamazonia.com/anibal
http://br.geocities.com/abeca552002/CASA.html
http://www.secrel.com.br/jpoesia/abeca.html
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NOTA: Conheça também a qualidade da poesia desta cidadã do mundo que é a poeta Astrid Cabral. Depois de integrar o movimento cultural conhecido como Clube da Madrugada na cidade de Manaus, onde nasceu, morou em Beirute, Chicago e Brasília. Atualmente reside no Rio de Janeiro.
Para os manauras recomendo a leitura de Elegia derramada. É pra ler e chorar... chorar de raiva contra a resignação e a estupidez humana - juntas, elas contribuiram para a destruição de parte do patrimônio arquitetônico e cultural da cidade de Manaus:
http://www.blocosonline.com.br/editora_blocos/2006/sacpoevidig/02memorias/antologiavirtual/acabral01.php
Viúva do poeta Afonso Félix de Sousa, Astrid Cabral é mãe de cinco filhos. Publicou, entre outros, os livros: Alameda (contos), 1963, 2 ed., 1998; Ponto de cruz (poesia), 1979; Toma-viagem (poesia), 1981; Lição de Alíce(poesia), 1986; Visgo da terra (poesia), 1986; Rês desgarrada (poesia), 1994; De déu em déu (poesia) [reunião de 5 livros], 1998; Intramuros, 1998; Rasos d´água, 2003. Prêmio Olavo Bilac, de Poesia, da Academia Brasileira de Letras, e vários prêmios da UBE- RJ. Membro do PEN Clube do Brasil. Leia a página de Astrid Cabral no sítio do Jornal de Poesia: http://www.revista.agulha.nom.br/astridcabral.html
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