Fradim Baixim, criação do imortal Henfil
Pobres Culpados
Jair Alves – dramaturgo/SP
O que mais impressiona na recente pauta do momento, sobre a diminuição da maioridade penal, nem é mais o seu papel escapista. São verdadeiramente os jovens, menores de 18 anos, envolvidos ou não em atos criminosos, responsáveis pela violência que atinge a todos? De um lado, vemos a manifestação quase que unânime de instituições e pessoas representativas da sociedade, tais como OAB, ministra do Supremo Tribunal, presidência da República, juristas de inequívoca participação na vida nacional, todos contrários a essa solução esdrúxula e, de outro, o fomento evangélico de partidos, pessoas e veículos de comunicação numa cruzada doentia a favor da redução.
O que mais impressiona e salta aos olhos é o caráter autoritário, fascista das soluções apresentadas a essas questões. É de se perguntar porque toda vez que a humanidade revela o seu lado bestial, as soluções para tal problema quase sempre apontam para penalizar justamente de crianças, velhos, mulheres, negros, nordestinos, homossexuais, pobres ou orientais. É de se perguntar se no doloroso caso, envolvendo essa criança morta no Rio de Janeiro, a penalização não recaiu justamente sobre as crianças, não necessariamente sobre o menor que teria participado do ato criminoso. Nenhuma lei, qualquer que seja, é homologada com caráter retroativo, essa criança (sim, ela ainda é criança) não receberá o castigo se qualquer instrumento legal for criado nessa movimentação que se faz no momento. Tudo isso, é claro, pensado a partir do desejo dessa cruzada religiosa insana de punir justamente os mais indefesos.
Que sociedade humana é essa que pretendemos criar? O líder do triste episódio e os seus comparsas não se moveram motivados por nenhuma orientação humanista, muito menos em busca de uma sociedade perfeita. Agiram com o mesmo ímpeto predatório da sociedade competitiva que adora o Big Brother Brazil, e não está nem aí com a destruição da Amazônia, ou de um sonho socialista. Eles querem, na marra, o que a sociedade, tal como ai está, não lhes oferece. Como diria Datena "essa é a grande verdade". Esse caráter punitivo lembra uma cena, protagonizada por Raul Cortês, no filme 'Veredas da Salvação' (década de 60), onde o protagonista prende uma criança dizendo estar ela com o diabo no corpo, para desespero da mãe indefesa, diante de um eminente sacrifício da pobre coitada. Esta é a sociedade justa que queremos patrocinar?
Diante da guerra moral, a TV Globo que tanto dinheiro ganhou com o extraordinário ator Raul Cortes e Jorge de Andrade (autor de Vereda...) é a mesma que procura intervir como agente, nos pleitos eleitorais, e que revelou ontem (13/02/07), no seu último jornal noturno, que na cidade do Rio de Janeiro perambulam pela cidade nada menos do que 1200 menores reincidentes. Não serão essas crianças vítimas dessa sociedade, da mesma forma como o inocente João Helio, imolado há poucos dias? Ou estarão essas crianças possuídas pelo capeta, assim como a criança do filme acima citado?
A escritora Urda Alice Klueger produziu uma crônica belíssima, a respeito da morte do menino João, denominada Pintassilgos, onde compara a imagem do menino, arrastado pelas ruas da cidade maravilhosa, a um pintassilgo. Não deixa, porém, de nos remeter aos assassinatos em massa, cometidos mundo afora pelas mesmas forças que agora pedem justiça. Para os curiosos, é só acessar o link http://macunaim.sites.uol.com.br/urda.htm
Como diria Shakespeare, num de seus monumentais personagens, interpretado (porquê não?) por Raul Cortes "O RESTO É SILÊNCIO".
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