janeiro 25, 2008

Brasília ameaçada pela especulação imobiliária

Brasília - BR
Especulação imobiliária e questão indígena - Antes da construção de Brasília, a área que hoje é tombada pela Organização das Nações Unidas (ONU) servia de trânsito aos povos originários desta terra. Muitos deles habitaram o local, o que pode ser evidenciado nos vestígios arqueológicos encontrados no Parque Nacional de Brasília (Água Mineral). Séculos se passaram, mais de 20 milhões de indígenas foram exterminados, Brasília foi construída e não há nenhum interessa na preservação de uma cultura viva indígena, somente as estátuas frias do museu dos povos indígenas não reconhecido pelos próprios.

Nove anos após a construção da cidade, os povos originários desta terra, que por anos foram privados do uso de suas casas e dispersados Brasil à fora, vieram para Brasília na busca de seus direitos naturais. Encontraram uma cidade ainda em construção e ocuparam uma área no plano piloto onde vivem há 37 anos (Brasília tem 47 anos). Não por acaso residem na área onde seus antepassados, em grande parte os carijós, já habitaram. A conexão espiritual com esta terra é imensurável. As etnias Fulni-ô, Kariri-Xocó, Korubo e Kariri-Tuxá hoje vivem no lugar mas outras etnias passaram por lá como os Guajajara, Pataxó, Guarani, Tupinambá, Krahô, Mapuche , entre outras, que veem na localidade um amparo no centro do Brasil. A permacultura, o cultivo de ervas medicinais, plantações de frutíferas e leguminosas, a feitura de artesanato, a pintura e os cantos tribais estão presentes no local. O contato com o meio urbano é inevitável mas muito bem administrado por seus moradores que ainda preservam (isso em relação aos fulni-ô) o seu dialeto original, o Yatê, fato esse muito importante para preservação da tradição indígena, porque hoje poucas etnias ainda conhecem seus dialetos originários.

Toda esta riqueza cultural está ameaçada. A especulação imobiliária do Distrito Federal hoje tem fortes parceiros. José Roberto Arruda, Governador do DF, e Paulo Octávio, vice-governador e secretário de obras do DF, utilizam a máquina pública para conseguir o maior número de terras, futuras selvas de concreto. Nestes dois anos de governo fizeram inúmeras derrubadas nas localidades mais humildes da capital e favorecem como podem o mercado imobiliário que fazem parte. Paulo Octávio, por exemplo, é dono de uma das maiores construtoras da cidade a "Paulooctávio" que infla a cidade com outdoors com marketing ambiental barato. O dois jornais de maiores circulação em Brasília, o Correio Braziliense e o Jornal de Brasília, fazem suas matérias semanais sobre a construção do setor noroeste utilizando somente fontes aliadas da especulação imobiliária e descriminam como podem os indígenas. O Jornal de Brasília, vilculado á Paulooctávio, fez até uma edição especial contando todas novidades do mercado imobiliário destacando o Setor Noroeste como: "A menina dos Olhos". A Globo, Record e SBT seguem a eterna linha do jornalismo copy desk, que nunca vai ser abandonado por esta mídia vendida.

É este cenário que faz com que o grande espírito clame aos de bem para coloborar na resistência destes povos. Segundo o governador Arruda: "A quem ache que não deveríamos construir o Setor Noroeste para continuarem morando os índios. Óbvio que esta não é a minha opinião". O bairro é destinado a classe alta do país e o metro quadrado pode custar no início 6 mil reais. Serão mais de 100 mil pessoas, 200 carros a mais e umas selva de pedras que prejudicará mais ainda Brasília na época tão sofrida da seca. Não há motivos para sua construção pois, segundo o IBGE há mais de 53 mil imóveis não ocupados por opção dos próprios moradores dado que comprova a forte especulação imobiliária da capital.

Além da questão indígena, dos povos originários desta terra, temos na localidade a última mata nativa preservada de Brasília. Lá a rica diversidade de fauna e flora proporciona aos moradores e visitantes um real espaço de convívio harmonioso com a natureza onde ainda há possibilidade de adquirir este conhecimento ancestral. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios fez um levantamento que demonstra inviável a construção do Setor Noroeste, isso mais voltado para a questão do impacto ambiental. A Funai já se demosntrou favorável a preservação da Reserva Indígena do Bananal (localidade que abriga as etnias onde está o Santuário Sagrado dos Pajés e a Associação Cultural dos Povos Indígenas). A UNESCO em 1992 declarou a localidade como Área de Proteção Ambiental (APA) e o Brasil assinou em setembro de 2007 a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas que estabelece o direito à terra para as comunidades indígenas.

O Governo do Distrito Federal não pode passar por cima dos direitos legais e naturais demonstrados acima. Muito sangue indígena já foi derramado, muito cerrado vivo já foi devastado e não necessidade de mais destruição. Faça sua parte!

SOMOS UM POVO QUE CONHECE A DOR
SOMOS UM POVO SEM NENHUM PUDOR
TÃO NATURAL COMO A SUA COR

SÃO 507 ANOS DE COLONIZAÇÃO
SEMPRE BUSCANDO A NOSSA EXTINÇÃO

ELES NOS FIZERAM ACREDITAR
NA PALAVRA CATEQUIZAR
E AINDA DISSERAM SÃO ANIMAIS
UNS ANIMAIS IRRACIONAIS

IRMÃO O QUE FOI QUE FIZ PRA VOCÊ
JÁ QUE VOCÊ NÃO ME AMA COMO EU SOU
DEIXE-ME VIVER

Santxié Thaphuwya - Pajé da etnia Fulni-ô habitante do Santuário Sagrado dos Pajés na Reserva Indígena do Bananal - DF

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