janeiro 20, 2008

Ribamar Bessa e a Literatura indígena

Foto: Rogelio Casado - José Ribamar "Taquiprati" Bessa Freire, UFAM, Manaus-AM, 16/jan/2008

Doutor em Comunicação, José Ribamar Bessa Freire, ex-docente da UFAM, e atual da UERJ e da UFRJ, costuma ser apresentado como tal, numa deferência politicamente correta à Academia. Desta, sem dúvida, o meu considerado tem grande orgulho. Porém, ao subtrair o lado profano e popular do personagem - autor da coluna domingueira Taquiprati, publicada no Diário do Amazonas - a Academia não faz justiça a um dos mais estimados jornalistas amazonenses, que, mesmo à distância, escreve as crônicas mais bem humoradas sobre as tragicômicas relações de poder na taba dos manaós. A propósito, é justamente a questão indígena, da qual é um dos principais historiadores no Amazonas, que trouxe Ribamar Bessa outra vez para o norte do Brasil, mais exatamente para Filadélfia, no município de Benjamin Constant-AM, onde durante duas semanas ministrou aulas no Curso de Licenciatura Indígena da Universidade do Estado do Amazonas - UEA. Na passagem de volta ao Rio de Janeiro, a UFAM "tirou uma cascaquinha" chamando-o para o auditório Solimões, no Instituto de Ciências Humanas e Letras. Ali Bessa dialogou com estudantes e professores sobre "Literatura indígena", tema de um livro de sua autoria a ser publicado pelo MEC. Trata-se de cerca de trinta etnias que têm a língua preservada, milagre operado pelos poucos profissionais existentes no Brasil, que assiste, criminosamente, o desaparecimento de dezenas de outras línguas por insuficiência de expertos, por sua vez decorrente da debilidade das políticas universitárias para o setor. Eis, acima, o flagrante do encontro entre Ribamar Bessa e a comunidade acadêmica. Agora leia um trecho da sua coluna de hoje:
AQUI COMEÇA O BRASIL
José Ribamar Bessa Freire
20/01/2008 - Diário do Amazonas

Chove forte na fronteira do Brasil, Peru e Colômbia. No hospital de Benjamin Constant (AM), no rio Javari, o vigia cochila. Seu radinho de pilha sintonizado na Nova Onda FM 104.9 anuncia a logomarca da emissora: “Aqui começa o Brasil”. Um relâmpago risca o céu escuro. O trovão acorda vários doentes, que ouvem, então, Abílio Faria cantando ‘Hoje eu quero você’, sob o patrocínio do Açougue Coelho e do “Frigorífico do nosso amigo Totó”. Era a madrugada de terça-feira, 13 de novembro de 2007.

Naquele mesmo instante, num leito do hospital, a índia Kokama Alexandrina Cauamare, de 105 anos, indiferente ao trovão, permanece dormindo. Não ouve, na seqüência da programação, a música brega ‘O dia em que a alegria me disse adeus’ de Reginaldo Rossi. É que seu sono não tem mais volta. “Ela morreu que nem um passarinho, mas não foi de baladeira, morreu em paz”, conta sua neta Necy Silva de Souza. Com ela, desaparece um dos últimos cem falantes da língua Kokama.
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Um comentário:

Unknown disse...

Quando começamos a cursar a eletiva do professor Bessa na UERJ, não imaginavamos o quanto abriria-nos os orizontes de espectativas, muito menos sobre a temática indígena.
Através da Literatura que nos é aplicada, muitos preconceitos e tabús acerca dos índios e de suas culturas foram disfeitas e estão sendo retiradas do meio acadêmico.
foram disfeitas e estão sendo retiradas do meio acadêmico.