Conheci Paolino Baldassari num Curso de Indigenismo promovido pela Igreja Católica de Manaus num retiro de salesianos, quando o bairro Zumbi dos Palmares ainda não existia. Estávamos no ano de 1978. Me preparava para morar em São Paulo nos próximos dois anos para cumprir um período de residência médica em psiquiatria social na Comunidade Terapêutica Enfance, em Diadema-SP, fundada por Oswaldo Di Loretto, psiquiatra da pesada que fez história cuidando de crianças.
Particei do curso com o saudoso companheiro Humberto Mendonça. Beto seria assassinado em 1981, na mesma cidade de Diadema onde fixou residência, depois que retornei para a terra de Ajuricaba. Humberto virou nome de Pronto Atendimento, de Centro Acadêmico de Medicina, mas dou um doce de cupuaçu japonês se algúem conhecer um universitário de hoje que saiba a importância do querido amigo na história do movimento estudantil amazonense. Brevemente estarei rompendo este manto de silêncio que recaiu sobre a biografia daquele paulista de José Bonifácio. Se liga aí: o livro será intitulado "Memorial Político-Afetivo", e terá como pano de fundo os movimentos sociais de Manaus.
Voltemos ao Padre Paulino. Às noites, após exaustivas discussões diurnas, ora com os antropólogos Darcy Ribeiro, Carlos Alberto Ricardo, Carmem Junqueira, ora com os religiosos D. Tomás Balduíno, D. Tomás Lisboa. sentavámos para ouvir as histórias e depoimentos de inúmeros militantes da causa indígena. No dia do depoimento de Paulino, assim ele começou seu discurso: "O Acre não é nosso... roubaram o Acre". A rebeldia desse italiano inquieto era visível a partir das suas vestes. Enquanto outros religiosos não usavam batina, dispensados que estavam dessa obrigação depois da liberação conquistada no Concílio Latino-Americano, em plena vigência da Teologia da Libertação Paolino retomara o uso do hábito, que havia deixado de usar quando ele era obrigatório. Por trás da rebeldia, um profundo respeito pela diferença, expressa nos longos anos de dedicação aos excluídos do diálogo interétnico.
O episódio em que caiu de um andaime, ao ajudar na construção de uma igreja, seria trágico, não fosse cômico. A batina - herança deixada pelo bispo da região, depois de sua morte - lhe salvou a vida, ao engatar na ponta do andaime de baixo, quando seu corpo projetava-se velozmente em direção ao chão. O corpo magrinho e o tecido resistente ajudaram Paolino sobreviver para contar a história, sem um arranhão sequer. Santa Providência!
Conheça mais a história de Paolino Baldassari e o amor desse missionário à causa indígena. Sua vida está entrelaçada com a história do povo Kulina, para quem trabalhou nos últimos 53 anos - o mesmo povo, que como outros que habitam o Vale do Javari estão com suas vidas ameaçadas. Acesse e leia o texto por ele assinado: Missão no Acre
2 comentários:
oi, sou de pelotas, rio grande do sul, me chamo zuleica baldassari e tenho 47 anos de idade.
acredito q o sr paolino baldassari seja meu tio avô, irmão de miguel baldassari.
com certeza m orgulharia muito c fosse.
um abraço.
GOSTARIA DE SABER SE VCS SABEM DE QUE PROVINCIA ITALIANA ELE VEIO?
Postar um comentário