setembro 17, 2008

A Sexualidade no Mundo Árabe

Foto: Lehnert & Landrock - Mulher vendada
Nota do blog: Rudolf Lehnert (1878-1948), nascido na Boémia austríaca foi um fotógrafo orientalista baseado em Tunes, onde abriu estúdio em 1904. Ele e o seu sócio alemão Ernst Landrock, o homem do laboratório e dos aspectos comerciais, tiveram que trocar a Tunísia pelo exílio na Suiça durante a Grande Guerra, mudando depois o seu poiso para o Cairo. Publicaram, entre 1904 e o final dos anos 30, alguns milhares de fotografias, postais ilustrados, fotogravuras e heliogravuras sobre as terras e gentes do Magreb, Egipto e Próximo Oriente. Lehnert teve o privilégio de fotografar no Cairo, nos anos 20, o recém-descoberto tesouro de Tutankhamon. Na Palestina, registaram para a História imagens da coexistência pacífica e harmoniosa das comunidades árabe e judaica. A revista National Geographic publicou imagens de Lehnert nos anos 20-30. Uma loja do Cairo que usa ainda hoje o nome Lehnert & Landrock continua a vender (algumas) das suas fotografias e gravuras feitas há oitenta ou cem anos. Em Lausanne (Suiça), o Musée de l'Elysée guarda muitas centenas de negativos da antiga firma. O Norte de África, especialmente a Tunísia e Argélia, o Egipto, a Palestina, a Síria e o Líbano foram percorridos e fotografados por estes apaixonados do mundo árabe, de que deixaram muitas vezes uma imagem romântica, talvez idílica, mas respeitosa das tradições árabes.

A sua obra é, também, interessantemente isenta dos pruridos censórios que na actualidade imperam no mundo islâmico e também em vastas manchas do mapa da cristandade. A obra de Lehnert & Landrock é hoje mal vista por alguns moralistas anti-imperialistas e abominada por muçulmanos fundamentalistas, pudibundos cristãos de várias estirpes e outros neuróticos moralmente correctos, mas continua a fascinar um vasto público, não exclusivamente ocidental. Irritam muita gente algumas fotografias de rapazes, raparigas, homens e mulheres, sobretudo as menos vestidas. Mas continuam a ser muitos os que se deixam fascinar por essas imagens, a que se podem acrescentar as fotografias do deserto, dos oásis, das kasbahs, dos mercados, das mesquitas e das ruínas de interesse arqueológico. Até os mendigos cegos, tema de numerosas gravuras e postais, parecem vestidos duma luz especial nas suas djelabas esfarrapadas. Imagens dum mundo perdido, impossíveis de repetir hoje, na sua maioria.

Fonte:
República do Café

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A Sexualidade no Mundo Árabe

Tammam Daaboul 11/08/2008 A A

Raramente a mídia árabe abordava assuntos relacionados ao sexo e à religião, muitas vezes considerados tabus especialmente pelas mídias estatais, maioria no mundo árabe, muito distantes dos assuntos de interesse das sociedades.

Com a proliferação dos meios de comunicação privados, começaram a surgir iniciativas que abordam tais temas entre outros relacionados à vida política e social, gerando inclusive mudança no comportamento de algumas mídias estatais.

A TV Síria estatal, por exemplo, tem mostrado clara tendência em renovar estratégias de comunicação adotadas por muitas décadas, ao lançar programas que discutem questões como os da sexualidade e da educação sexual, permitindo a participação de especialistas, professores universitários e até mesmo homens, mulheres e jovens no debate sobre a inclusão da educação sexual nas matérias escolares.

Este tipo de iniciativa tem um papel importante abrindo caminho aos jornalistas e acadêmicos na discussão desses temas. Mas o foco de todos os meios de comunicação, públicos e privados, na política distanciou novamente as chances de abordar e debater a sexualidade, a não ser quando usada como atrativo, ao modo ocidental, para aumentar as audiências sem a devida seriedade que o assunto merece.

No entanto com a proliferação dos meios de comunicação eletrônicos, web sites, e especialmente os fóruns de internet, surge o real debate e iniciativas que tratam dos tabus com seriedade. Numa destas discussões o Dr. Naim Hilana, especialista no assunto, defende que "a falta de educação sexual no sentido abrangente leva a uma série de doenças psicológicas, e reflete negativamente em todas as práticas da comunidade e do indivíduo, permitindo a prevalência do estupro e da prostituição, levando à frustração e interferindo nas relações conjugais".

Para a jovem Hilana "o conceito de educação sexual deve incluir o estudo dos sentidos e emoções ao lado do estudo do corpo humano, a fim de estudar o sistema reprodutivo... As escolas nos países árabes omitem conhecimentos aos estudantes sobre conceitos abrangentes do sexo".

A Sra. Nidal al-Kudari debate dizendo "a educação sexual não deve se tornar apenas uma matéria que faz parte do estudo do aluno, mas é uma cultura de vida, Indo além do processo educativo, envolvendo a composição da sociedade e de seu comportamento no que diz respeito aos sexos, para que esse assunto não pertença apenas ao sexo masculino".

Para Rahaf Al-Muhanna "a mídia árabe tem publicado falsas noções de coisas muito sensíveis como o conceito de sexo, salientando que a atual geração criou conceitos errôneos sobre o sexo, muito distantes da sua realidade, já que eles se baseiam apenas na televisão, nos canais pornográficos e nas canções de baixo nível".

A advogada Maysaa Helewa, acredita "na necessidade da educação sexual para crianças, especialmente, antes da puberdade, para reduzir o risco de gravidez de adolescentes e os riscos do casamento precoce". Ela ainda disse, que "o objetivo da educação sexual é o de ensinar às crianças a respeitar o seu corpo e preservá-lo, porque quem respeita o próprio corpo também o valoriza". Atribuindo um valor importante aos Ministérios da Educação como arma de luta contra os canais pornográficos, afim de proteger os adolescentes da exposição a situações perigosas, como o estupro, homossexualismo e gravidez extraconjugal.

A jovem Darren confidenciou que "as relações em sociedades orientais são superficiais e cheias de suspeitas, porque elas se baseiam na idéia de que o homem "macho" é predador das mulheres "fêmeas". E se as mulheres perderem a virgindade passam a ter pouco valor e a não existir mais na sociedade, como se sua existência dependesse de uma única parte de seu corpo".

Outros debatedores, acreditam que apesar das criticas ferozes à forma atual do comportamento e da educação sexual, é importante a consciência de que com alguns valores sociais e "tabus" sexuais, há benefícios importantes no mundo árabe, como o baixo índice de doenças sexualmente transmissíveis e baixo nível de natalidade extraconjugal, se comparados aos países ocidentais com liberdade sexual.

É essencial a discussão destes temas permitindo a diversidade e a liberdade de opinião ao lado da defesa dos direitos das mulheres, pois a globalização e a facilidade de transmissão de informação trouxeram, ao lado dos benefícios, diversos pontos negativos, como a exposição a outras culturas com valores muito diferentes que visam atrair audiências e lucros cada vez maiores, com o uso indiscriminado do sexo, e da imagem que não faz jus à mulher.

Por isso é importante que os debates sejam tratados de forma séria e cientifica, levando em consideração o estudo do comportamento social e seus valores culturais ao lado do impacto da religião nos mesmos, procurando conceitos que se adéqüem a estes fatores sem importar soluções prontas de outras regiões que podem danificar seriamente importantes valores na sociedade árabe.

Arabesq
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