Nota do blog: Rudolf Lehnert (1878-1948), nascido na Boémia austríaca foi um fotógrafo orientalista baseado em Tunes, onde abriu estúdio em 1904. Ele e o seu sócio alemão Ernst Landrock, o homem do laboratório e dos aspectos comerciais, tiveram que trocar a Tunísia pelo exílio na Suiça durante a Grande Guerra, mudando depois o seu poiso para o Cairo. Publicaram, entre 1904 e o final dos anos 30, alguns milhares de fotografias, postais ilustrados, fotogravuras e heliogravuras sobre as terras e gentes do Magreb, Egipto e Próximo Oriente. Lehnert teve o privilégio de fotografar no Cairo, nos anos 20, o recém-descoberto tesouro de Tutankhamon. Na Palestina, registaram para a História imagens da coexistência pacífica e harmoniosa das comunidades árabe e judaica. A revista National Geographic publicou imagens de Lehnert nos anos 20-30. Uma loja do Cairo que usa ainda hoje o nome Lehnert & Landrock continua a vender (algumas) das suas fotografias e gravuras feitas há oitenta ou cem anos. Em Lausanne (Suiça), o Musée de l'Elysée guarda muitas centenas de negativos da antiga firma. O Norte de África, especialmente a Tunísia e Argélia, o Egipto, a Palestina, a Síria e o Líbano foram percorridos e fotografados por estes apaixonados do mundo árabe, de que deixaram muitas vezes uma imagem romântica, talvez idílica, mas respeitosa das tradições árabes.
A sua obra é, também, interessantemente isenta dos pruridos censórios que na actualidade imperam no mundo islâmico e também em vastas manchas do mapa da cristandade. A obra de Lehnert & Landrock é hoje mal vista por alguns moralistas anti-imperialistas e abominada por muçulmanos fundamentalistas, pudibundos cristãos de várias estirpes e outros neuróticos moralmente correctos, mas continua a fascinar um vasto público, não exclusivamente ocidental. Irritam muita gente algumas fotografias de rapazes, raparigas, homens e mulheres, sobretudo as menos vestidas. Mas continuam a ser muitos os que se deixam fascinar por essas imagens, a que se podem acrescentar as fotografias do deserto, dos oásis, das kasbahs, dos mercados, das mesquitas e das ruínas de interesse arqueológico. Até os mendigos cegos, tema de numerosas gravuras e postais, parecem vestidos duma luz especial nas suas djelabas esfarrapadas. Imagens dum mundo perdido, impossíveis de repetir hoje, na sua maioria.
Fonte: República do Café
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A Sexualidade no Mundo Árabe
Tammam Daaboul 11/08/2008 A A
Raramente a mídia árabe abordava assuntos relacionados ao sexo e à religião, muitas vezes considerados tabus especialmente pelas mídias estatais, maioria no mundo árabe, muito distantes dos assuntos de interesse das sociedades.
Com a proliferação dos meios de comunicação privados, começaram a surgir iniciativas que abordam tais temas entre outros relacionados à vida política e social, gerando inclusive mudança no comportamento de algumas mídias estatais.
A TV Síria estatal, por exemplo, tem mostrado clara tendência em renovar estratégias de comunicação adotadas por muitas décadas, ao lançar programas que discutem questões como os da sexualidade e da educação sexual, permitindo a participação de especialistas, professores universitários e até mesmo homens, mulheres e jovens no debate sobre a inclusão da educação sexual nas matérias escolares.
Este tipo de iniciativa tem um papel importante abrindo caminho aos jornalistas e acadêmicos na discussão desses temas. Mas o foco de todos os meios de comunicação, públicos e privados, na política distanciou novamente as chances de abordar e debater a sexualidade, a não ser quando usada como atrativo, ao modo ocidental, para aumentar as audiências sem a devida seriedade que o assunto merece.
No entanto com a proliferação dos meios de comunicação eletrônicos, web sites, e especialmente os fóruns de internet, surge o real debate e iniciativas que tratam dos tabus com seriedade. Numa destas discussões o Dr. Naim Hilana, especialista no assunto, defende que "a falta de educação sexual no sentido abrangente leva a uma série de doenças psicológicas, e reflete negativamente em todas as práticas da comunidade e do indivíduo, permitindo a prevalência do estupro e da prostituição, levando à frustração e interferindo nas relações conjugais".
Para a jovem Hilana "o conceito de educação sexual deve incluir o estudo dos sentidos e emoções ao lado do estudo do corpo humano, a fim de estudar o sistema reprodutivo... As escolas nos países árabes omitem conhecimentos aos estudantes sobre conceitos abrangentes do sexo".
A Sra. Nidal al-Kudari debate dizendo "a educação sexual não deve se tornar apenas uma matéria que faz parte do estudo do aluno, mas é uma cultura de vida, Indo além do processo educativo, envolvendo a composição da sociedade e de seu comportamento no que diz respeito aos sexos, para que esse assunto não pertença apenas ao sexo masculino".
Para Rahaf Al-Muhanna "a mídia árabe tem publicado falsas noções de coisas muito sensíveis como o conceito de sexo, salientando que a atual geração criou conceitos errôneos sobre o sexo, muito distantes da sua realidade, já que eles se baseiam apenas na televisão, nos canais pornográficos e nas canções de baixo nível".
A advogada Maysaa Helewa, acredita "na necessidade da educação sexual para crianças, especialmente, antes da puberdade, para reduzir o risco de gravidez de adolescentes e os riscos do casamento precoce". Ela ainda disse, que "o objetivo da educação sexual é o de ensinar às crianças a respeitar o seu corpo e preservá-lo, porque quem respeita o próprio corpo também o valoriza". Atribuindo um valor importante aos Ministérios da Educação como arma de luta contra os canais pornográficos, afim de proteger os adolescentes da exposição a situações perigosas, como o estupro, homossexualismo e gravidez extraconjugal.
A jovem Darren confidenciou que "as relações em sociedades orientais são superficiais e cheias de suspeitas, porque elas se baseiam na idéia de que o homem "macho" é predador das mulheres "fêmeas". E se as mulheres perderem a virgindade passam a ter pouco valor e a não existir mais na sociedade, como se sua existência dependesse de uma única parte de seu corpo".
Outros debatedores, acreditam que apesar das criticas ferozes à forma atual do comportamento e da educação sexual, é importante a consciência de que com alguns valores sociais e "tabus" sexuais, há benefícios importantes no mundo árabe, como o baixo índice de doenças sexualmente transmissíveis e baixo nível de natalidade extraconjugal, se comparados aos países ocidentais com liberdade sexual.
É essencial a discussão destes temas permitindo a diversidade e a liberdade de opinião ao lado da defesa dos direitos das mulheres, pois a globalização e a facilidade de transmissão de informação trouxeram, ao lado dos benefícios, diversos pontos negativos, como a exposição a outras culturas com valores muito diferentes que visam atrair audiências e lucros cada vez maiores, com o uso indiscriminado do sexo, e da imagem que não faz jus à mulher.
Por isso é importante que os debates sejam tratados de forma séria e cientifica, levando em consideração o estudo do comportamento social e seus valores culturais ao lado do impacto da religião nos mesmos, procurando conceitos que se adéqüem a estes fatores sem importar soluções prontas de outras regiões que podem danificar seriamente importantes valores na sociedade árabe.
Arabesq
Textos assinados pelo portal arabesq são resultados de pesquisas realizadas pela equipe de pesquisadores do Portal Arabesq
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