10 vitórias das forças políticas que apoiam Dilma em 03 de outubro
Da mesma forma em que, na avaliação dos votos marinistas, não cabe tomar as calúnias e os spams pseudo-religiosos como se fossem a identidade da candidatura verde, a avaliação do campo dilmista não pode, não deve, de jeito nenhum, deixar que a decepção pela não decisão em primeiro turno nas presidenciais obscureça um fato indiscutível das eleições à Câmara e ao Senado: a esquerda teve uma grande vitória, talvez seu mais significativo triunfo na história das legislativas da República. Este é, inclusive, um potente argumento em favor de Dilma Rousseff e contra José Serra. O Congresso que acabamos de eleger se alinha esmagadoramente com Dilma; Serra não teria mais que 25% da Câmara na base da sua coalizão. Com toda aquela “paciência” e “poder de negociação” que são típicos seus, imaginem o inferno que viveríamos nas relações do Executivo com as duas casas. Os números são cabais.
1) Câmara: Há três partidos, entre os de alguma importância, que encolheram em mais de 15% na Câmara. Quem são eles? A trinca do antilulismo: o PSDB encolheu 20%, o DEM 34% e o PPS 45,5%. É um tremendo recado das urnas. PTB e PMDB também encolheram, em 13,6% e 11,2%, respectivamente. A esquerda lulista, sem exceções, cresceu: o PT volta a ser a maior bancada da Câmara, com 88 deputados e crescimento de 6%. Seus três aliados preferenciais na esquerda tiveram ótima performance. O PSB saltou de 27 para 34 (+26%), o PDT foi de 24 para 28 (+16,7%) e o PcdoB subiu de 13 para 15 (+15,4%).
O campo dilmista deve saber desses números, tê-los na ponta da língua e usá-los como potente argumento nestes 25 dias: o Congresso que elegemos está alinhado com Dilma, não com Serra. O ex-governador de São Paulo não é conhecido por sua maleabilidade e capacidade negociadora. É eleger Dilma ou tornar um inferno as relações entre o Executivo e Legislativo brasileiros.
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Senado da República
2010 foi o ano em que o PSOL elegeu o mesmo número de senadores que o DEM. O signatário deste blog acredita que as mudanças descritas abaixo, em particular, farão do Senado da República um lugar mais comprometido com a realidade da maioria do povo. Com a exceção do revés parcial em São Paulo, onde as pesquisas indicavam dobradinha lulista, mas só uma senadora do lado governista se elegeu-- e felizmente foi Marta Suplicy--, todas as outras expectativas principais e batalhas chave se resolveram a contento para a esquerda. A eleição da própria Marta, claro, conta como uma das vitórias significativas, dado o contexto e o perigo. É a primeira da minha lista para o Senado, segunda vitória importante, então, das legislativas.
3) Amazonas: Foi a mãe de todas as batalhas no terreno alegórico: o mais estridente, arrogante, histriônico, histérico e parlapatão Senador da República, Arthur “dou surra em Lula” Virgílio, foi a nocaute, obra de mulher, jovem e comunista, Vanessa Grazziotin. Este blog apostou na corrida desde o primeiro momento como seu objeto de desejo. Na época, Vanessa ainda estava dois dígitos atrás. Sempre acreditei nessa mui especial vitória, e o vídeo em que declarei apoio à Senadora Grazziotin contém minhas razões.
4) Piauí. O Brasil é um lugar mais respirável, tolerante e bonito para se viver sem a figura de Heráclito Fortes no Senado. Perguntem ao Daniel. Ainda por cima, caiu o Mão Santa também. Apostamos na corrente pra trás do Heráclito desde o começo e celebramos esse belo golpe desferido sobre o atraso coronélico. Wellington Dias, do PT, se elegeu, e o outro Senador, Ciro Nogueira (PP), é da base de apoio a Dilma.
5) Ceará. Seria chamado de louco quem dissesse, há uma década, que Tasso Jereissati se candidataria ao Senado, num ano em que há duas vagas em disputa, e não conseguiria se reeleger. As vitórias de Eunício e Pimentel na corrida ao Senado são, talvez, o golpe mais violento sofrido pelo PSDB nestas eleições, junto com o sacode-Iaiá comunista do Amazonas. Talvez não seja ruim para o partido, inclusive, na medida em que pode favorecer o surgimento de lideranças mais propositivas do que Tasso tem sido.
6) Bahia. Duas vagas para o Senado em disputa na Bahia, e o carlismo não levou nenhuma. Esse fato, por si só, também teria sido impensável até pouco tempo atrás. Ocorreu uma baita renovação, com as eleições de Walter Pinheiro (PT) e Lídice da Mata (PSB). Ambas, especialmente ela, já são figuras históricas na cidade de Salvador. Em contraste com a redução (pequena, mas real) da bancada feminina na Câmara, Lídice é parte de uma significativa vitória das mulheres de esquerda nestas eleições para o Senado, e foi parte de um barba-cabelo-bigode na Bahia, que incluiu a reeleição do governador Jaques Wagner em primeiro turno.
7) Paraná. Também aqui o lulismo levou ambas as vagas, e a renovação inclui outra mulher de esquerda: Gleisi Hoffman foi uma grande aposta para o Senado em chapa com Roberto Requião. Ela terminou em primeiro, cheia de moral, e Requião se elegeu em segundo. Hoffman faz do Senado um lugar mais inteligente e receptivo à sociedade. Requião, além de trazer sua perspectiva nacionalista, com certeza não contribuirá para tornar o Senado um lugar mais monótono.
8) Rio Grande do Sul: Um líder histórico dos trabalhadores, Paulo Paim, enfrentou o que parecia, ao princípio, uma briga de foice com três cabeças, mas chegou em primeiro lugar com folga, também cheio de moral. O Senado brasileiro continua tendo um líder negro, continua contando a dignidade de Paulo Paim. Para completar a dobrada, Tarso Genro se elegeu governador no primeiro turno. Os petistas guascas de novo mostraram como se faz a coisa bem feita. O PMDB gaúcho, como o pernambucano, escolheu o antilulismo e sofreu pesada derrota, perdendo a vaga no Senado e não disputando sequer segundo turno contra o PT na briga pelo Piratini.
9) Pernambuco: Pela primeira vez em quarenta anos, Marco Maciel perdeu uma eleição. Desde a época de Telê Santana no comando da seleção, Brasília não terá o esguio líder do DEM como Ministro, Vice-Presidente ou Senador. Em reconhecimento à sua elegância, o blog não tripudiará. Mas considero, sim, a queda de Maciel uma grande vitória para a esquerda e para a democracia em geral. Elegeu-se a dobradinha lulista: Humberto Costa, do PT, redimiu-se de injustiças sofridas com acusações pouco fundamentadas (por denunciar um esquema de faturamento de ambulâncias que ocorreu sob José Serra, em governo tucano) e Armando Monteiro, do PTB, ligado à indústria, e que traz uma visão mais arejada que Maciel. Obrigado pelos serviços prestados, Senador. Mas já era hora. Raul Jungmann, do PPS, passou longe, muito longe de competir por uma vaga.
10) Rio de Janeiro: Elegeu-se Senador um jovem petista, Lindberg Farias, e César Maia ficou fora. Não se conta Crivella como parte de uma bancada de "esquerda", mas ele foi um Senador fiel a Lula, é bem avaliado pelo Transparência Brasil e teve boa atuação legislativa, sem nada que o desabonasse. É uma enorme vitória da esquerda bater César Maia de forma tão categórica, relegando-o a um quarto lugar e negando-lhe qualquer possibilidade de protagonismo como liderança nacional.
São maiúsculas vitórias que devem ser mencionadas, estudadas e trazidas à baila nestes 25 dias de campanha de Dilma Rousseff.
PS: Em especial, saudamos as eleições de Dr. Rosinha, Alessandro Molon e Jô Moraes, endossados pelo blog, respectivamente, em eleições para a Câmara no Paraná, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, assim como a eleição de Raul Pont, também endossado aqui, para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
PS 2: Basta aparecer uma pessoa que sabe fazer algumas continhas básicas e morre um meme do jornalismo brasileiro.
Fonte: O Biscoito Fino e a Massa
PICICA - Blog do Rogelio Casado - "Uma palavra pode ter seu sentido e seu contrário, a língua não cessa de decidir de outra forma" (Charles Melman) PICICA - meninote, fedelho (Ceará). Coisa insignificante. Pessoa muito baixa; aquele que mete o bedelho onde não deve (Norte). Azar (dicionário do matuto). Alto lá! Para este blogueiro, na esteira de Melman, o piciqueiro é também aquele que usa o discurso como forma de resistência da vida.
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