PICICA: "Enquanto o homem trocar o esporte pela
competição, amarra-se, impede que o jogo lhe traga experiência, que o
mude, recrie, lhe dê sapiência."
Homo Ludens Contemporâneo
“Vencer é não desvencer: é não competir”
Caros amigos, da Copa eu tiro alimentos, levo-o para minha cozinha e planejo um bom jantar.
O esporte na contemporaneidade cansa mais
que o suor dos atletas. Há uma desvio do exercício físico para o
esporte competitivo. Talvez herança greco-olímpica, de uma ânsia em
reunir diferentes povos em prol de uma atividade que daria prazer a
todos. Mas o resquício do evento olímpico é claro: competição.
Na era dos espectadores, ligamos a
televisão, vamos ao estádio, ginásio, autódromo, ou qualquer outra arena
em que se estabeleça um “jogo” para ver… competição. Se tiver porrada
ou risco de vida, o “jogo” é mais interessante, lucrativo e mais
assistido. Afinal, na final nacional de campeonato de xadrez, haviam
duas pessoas assistindo: o juiz e a mãe do vencedor.
A idéia de jogo se esvaiu, e o ser humano, que já fora denominado como homo ludens
pelo filósofo Huizinga, está cada vez mais distante de experimentar um
jogo. Como espectador, sempre busca um vencedor e um perdedor, e jamais
se propõe ao devir possível de simplesmente estar presente em um jogo.
Como seria então, assistir a um jogo de
futebol em que não haja gol, campeonato nem rivalidade? Por qual caminho
vergaria o indivíduo que estivesse na arquibancada, e quanto tempo
aguentaria ver um jogo sem propósitos competitivo. Em outros dizeres: o
quão competidores somos, e o quão banhada nossa visão é, para apenas
competição ser?
A Copa do Mundo sem taça é a Copa do Mundo sem graça.
O prazer está em ter vencedor a sorrir e
perdedor a sofrer; a lógica é discutir pela razão de se ganhar, o que
anula o simples sentimento de estar. Não podemos mais sentar à beira do
mar e ver um nadador surfar. Se não houver apito, tubo e a melhor onda, a
vida em práticas esportivas se torna tão efêmera, que beira o
invisível.
A congregação do esporte nu, por onde
anda? O campeonato sem chaves e pontos corridos, que vence o que se abre
ao jogo, ao novo, ao imprevisto e improviso – cadê o perigo?
Enquanto o homem trocar o esporte pela
competição, amarra-se, impede que o jogo lhe traga experiência, que o
mude, recrie, lhe dê sapiência.
Fonte: Razão Inadequada
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