PICICA: "Miró explica um pouco sobre sua relação com os
surrealistas e sobre seu processo de criação. Segundo o autor, a fome
lhe rendeu ideias para pintar."
Pequena entrevista com Miró: O Terceiro Olho que lhe permite ver a vida com profundidade
Como
fazer uma arte surrealista? Nesta interessante entrevista (que pode ser
vista no fim do texto), Miró explica um pouco sobre sua relação com os
surrealistas e sobre seu processo de criação. Segundo o autor, a fome
lhe rendeu ideias para pintar. O autor quase morreu de fome em seus
primeiros anos em Paris: sem a ajuda dos pais, que não queriam o ver
numa carreira artística e sem conseguir vender seus quadros, Miró se viu
em uma situação em que passar dias sem conseguir comprar um croissant
era normal.
A fome lhe deu ideias, segundo ele
próprio. Essas ideias podem ser vistas no quadro The Farmer’s Wife, um
dos primeiros quadros a mostrar grandes variações de escala em
diferentes partes de uma mesma figura. Nesta obra, os grandes pés da
esposa simbolizam a força com que está presa ao chão catalão.
“Miró não enxergava a vida de maneira
distorcida, mas a via como ela realmente é, utilizando o que pode ser
chamado de O Terceiro Olho, o olho que vê além da superfície”. Ao falar
sobre sua entrada no círculo surrealista – ele fora introduzido por
André Masson, pintor associado ao surrealismo e ao expressionismo -,
Miró relata que mesmo sendo apresentado educadamente a todos, ninguém se
importava com suas obras. Talvez por ainda não conseguirem entendê-las.
Segundo o artista, “pintar com todas
essas regras me estressava um pouco. Eu queria ir além disso, entende? O
cubismo abriu muitas portas, mas depois dele a pintura se tornou algo
muito estático, estava somente preocupada com o plasticismo e eu queria
dar um solto sobre isso, que me parecia muito limitado. Então, com os
surrealistas eu encontrei o que estava procurando. Eu pude deixar o
plasticismo estrito para trás e ir além”.
Miró queria dar liberdade para seu
inconsciente e seus sonhos obscuros deram vida para o Cão Latindo Para a
Lua, de 1926. Aqui, se vê uma escada, que aparece no sonho e o retira
do travesseiro de pedra, o enviando para um outro mundo, o permitindo
ter uma visão mais ampla do todo.
A mudança de seu gosto também é assunto
para a entrevista. Miró relata que tratava Cézanne como um qualquer que
pintava maçãs e jarras de água (concordando com Breton e outros
surrealistas), entretanto, hoje o considera um gênio. É necessário ter
mais ponderação na apreciação da arte, “hoje eu sou mais maduro, isso me
possibilita ser mais flexível em meus julgamentos. Eu não posso
simplesmente ser rígido. Eu preciso ter uma certa maleabilidade de
espírito”.
Fonte: Colunas Tortas