abril 30, 2006

Um gênio da política amazonense

Um dia surgirá um gênio na política amazonense!... O DEPUTADO LUPÉRCIO RAMOS É UM GÊNIO OU ELES JÁ VIRAM ESTE FILME E PRECISAM ESQUECER O FINAL INFELIZ!!!

Convidado por Daniel Nava Gerente Regional do DNPM em Manaus, estive no dia de ontem pela primeira vez no Município de Nova Olinda do Norte para registrar na condição de repórter do Amazon Sat acompanhado pelo repórter cinegrafista José Gato, a realização do II Fórum Sobre a Exploração da Silvinita que deveria ter tido como pano de fundo a realização do seminário "Projeto Silvinita do Amazonas - Ações do Programa Brasil Um País de Todos".

Do relato histórico do município amazonense de Nova Olinda do Norte localizado a 126 quilometros em linha reta da Capital do Estado que foi criado pela Lei Estadual de número 06 no dia 19 de Dezembro de 1955 e que teve a palavra " do Norte" aditada pela vontade do então Governador Plínio Ramos Coelho, o episódio por mim constatado como mais presente na memória da maioria da população, tem a ver com o mistério que perdura até os nossos dias sobre o real motivo que levou a saída apressada da Petrobrás do município no qual em certa época chegou a manter 400 operários em atividades. A pressa foi tamanha que a estatal deixou para trás em estado de abandono, prédios e propriedades construidos e adquiridos após o primeiro jorro nos poços de petróleo a 2.173 metros de profundidade respectivamente em Março e Agosto de 1955 que foram devidamente "invadidos" pelos padres franciscanos durante dez anos e depois comprados pelo poder público em suave prestações por um valor simbólico.

A descoberta de petróleo levou o pequeno povoado a desfrutar de um período de grande euforia abastecido pela perspectiva do dinheiro e do desenvolvimento. Da noite para o dia Nova Olinda passou a ser conhecida como a "Cidade do Petróleo" e pra acentuar mais ainda a certeza de um futuro promissor, naquela mesma década materializaram-se no município as visitas ilustres de dois presidentes da República; o primeiro foi João Café Filho que foi seguido por Juscelino Kubitschek. Não era para menos, todos passaram a sonhar em plena luz do dia e de olhos abertos.

Infelizmente este ciclo de sonho e euforia teve a duração de água na fervura. Então, começou o mistério.

Os relatores do assunto escrevem que a eclosão da "Redentora" que acabou por derrubar o Presidente João Goulart deflagrou uma série de represálias ao apoio e solidariedade prestados ao governo em desgraça, pelos funcionários sindicalizados da Petrobras que resultou na posse do novo chefe da Base de Nova Olinda do Norte que ao assumir colocou no olho da rua 60 operários e puniu com transferência imediata outros tantos. Mas a pá de cal foi colocada pelo parecer do geólogo americano (esses gringos!!!) Walter Link no famoso "relátório Link" que determinava o fechamento ou obturação dos poços que jorravam petróleo pois segundo as "forças ocultas" o hidrocarboneto da região não tinha valor comercial. O embroglio envolveu ainda o engenheiro Levindo Carneiro, homem de frente da empresa em Nova Olinda que foi acusado de traição nacional. Na calada da noite a Petrobrás juntou os trapos e mudou-se de cuia e remo para Belém e São Luiz, condenando os moradores do local à economia do contra-cheque e desfrute sem outra opção do interminável vai-e-vem dos batelões amazônicos navegando pelo portentoso Rio Madeira, que oferece a cidade sem custo, o seu único cenário de beleza. Voltando ao seminário que não aconteceu. Depois de uma carreata pelas ruas transitáveis da cidade o Governador Eduardo Braga e sua comitiva chegaram a quadra de esportes lotada pelos moradores, cabos eleitorais, "anistiados" (nome pelo qual são conhecidos os operários da Petrobrás, atropelados pelo relatório Link) vereadores, membros da imprensa manauense e crianças, muitas crianças. Não faltou nem o pé-inchado da cidade que interrompeu por alguns segundos o discurso do governador.

O cerimonialista anunciou a execução do hino nacional, hino do Amazonas, hino do município e a suadeira resultante da quadra-sauna coberta de zinco, começou a abalar os ânimos da audiência e dos componentes do elenco de autoridades constituido pelo Prefeito Adenilson Reis, pelos Deputados Federais Silas Camara, Lupércio Ramos, Deputados Estaduais Vera Edwards, Sinésio Campos, representantes do Ministério de Minas e Energia, Petrobrás e Prefeitos dos municípios de Silves, Urucará, Borba, Autazes, Itapiranga e São Sebastião de Uatumã que como Nova Olinda do Norte, se tudo sair como estão planejando, serão beneficiados pela exploração da silvinita no futuro.

Contrariando as regras do cerimonial o primeiro a falar foi o Governador Eduardo Braga que num discurso inflamado transformou o fórum num palanque politico e consequentemente acabou por prometer com ressalva (se Deus quizer!) a extensão até Nova Olinda do Linhão de Tucuruí, garantiu para os próximos meses o asfaltamento das ruas-queijo-suíço da Cidade e a construção de um novo Porto de verdade, não o porto- balsa como era feito no Governo FHC e que no momento está debaixo das águas da alagação. Deste momento em diante, foi o "dejá vu": a população entrou em êxtase e passou a estampar na cara o indefectível semblante de quem sonha em plena luz do dia e a externar com gritos, palmas e gestos a velha e marcante euforia Novaolindense.

O deputado Silas Câmara entrou mudo e saiu calado, deve ter as suas razões. O deputado Sinésio e a deputada Vera exaltaram as vantagens e acenos de progresso inexorável que irá transformar Nova Olinda do Norte na "Cidade da Silvinita", e do nascimento de um novo ciclo (sic!) desta vez extrativo mineral, pelo que foram aplaudidos ruidosamente.

Foi então que chegou a vez da manifestação do Deputado Lupércio que para não ficar para trás nas "promessas de palanque" lascou durante o discurso, que ao ter assumido recentemente a vice-presidência da Comissão de Aviação do Congresso Nacional, havia falado com o Ministro Silas Rondeau sobre a construção do novo aeroporto de Nova Olinda do Norte e que no próximo mês de Maio com a presença confirmada do ministro Rondeau, estará gravando para exibição em Manaus, ali mesmo naquela maravilhoso local ( sauna) o seu programa "A Hora do Povo" que integra com grande audiência a muitos anos, a indústria televisiva da esperança amazonense.

Não precisa muito para imaginar o que aconteceu em seguida, a quadra de esporte quase veio a baixo. O Prefeito Adenilson, percebendo que os munícipes deram o evento por encerrado com a explosão de elegria, sem que ninguém lhe desse ouvido, agradeceu e partiu para receber os visitantes e convidados para o almoço em sua casa de campo.

Agora, me sinto integrado à torcida para que todas as promessas feitas se concretizem em prol do bem estar e qualidade de vida, justificando finalmente o segundo round de sonhos e expectativas da população de Nova Olinda do Norte que mesmo que seja por pontos merece a vitória tão ansiada por um futuro melhor.

Deixei o município pela tarde e no vôo de volta a Manaus pensei com os meus botões: esse Lupércio é um gênio.

Humberto Amorim (www.humbertoamorim.blogspot.comPosted by Picasa

Jornal impresso

VALE O QUE ESTÁ ESCRITO

Vale o que está escrito. Esta máxima ainda vale para os fatos e, principalmente, para os “não fatos”, esquentados pela maioria da imprensa que se pratica hoje. Essa maioria coloca, no mesmo saco de gatos, acontecimentos relevantes e outros nem tanto que acabam, afinal, se parecendo. A recente performance da cantora Daniela Mercury, em Portugal, por exemplo, ganhou contornos de celebridade nacional. Imediatamente os defensores do governo Lula trataram de compará-la à infeliz participação de Regina Duarte, em 2002. Equivocou-se quem pensou assim. Regina Duarte, apesar de ter sido instrumentalizada pelos seus amigos do PSDB, era de fato uma personalidade nacional, prestígio solidificado durante décadas, não é o caso da cantora. Depois dela vieram, ao menos, quatro ou cinco baianas, quarenta ou cinqüenta cantoras de pagode, 300 ou 3.000 participantes do Big Brother Brasil. O que as diferencia de Daniela Mercury é que elas querem vender discos ou serem fotografadas pela Revista Sexy e Playboy, nada mais. Daniela é diferente - pensa ser celebrizada como artista símbolo, não é. O artigo do jornalista Mauro Carrara, apesar de um pouco longo, coloca uma pá de cal nessa questão. O que sobra é a prova, mais uma vez, que a imprensa atual está mais interessada na repercussão do que na informação, quando não na difamação. Ainda persiste a máxima - vale o que está escrito.

O início da República brasileira deixou documentado um debate de extrema profundidade, sobre os monarquistas e republicanos, pelos jornais da época, por uma razão muito simples. A classe dominante estava dividida, e isso permitiu que os dois lados mantivessem jornais impressos que produziram os tais retratos, sem retoques, da barbárie que vivia o Brasil, no final do século XIX. O ponto de divergência? O que pensavam os dois lados a respeito da Guerra de Canudos e de um caso sinistro, ocorrido na cidade de Araraquara, conhecido como O Linchamento dos Britos. Tal liberdade de imprensa que, lamentavelmente, não ocorre hoje permitiu, com riqueza de detalhes, o registro do período. Essa liberdade que não existe hoje não é fruto de uma censura governamental, trata-se de um processo seletivo que interessa às forças que apóiam e financiam os respectivos órgãos de comunicação. Ainda assim, vale o que está escrito.

Quando vivo, o governador Mario Covas, numa visita ao interior de São Paulo, armou um barraco na cidade de São Carlos quando a imprensa pró Maluf, no dia da visita, tinha creditado ao governador, é claro, os motivos dessa visita. Covas esbravejou e, ao final, lamentou: “daqui a cem anos os historiadores vão procurar documentos da inauguração da... e vão pensar que nessa obra eu só pensava em votos. Não vão procurar, nem encontrar o que ficou esclarecido, futuramente”. Covas teve a perspectiva histórica correta, só não imaginou que seus aliados, no futuro, elegeriam outras vítimas, como o que vem ocorrendo nos dias atuais. Ainda assim, vale o que está escrito.

Quem tem estômago forte vai procurar e encontrar, nos diversos sites e blogues, informações que contrariam frontalmente o que é escrito na imprensa diária. Muitos têm a ilusão de que esses sites e páginas pessoais estão praticando uma imprensa alternativa. Ilusão mesmo, a maioria absoluta da população não tem acesso à internet, e a grande maioria que está acessando só trata de assuntos absolutamente inúteis. Pouco se interessam pelos destinos da Nação. É só conferir. O velho e bom papel do jornal, além de informar produz documentos para a leitura de gerações futuras.

Para finalizar: o esforço de uns poucos jornais, de circulação semanal, que pautam assuntos mais relevantes ajudam, sim, e também produzem documentos para a posteridade, porém, seus efeitos, na atualidade, são reduzidos. Assim sendo, não é demais lembrar a máxima citada acima: “vale o que está escrito, e lido também”.

Não é demais acrescentar: toda força à imprensa e aos jornalistas sérios desse país.

Jair Alves - dramaturgo Posted by Picasa

abril 28, 2006

Tefé inaugura Centro de Atenção Psicossocial (CAPS tipo II)




















No dia 29 de abril de 2006 a Prefeitura do Município de Tefé estará inaugurando um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Em todo o Brasil esse novo modelo de atenção diária à saúde mental já conta com mais de 700 serviços. A Coordenação do Programa de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas estará presente no evento, através dos médicos Rogelio Casado e Jaime Benarrós.

Desde já, parabéns ao psicólogo Ralf Kaiser, coordenador do Programa Municipal de Saúde Mental de Tefé, autor do projeto de implantação do CAPS. Sua experiência num CAPS de São Lourenço do Sul, no estado do Rio Grande do Sul, foi decisiva para a decisão política tomada pelo Prefeito e pelo Secretário Municipal de Saúde de Tefé.

Parabéns, em especial, para a médica psiquiatra Ester Pellizzari, que trabalhou no Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro nos anos 80, foi para Porto Alegre e retornou depois de 21 anos fora do estado do Amazonas. Ester surpreendeu a todos, ao pedir para trabalhar numa pequena cidade do interior do estado. Desejo raro e nobre. Sensibilizada, a Coordenação do Programa Estadual de Saúde Mental deixou-a à vontade para escolher entre três dos sessenta e um municípios que manifestaram o desejo político de criar CAPS: Ester escolheu Tefé. Seja bem-vinda, companheira.

Conheça mais sobre Tefé (fonte: eganet.com.br )

Localização
Tefé é uma cidade pequena do interior do Amazonas. Não possui indústrias ou fábricas. A força do seu comércio está na Feira do Agricultor.
O município de Tefé localiza-se no interior do estado do Amazonas, distante da capital Manaus 516km em linha reta e 633km por via fluvial.

Área Geográfica: 23.705 Km2

Limites: municípios de Coari, Tapuá, Carauari, Alvarães e Maraã.

População: 64.457 habitantes, segundo o último censo do IBGE. Posted by Picasa

abril 27, 2006

"L'acqua invisibile"

Enquanto estava rolando a CPI das Águas do Amazonas na Câmara dos Vereadores de Manaus no ano de 2005, o italiano Andrea Palladino e a amazonense Astrid Lima (manauara do bairro de Aparecida) levantavam recursos para a produção do filme "L'acqua invisibile".

Os amazonenses, e os brasileiros de modo geral, correm o risco de não conhecer esse documentário comprometido com a minha e a tua vida se as empresas de comunicação não manifestarem interesse na sua exibição.

A coisa é tão grave que mereceu um artigo do meu compadre e amigo José Ribamar Bessa Freire, o imortal criador da Coluna Taquiprati, publicada aos domingos no jornal Diário do Amazonas. Se você precisa de mais um argumento para compreender a gravidade da situação, ouça o que disse uma professora da UERJ, de passagem por Manaus, ao estilo bem brasileiro: "A Suez (empresa beneficiada com a privatização da água no Amazonas) chegou por aqui?... Vocês estão f...".

Caramba! O filme do Jorge Bodanski "Iracema" foi proibido no Brasil na época do regime militar, fez o maior sucesso na Europa, e só depois foi aclamado por público e crítica em terras tupiniquins. "L'acqua invisibile" foi bem recebido na Itália. Quando virá para Brasil? Alôôôô, TVs Culturas!... Alôôô, jornalistas do meu Brasil! Hoje estão privatizando as águas do Amazonas, amanhã suas cidades poderão ser as próximas vítimas. Quem se habilita a colocar os autores do filme em contato com as TVs públicas brasileiras?

Saiba mais lendo a sinopse do filme e um artigo inédito de Andrea Palladino escrito para o jornal "Il Manifesto". Acesse o site do "L'acqua invisibile" e veja trechos do filme.


"L'acqua invisibile"

FICHA TÉCNICA

Direção, fotografia e edição: Andrea Palladino e Astrid Lima
País de produção: Itália/Grã Bretanha
Produção: Boker Media Agency Ltd. e Associazione Liblab
Ano produção: 2005
Duração: 58 minutos
Formato original: HDV (1080i)
Músicas: Il sesto continente, de Carlo Micheli / Porto de lenha, de Aldisio Filgueiras e Torrinho

Sinopse

Manaus é a capital geográfica e cultural da Amazônia brasileira. Está situada no encontro dos rios Negro e Amazonas que formam a maior bacia de água doce do mundo. Em Manaus 300.000 pessoas estão vivendo há anos uma paradoxal emergência hídrica: a distribuição da água - privatizada no ano 2000 - alcança somente os bairros centrais e residenciais e a água potável custa mais que na Europa.

História

Em 2005 a Câmara Municipal de Manaus decidiu de abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito para indagar sobre os motivos da falta de água na cidade. A companhia privada responsável da gestão na capital amazonense, "Águas do Amazonas" do grupo francês Suez, declara que os investidores decidiram reduzir os fundos destinados à expansão da rede. A mesma companhia apresentou um pedido de revisão dos termos do contrato de concessão onde solicitava ao Estado cobrir boa parte dos investimentos necessários. Na cidade, no entanto, aumentam as doenças ligadas ao uso de água não tratada (quem não recebe água em casa é obrigado a utilizar poços não controlados), muitas famílias se colocam em fila na frente dos poços enquanto outras enfrentam contas astronômicas (mais de 100 euros ao mês em alguns casos). Como sair dessa situação? A cidade de Manaus realiza um modelo europeu de privatização que não pode funcionar em um país em via de desenvolvimento, onde ao lado de um forte crescimento demográfico encontramos uma das piores distribuição de renda do Brasil. Porto de lenha tu nunca serás Liverpool: cada cidade, cada cultura deve encontrar na própria história, na própria cultura, os recursos e a projetualidade para responder aos desafios da globalização.

Autores

Astrid Lima - brasileira, apresentou, produziu e dirigiu diversos programas televisivos. Em 1992 venceu os prêmios Profissionais do Ano da rede Globo (Brasil), Galo de Ouro no Festival de Gramado (Brasil) e Leão de Bronze no International Advertising Festival di Cannes (França) com o spot "Burning Flag" sobre a destruição da floresta amazônica

Andrea Palladino - italiano, estudou direção e roteiro em Roma e Paris. Formou-se como documentarista em "Ipotesi Cinema" de Ermanno Olmi. Realizou diversos documentários na Itália e no Brasil, onde fez parte da Associação Brasileira de Vídeo Popular.

Produção

Boker Media Agency - sociedade de produção criada em 2005, com sede em Londres. "Água Invisível" faz parte de um projeto de produção de documentários sobre a geopolítica da água.
Associação LibLab - é coprodutora de Água Invisível.



Suez, Rio Amazonas. Água cara e suja.

Quanto pode valer a água na maior bacia de água doce do mundo? Para os habitantes de Manaus, cidade com a face voltada para a gigantesca massa de água do encontro dos rios Negro e Solimões, o acesso ao "ouro azul" custa caro. Mais caro de quanto paga um habitante de Roma. Desde que a distribuição da água foi dada em concessão à Suez - em junho de 2000 - os moradores de uma das maiores cidades amazônicas pagam até 40% a mais de muitos cidadãos europeus. E, em muitos casos, a água não chega nas casas: deve ser carregada cada manhã em camburões dos poços artesianos e transportada por crianças, mulheres e anciãos, por quem tem algumas horas de tempo para enfrentar filas e gincanas entre estradas arruinadas.

Sobre 1.600.000 habitantes, cerca de 300 mil não têm acesso à agua, que chega sobretudo a quem tem possibilidades de pagá-la e onde já existia uma estrutura de distribuição. Eram os anos da privatização dos serviços públicos quando o então governador Amazonino Mendes,
ordenando que a Assembléia legislativa fosse circundada por policiais, aprovou a lei que transformou a distribuição da água em um business, sobre o Rio Amazonas.

"Naqueles anos, um real valia quanto um dólar - explica Samuel Hanam, ex vice-governador - e as empresas estrangeiras eram atraídas pela perspectiva de investir no Brasil". A privatização caiu imediatamente sobre os serviços essenciais que, em um país de 179 milhões de habitantes em forte crescimento, é uma torta particularmente apetitosa. Manaus havia uma companhia de água publica conhecida desde sempre pela sua crônica ineficiência: privatizar, na época, significou criar na população a expectativa por um serviço melhor.


"Ter uma companhia pública em pessimas condições fazia parte do jogo - recorda Eron Bezerra, deputado do PC do Brasil. Os políticos neo-liberais desmantelaram o serviço público para facilitar a chegada das companhias privadas". Para a Suez foi um bom negócio: a companhia
de água - depurada dos débitos - foi comprada por 193 milhões de reais, em contraste com o valor contábil estimado em 480 milhões.


Um bom negócio para a classe politica


Na realidade, também para a classe política foi um bom negócio. Agora ninguém pode culpar o governo pelos problemas com a água: "O Estado não podia interromper o fornecimento com quem não estava em dia com as contas, não era politicamente conveniente, uma empresa privada sim" comenta o ex-presidente da companhia pública de agua (Cosama), Frank Lima. Hoje, porém, poucos em Manaus defendem a privatização. O que aconteceu? O que não funcionou?


A Suez afirma não ter mais possibilidade de investir e, portanto, não poder alcançar os objetivos de cobertura da população indicados no contrato de concessão. O Estado, por outro lado, não pode investir visto que a multinacional francesa adquiriu o monopolio por 45 anos. Além disso a situação da rede de esgosto (também incluída no contrato de concessão) é dramática: menos de 10% da população é ligada ao sistema que, em boa parte, é ainda aquele construído pelos ingleses um século atrás. As doenças relacionadas à água (verminose, malária, dengue, hepatite A e infecções gastro-intestinais) aumentaram e preocupam cada vez mais os médicos locais.


O município, renovado dois anos atrás e guiado por um prefeito apoiado pela esquerda, tentou entender o que não funcionou no processo de privatização deixado em herança pela administração precedente. Durante a audição na Comissão de Inquérito Parlamentar promovida pela Câmara dos Vereadores, o presidente de "Águas do Amazonas" explicou como a Suez tenha considerado estratégico melhorar a qualidade da água, investindo na reestruturação das estações de tratamento (ETA). Nesse sentido os investimentos existiram, o sistema de tratamento foi melhorado pela Degremont, sociedade - sempre do grupo Suez - que se ocupa de instalações de potabilidade. No entanto, o objetivo de cobertura da quase totalidade da população explicitamente prevista no contrato não poderá ser alcançado, afirmou claramente o representante da Suez.


Fernando Paraguassu - presidente de Águas do Amazonas - na realidade vai muito além, afirmando que os verdadeiros problemas são para a própria empresa, que, na realidade, teria sido "enganada": "É como quando se compra um carro de segunda mão... as vezes se encontram
problemas que não se esperavam". A Suez acusa explicitamente o Estado do Amazonas de haver fornecido, na época da venda, dados não verdadeiros, que não refletiam a realidade da cidade. Quem percorre as ruas periféricas de Manaus - mesmo sem ser um experto de infra-estruturas e redes hidrícas - percebe perfeitamente que se trata de uma cidade em forte expansão, com uma dicotomia social terrível, com zonas de grande pobreza e de degradação urbana e social. Ora, então é possível que uma empresa consolidada e experta como a Suez se tenha deixado "enganar" pelo governo do Estado do Amazonas?


Para entender o que está por trás dessa estratégia aparentemente perdida da multinacional francesa precisamos voltar ao início de 2005 quando Águas do Amazonas finalmente mostrou as próprias cartas, apresentando ao município de Manaus um projeto de revisão do contrato
de concessão. A palavra de ordem é PPP, Parceria Público-Privado. Em 2002 o presidente da Suez, Gèrard Mestrallet, apresentou ao então presidente da Comissão Européia, Romano prodi, um "Apelo para uma verdadeira batalha da água": "Somos contra a privatização desse bem
natural e propomos às instituições públicas de criar ações conjuntas". Águas do Amazonas segue hoje essa linha, propondo ao poder público no Brasil de encarregar-se dos investimentos necessários para a expansão das redes de distribuição da água e do sistema de esgosto. Será papel da empresa privada, por outro lado, administrar as estruturas e recavar os lucros. Além disso, para evitar eventuais problemas em relação à qualidade do serviço, a Suez propõe de dividir a cidade em duas áreas: a área "consolidada", onde a água distribuida será potável e a área de "expansão" (isto é, boa parte da periferia) onde o respeito pelas normas de potabilidade não poderá ser garantido. Uma espécie de apartheid social da água.


O problema da água em Manaus - como em toda a América Latina - é, nesse aspecto, uma questão social e não mais econômica ou tecnológica. A água é um indicador de status: se é potável significa que foi paga, que se está no estreito grupo "consolidado". Se, ao contrário, se mora na periferia, ganhando um salário mínimo e não podendo se permitir de pagar contas que muitas vezes chegam a dezenas de euros ao mês, a água se transforma em um bem impossível de ser usada e provavelmente é veículo de doenças muitas vezes mortais.


O papel da sociedade civil


O modelo Suez de gestão da água prevê também - no âmbito da Parceria Público Privado - a participação da sociedade civil. Com um projeto que consentiu de vencer o World Business Award nos anos passados, a multinacional francesa se põe aos olhos da opinião pública como um modelo de business social. Uma publicação do World Business Council for Sustainable Development (organização formada por 180 empresas multinacionais com sede na Suíça) explica nos detalhes o modelo proposto pela Suez, fazer negócio com os pobres: " Trata-se estritamente de negócio, de novos negócios e de novos mercados, negócios os quais beneficiam os pobres e as empresas" (Haciendo negocios con los pobres. Una guia de campo, Wbcsd 2004). E como se faz negócios com os pobres no mercado da água? O caso Suez/Manaus é citado como exemplo. No ano 2002 - entendendo que somente com o consenso e a participação direta da população era possível fazer negócio com a água nas zonas mais pobres - a Suez, junto com a ong "Essor" e a cooperação francesa, criou uma associação de moradores em um dos bairros mais pobres da cidade. A associação se ocupa da distribuição das contas de água, do recolhimento de dados dos novos clientes, de convencer quem tem dívidas acumuladas com a companhia a tentar pagar através de prestações, de mediar todas as situações que possam criar problemas. Em troca a associação recebe 2% do faturado efetivamente pagado na zona. Em outras palavras, é o teu vizinho quem vira representante da companhia de água e quem te convence que é justo pagar.

A Suez cita o projeto como exemplo: mediante um fornecimento de 12 metros cúbicos de água por mês a cada família a conta tem um valor fixo de 16 reais. Na realidade a água fornecida à população do Mauzinho é decisivamente superior (pelo menos 50 metros cúbicos) mas a
companhia fecha um olho, visto que a experiência cobre relativamente poucas famílias. O projeto vira, desse modo, a demonstração de que fazer negócio com os pobres convêm a todos: a partir do momento que são os próprios cidadãos a distribuir as contas (e a ganhar em percentual) a taxa de inadimplência caiu abaixo da média. É também verdade que a associação incentiva a população a denunciar o vizinho em casos de "gatos". Um verdadeiro negócio mas não para os pobres.


Andrea Palladino
Publicado no jornal "Il Manifesto" - 10/03/2006. Posted by Picasa

abril 25, 2006

Solidariedade aos companheiros do movimento antimanicomial do Rio Grande do Sul

Tem muito macaco sábio na cena política e social brasileira. Na hora do "vamos ver" eles não ouvem, não veêm e não falam. No momento em que os companheiros do Rio Grande do Sul lutam contra a ameça que paira sobre a Reforma Psiquiátrica gaúcha, o Amazonas solidariamente põe a "boca no trombone".

Logo mais na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul os companheiros mentaleiros estarão se manifestando pela não aprovação do PL 040, do deputado Adilson Troca. Nós também dizemos NÃO AO PL 040. Diga NÃO você também.

Envie e-mail dos Deputados Pedro Westphalen e José Farret (respectivamente Presidente da Comissão de Saúde e Relator do GT sobre o PL 040): pedro.westphalen@al.rs.gov.br e jose.farret@al.rs.gov.br . Diga não ao PL 040.

Leia a carta do Conselho Regional de Psicologia do RGS e a carta do Instituto de Psicologia da UFRGS e entenda a natureza do movimento e a gravidade do momento caso seja aprovada o PL 040 do deputado Adilson Troca.


AL/RS
Comissão de Saúde
Ilmo Sr. Presidente
Dep Pedro Westphalen


Caros deputados:

A entidade representativa dos profissionais de psicologia do Rio Grande do Sul vem através desta reiterar a posição defendida acerca da Reforma Psiquiátrica no Rio Grande do Sul ao longo dos debates promovidos no Grupo de Trabalho que integrou para este fim.
Como parte da categoria de trabalhadores que participou ativamente das discussões resultantes na Lei da Reforma Psiquiátrica e de Proteção aos que Padecem de Sofrimento Psíquico, de 1992, (Lei Estadual N° 9.716) o Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul entende que a aprovação do PL 040 representaria um retrocesso inaceitável nas políticas de saúde mental de nosso Estado.

Consoantes às argumentações amplamente debatidas no GT em que tomamos parte de que há muito que avançar para que os princípios preconizados pela Legislação nacional e regional da Reforma Psiquiátrica se realizem em sua plenitude, consideramos que a por todos almejada qualificação do atendimento em saúde mental do RS realizar-se-á no cumprimento dos aspectos ainda mal interpretados e/ou mal implementados da Lei vigente e não em sua descaracterização (como, por ex., a transformação de hospitais psiquiátricos em hospitais gerais mediante substituição progressiva de leitos psiquiátricos - § 1º do art. 3º - ou a determinação de que fossem abertos novos leitos psiquiátricos em hospitais gerais - arts. 4º e 5º da Lei Estadual N° 9.716).

Isto significa, em nosso entender, que todo este grupo prioritariamente interessado na qualificação e expansão dos serviços e melhoria do atendimento àqueles que padecem de adoecimento psíquico deveria fazer convergir seus esforços na reivindicação de redirecionamento dos recursos públicos destinados à saúde em nosso Estado, focalizando-os na ampliação da Rede de Atendimento e dispositivos de cuidado que possam evitar e minimizar os períodos das internações psiquiátricas ao invés de solicitar a destinação de ainda mais verbas para os altos custos hospitalares.

Pelo aqui exposto e anteriormente apresentado através da participação de nossos representantes durante os trabalhos do GT, posicionamo-nos contrários à aprovação do PL040 e apoiamos o projeto de Lei de autoria da deputada Miriam Marroni que altera o artigo 5º da Lei N° 9.716, retomando a obrigatoriedade dos hospitais gerais de disporem de leitos psiquiátricos.
Sendo o que tínhamos para o momento, aproveitamos o ensejo para parabenizar esta Casa pela iniciativa e empenho demonstrado na coordenação dos trabalhos do Grupo. Atenciosamente,

Graça
p/ CRP


AL/RS
Comissão de Saúde
Ilmo. Sr. Presidente
Deputado Pedro Westphalen


Caros deputados:

O Instituto de Psicologia da UFRGS, através de seu departamento de psicologia social e institucional, vem desenvolvendo pesquisas e trabalhos em nível de extensão universitária na área de saúde mental coletiva alinhados às políticas públicas atuais. Entre esses, a questão da Reforma Psiquiátrica brasileira e especialmente no RGS tem merecido nossa especial atenção à ex. de trabalhos como (pesquisa Tânia, vídeo Ilhas urbanas...).

Nossa relação com esta temática, relaciona-se não apenas ao interesse pela qualificação e atualização dos futuros profissionais de saúde que formamos, como também pelo incremento da função social da universidade mediante a contribuição que nossa área profissional pode prestar junto às políticas públicas regionais. Neste sentido, nossos professores, pesquisadores e alunos têm acompanhado de perto os debates em torno da Lei da Reforma Psiquiátrica e de Proteção aos que Padecem de Sofrimento Psíquico (Lei Estadual N° 9.716) de 1992 e fizeram-se representar no GT organizado na Comissão de Saúde da AL para análise da proposta de revisão a esta legislação através do PL40 em tramitação nesta Casa.

Os resultados dos diversos estudos e trabalhos que vimos realizando no campo das políticas públicas em saúde mental no Rio Grande do Sul, a análise de pesquisas e documentos internacionais que têm citado a experiência gaúcha de desinstitucionalização manicomial como exemplar, bem como o as avaliações atualizadas que o rico debate promovido pelo processo de discussão do Grupo de Trabalho promoveu permite-nos reiterar a posição em defesa da manutenção e ampliação da legislação vigente e solicitar a não aprovação do PL40.

Em contrapartida, aproveitamos a louvável iniciativa desta Assembléia ao abrir o espaço do GT para que os diferentes segmentos envolvidos com o problema se manifestassem e sugerimos, como passo adiante no processo de melhoria do atendimento em saúde mental que reuniu a todos nós, a aprovação do projeto de Lei de autoria da deputada Miriam Marroni que altera o artigo 5º da Lei N° 9.716, propondo que "Os hospitais gerais no Estado, tanto os em construção quanto os já instalados, deverão oferecer serviço de atendimento para pacientes que padeçam de sofrimento psíquico, atendendo as necessidades de leitos psiquiátricos locais e/ou regionais conforme a demanda".

Agradecendo mais esta oportunidade de contribuição com a qualidade do atendimento em Saúde oferecido pelo nosso Estado, subscrevemo-nos atenciosamente

p/ depto. Psico Social
Porto Alegre, 24 de abril de 2006.
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abril 24, 2006

O irremediável coletivo XII

Foto: Rogelio Casado, Manaus/Amazonas, 21.04.2006
Aos novos companheiros, cuidadores de saúde mental, quero lembrar a advertência do companheiro Marcus Vinicius de Oliveira, psicólogo, da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial: "Quando a gente se envolve com esse tipo de projeto , não basta estar ali com nossos esforços, com nossos talentos técnicos, é preciso agregar algo mais, é preciso uma forte vontade de que a vida daqueles sujeitos que até hoje têm sido uma seqüência de tragédias e transtornos para estes e suas famílias, possa efetivamente se transformar em uma nova vida". Posted by Picasa

O irremediável coletivo XI

Foto: Rogelio Casado, Manaus/Amazonas, 21.04.2006
Para manter os portadores de sofrimento mental no convívio social, os novos cuidadores de saúde mental precisam ir além do que os saberes profissionais foram capazes de oferecer até hoje. É preciso superar as tecnologias aprendidas nas universidades, pois elas não são suficientes para administrar a relação entre a sociedade e a loucura. Posted by Picasa

O irremediável coletivo X

Foto: Rogelio Casado, Manaus/Amazonas, 21.04.2006
Manter os portadores de sofrimento mental no convívio social é o grande desafio dos novos cuidadores em saúde mental. Para isso é preciso ir além do que os saberes profissionais ofereceram até hoje no Amazonas. É preciso superar as tecnologias aprendidas nas universidades, pois só elas não dão conta de administrar a relação entre a sociedade e a loucura. Posted by Picasa

O irremediável coletivo IX

Foto: Rogelio Casado, Manaus/Amazonas, 21.04.2006
No campo da saúde, a Rede Diária a Atenção à Saúde Mental deve ser articulada à rede de serviços de saúde, tanto do estado como do município. Só assim serão atendidos os princípios de atenção integral à saúde dos cidadãos portadores de sofrimento mental. Posted by Picasa

O irremediável coletivo VIII

Foto: Rogelio Casado, Manaus/Amazonas, 21.94.2006
No campo da saúde a Rede Diária de Saúde Mental deve ser articulada com a a rede de serviços de sáude, tanto do estado como do município. Só assim serão preservados os princípios de atenção integral à saúde dos cidadãos. Posted by Picasa

O irremediável coletivo VII

Foto: Rogelio Casado, Manaus/Amazonas, 21.94.2006
Uma da Rede de Atenção Diária à Saúde Mental não existe sozinha; ele deve estar articulada com um conjunto de equipamentos sociais, culturais e de saúde. Posted by Picasa

O irremediável coletivo VI

Foto: Rogelio Casado, Manaus/Amazonas, 21.04.2006
Se depender apenas da alegria e do entusiasmo dos novos cuidadores em saúde mental, o Amazonas terá um nível de atenção em saúde mental até então desconhecido. Posted by Picasa

O irremediável coletivo V

Foto: Rogelio Casado, Manaus/Amazonas, 21.04.2006
Para o sucesso do novo projeto de cuidados em saúde mental é fundamental a criação de uma Rede Diária de Atenção à Saúde Mental. Posted by Picasa

O irremediável coletivo IV

Foto: Rogelio Casado, Manaus/Amazonas, 21.04.2006
Um novo modo de olhar, de sentir, de escutar e de pensar a saúde mental está em construção no Estado do Amazonas. Posted by Picasa

O irremediável coletivo III

Foto: Rogelio Casado, Manaus/Amazonas, 21.04.2001
Mais que um projeto técnico, o Amazonas apresenta para a sociedade um projeto ético de cuidados em saúde mental. Posted by Picasa

abril 23, 2006

O irremediável coletivo II

Foto: Rogelio Casado, Manaus/Amazonas, 21.04.2006
No dia 21 de abril de 2006, três meses depois do esvaziamento das perversas filas de espera no Ambulatório do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, que chegou a vergonhosa marca de 8 meses de espera, um novo projeto de sáude mental nasceu no Amazonas. Posted by Picasa

O irremediável coletivo I

Foto: Rogelio Casado, Manaus/Amazonas, 21.04.2006
Momentos finais da Oficina de Trabalho para Recursos Humanos da Rede de Atenção Diária em Saúde Mental, no auditório Silvério Tundis do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro. Posted by Picasa

abril 22, 2006

21 de abril: rumo ao primeiro CAPS da cidade de Manaus

Foto: Sabrina Norat, Auditório Silvério Tundis, 21.04.2006
Sentado ali no meio do auditório Silvério Tundis, do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, pouco antes do meio-dia do dia 21 de abril de 2006, fotografando a última dinâmica de trabalho conduzida pelo musicoterapeuta Alvano Mutz, quando todos cantavam Travessia, de Milton Nascimento e Fernado Brant, tive a convicção de que havíamos retomado o curso da história da Reforma Psiquiátrica no Amazonas, com uma diferença: enquanto em janeiro de 1980 o clima era de gravidade, pois havíamos denunciado o conluio entre corrupção administrativa e violência aos direitos humanos no único serviço público de saúde mental do estado, desta vez, em abril de 2006, havia alegria e muito entusiasmo com a proximidade da implantação do primeiro CAPS na cidade de Manaus.

Tal era a alegria que emanava de cada um dos mais de 100 participantes da Oficina de Trabalho para Recursos Humanos da Rede de Atenção Diária em Saúde Mental, todos cantando a canção mais emblemática de geração de Silvério Tundis e Humberto Mendonça, que não pude deixar de lembrar dos meus dois amigos. Foram mais do que colegas de turma na Faculdade de Medicina. Com eles vivi a mais forte relação de amor e ódio que companheiros dos mesmos ideais podem compartilhar no plano da existência pessoal e dos projetos coletivos da nossa época.

O paulista Humberto Mendonça morou na residência oferecida aos estudantes de medicina no então Hospital Colônia Eduardo Ribeiro, época em que a Secretaria Estadual de Saúde usava a mão de obra gratuita dos universitários vindos de fora do estado, contratando-os a preço vil como plantonistas do velho manicômio. Foi o primeiro estudante a denunciar a precarização do serviço, a indiferença para com os portadores de sofrimento mental. Conheci-o antes disso. Cursamos juntos o terceiro ano do segundo grau no Colégio Dom Bosco, onde nos preparamos para o vestibular. Com ele fiz minha residência médica em psiquiatria na cidade de Diadema/SP, na Comunidade Terapêutica Enfance e no Instituto de Psiquiatria Social (junto com a Associação Mineira de Psiquiatria e o Sociedade Brasileira de Psicodrama, ambas foram responsáveis pela vinda de Franco Basaglia ao Brasil em 1978). Sua morte em 1981, em São Paulo, deixou um vazio insubstituível. Seu desaparecimento prematuro aconteceu às vésperas de visitar os amigos e familiares que moravam em Manaus (os irmãos Jorge e Luís, ambos médicos, até hoje residem no Amazonas), quando eu e Silvério usaríamos todo nosso poder de persuasão para que ele voltasse a fixar residência em Manaus, e, mais do que isso, se incorporasse ao projeto de humanização e democratização do hospital psiquiátrico (estávamos a 6 anos do surgimento da bandeira mais radical do movimento dos trabalhadores de saúde mental: criar uma sociedade sem manicômios). Juntos aprendemos os primeiros passos na fotografia. Juntos divulgamos o jornal da imprensa nanica "Movimento". Juntos fizemos explodir em palmas o III Congresso Brasileiro de Psiquiatria, ocorrido na cidade do Ceará, em 1976, numa conjuntura de passividade do setor de saúde mental, especialmente entre os medalhões da psiquiatria tradicional. Juntos fomos pedir à benção do "velho" psiquiatra Luís Cerqueira, livre docente da Universidade de Ribeirão Preto, a caminho da Comunidade Terapêutica fundada por Osvaldo Di Loreto (o primeiro conhecemos no referido congresso, quando ele desceu as escadas do Centro de Convenções de Fortaleza, para me cumprimentar depois da leitura de um verdadeiro manifesto escrito por Humberto Mendonça - uma carta intitulada "Contribuição Crítica dos Estudantes Brasileiros ao III Congresso Brasileiro de Psiquiatria" -, e que li para um auditório lotado: "Vim lhe cumprimentar, meu jovem. Acabei de dizer para um antigo psiquiatra, que não sabe o que os jovens desejam, que ia lhe cumprimentar pois por causa de filhos-da-puta como ele esse mundo não muda" - foram com essas palavras que fomos "batizados" por um dos mais corajosos psiquiatras que conhecemos em vida, e que desde os anos 60 denunciava que o hospital psiquiátrico brasileiro estava doente) . Com Humberto Mendonça - o Beto - aprendi a sonhar com uma outra sociedade, mais fraterna, mais justa e mais solidária.

Com o amazonense Silvério Tundis, em plena vida profissional, dividi os primeiros passos na implantação da Reforma Psiquiátrica no Amazonas. Também o conheci no mesmo curso preparatório para o vestibular. Narrar todos os acontecimentos que vivi com Silvério daria um livro. Inúmeras eram suas qualidades, a alegria, talvez, a maior delas. Transitava entre as gentes da esquerda à direita com desembaraço sem igual. Por ambas foi paparicado, e só levou na cabeça com os últimos, que até hoje se apropriam da sua memória, sem que isso enriqueça seu vasto currículo em prol das lutas sociais. Na greve de fome que fiz em 1987, quando se prenunciava a estagnação por que passaria a saúde mental no Amazonas, decidi com outros companheiros pela sua saída de Manaus em busca de apoio para a causa; tamíamos o assédio da direita a querer lhe cobrar o preço dos homens que encarnam papéis que nem um outro poderia fazê-lo sem comprometer seus ideais e sua ética. Foi a única vez que vivemos à distância o duro percurso da Reforma Psiquiátrica dos anos 80. Sua morte no início dos anos 90 deixou o Salgueiro sem seu mais amoroso brincante, mas, sobretudo, deixou todos os que lhe conheceram órfãos do seu bom humor e do seu amor à vida.

A data de 21 de abril de 2006, no calor do encontro de mais de uma centena de novos profissionais cuidadores de saúde mental, ficará para sempre na minha memória. Sentado no chão, no meio do auditório Silvério Tundis, ouvindo uma das mais belas canções de dois integrantes do Clube da Esquina, senti que estava em comunhão com os ideais dos meus amigos. Um sentimento de paz me tomou inteiramente, certo de que continuo a honrar a memória dos meus mortos queridos. Absorto em minhas memórias, quase não me dei conta do gesto mais afetivo de que fui alvo ultimamente: Jaime Benarrós, médico psiquiatra, que liderou todo e desenvolvimento da Oficina de Trabalho, vendo-me que estava em estado de transe, correu em minha direção, sentou-se ao meu lado no chão, e começou a chamar um a um dos velhos e novos companheiros de trabalho para dividir comigo o chão que outrora abrigou anônimos cidadãos em intenso sofrimento mental. Eu, que raramente apareço em fotografias, tive arrancada das mãos minha máquina fotográfica, e eis-me aqui, fotografado pela terapeuta ocupacional Sabrina Norat, num dos mais belos momentos da minha história na Reforma Psiquiátrica do Amazonas. Valeu, companheiros! A luta e a vida continuam. Posted by Picasa

Ribamar Bessa na TV Câmara: imperdível


O criador da Coluna Taquiprati, o imortal José Ribamar Bessa Freire, amazonense da gema, estará nesse final de semana até a segunda-feira na TV Câmara. Leia com atenção a nota da TV Câmara - Comitê de Imprensa e fique ligado nos horários em que o programa será reprisado. Todo o bairro de Aparecida estará ligadinho na entrevista do filho da dona Elisa; e, também, a baixada Santista, o Rio de Janeiro (onde reside o entrevistado), os estados do Pará, Acre, Rondônia, Roraima e Amapá, além dos estados do Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul... e todos os lugares onde Ribamar Bessa ministra cursos para as comunidades indígenas... Também vão estar ligados o pessoal da Funai, da Funasa... Se liga, maninho!

TV Câmara - Comitê de Imprensa

José Ribamar Bessa Freire, estudioso da história das línguas indígenas, é o convidado do Comitê de Imprensa desta sexta-feira, 21 de Abril.
Ele é jornalista, professor, antropólogo, historiador e doutor em literatura comparada. Mas não atua mais no dia a dia das redações, não é formado em antropologia, não tem qualquer título de historiador e apesar de doutor em literatura, não trabalha com o tema. Nada disso o impede de ser uma das principais referências quando se fala em línguas e culturas indígenas no Brasil. No Comitê de Imprensa desta semana, Ribamar Bessa fala do futuro da língua indígena e sua preservação e critica a falta de preparo dos jornalistas na abordagem das questões indígenas.
HORÁRIOS
O Comitê de Imprensa, apresentado pelo jornalista Paulo José Cunha, vai ao ar todas as sextas-feiras às 23h na TV Câmara. Reprises aos sábados às 4h30, 13h e 21h; domingos às 9h30, 15h30 e 22h e segundas às 7h30, e 11h.
COMO ASSISTIR
A TV Câmara pode ser sintonizada no canal 27 em UHF no Distrito Federal e nos canais 14, da NET (no DF); 28, da Sky Net; 16, da TECSat; 235, da Direct TV; 67, da TVA (grande São Paulo) e por antena parabólica em todo o País. Na Internet, a TV Câmara pode ser assistida ao vivo pelo endereço www.camara.gov.br. Os programas também ficam armazenados no site e podem ser conferidos posteriormente.

Acesse fotos em alta resolução desta edição do Comitê de Imprensa no banco de imagens da Câmara. Endereço: http://intranet2.camara.gov.br/internet/bancoimagem. (Procurar nas imagens de terça-feira, 18/04)

Produção: Shirley Farias
Fone: 3216-1638 / 8115-0610
E-mail: comitedeimprensa@camara.gov.br
Aproveitem também e agendem:

Assista no sábado, às 22h, na TV Comunitária de Brasília, canal 8 na NET ou www.tvcomunitariadf.com.br, vídeo inédito "Massacre dos Carajás" sobre o assassinato de 19 trabalhadores rurais sem terra e mais de 160 feridos. Na segunda 17, serão dez anos de impunidade.

Paulo Miranda
Diretor da TV Comunitária de Brasília

abril 21, 2006

Recado ao povo mentaleiro

Porto Alegre: urgente. De um recado enviado por Míriam Dias.

Estão querendo por a Reforma Psiquiátrica do Rio Grande do Sul na lata do lixo da história. Projeto de Lei do deputado Adilson Troca chegou à Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa. Ali foi criado um GT para debater o projeto, resultado de um Audiência Pública que ocorreu na Assembléia Legislativa no ano passado (2005). Valeu a mobilização do povo mentaleiro, do Conselho Regional de Psicologia, do Fórum Gaúcho de Saúde Mental e das Comissões de Direitos Humanos e de Saúde da Assembléia. Até aí, morreu Neves. Ocorre que o jornal Zero Hora, nas semanas que antecedem a reunião final do GT disparou uma série de reportagens que estão a confundir a opinião pública (égua, maninho! - a mesma coisa tá acontecendo no Amazonas, só porque os mentaleiros daqui estão a desativar o hospital psiquiátrico para dar lugar a um hospital de clínicas; até foram identificados como os "guardiães da Bastilha" por um jornal local). A reunião ocorrerá no dia 25 de abril, às 10 horas, na Comissão de Saúde.

Moral da história: sem movimento social não há reforma psiquiátrica que se sustente.

Por isso, preste atenção: Miriam Dias, mentaleira até a raiz do cabelo, avisa que o deputado Pedro Westphalen (Presidente da Comissão de Saúde, de Cruz Alta) está solicitando a manifestação por escrito das entidades inscritas, se são a favor ou CONTRA o PL 040, como é conhecida o projeto do deputado (de que partido mesmo, Miriam - que é pra gente lembrar dele nas eleições vindouras?), e que o SIMERGS (verdadeiro autor do projeto: adivinhem o que quer dizer este acrônimo? Adivinhou? Barbaridade, tchê! Que vergonha!) está colocando toda a sua força política para sua aprovação.

Míriam Dias lembra que "nós só temos (E NÃO É POUCO!!) a força da nossa luta e dos resultados que estamos obtendo a partir do trabalho de cada serviço e da força dos seus usuários".

Detalhe: depois que o GT elaborar o parecer, cujo relator é o deputado José Farret (de Santa Maria: alô povão da região - todo mundo em cima dele!), vai para apreciação da Comissão de Saúde e depois para votação no plenário.

IMPORTANTE: Agora temos que convocar a manifestação de todos aqueles que defendem a Reforma Psiquiátrica, e continuam lutando para a sua total efetivação, pois este é o nosso desafio, diz Míriam Dias. Ela afirma que, para atender a solicitação do deputado do GT, lembremo-nos de Mário Testa: só se faz mudança a partir da lógica instituída: se querem manifestação escrita, terão.

Tem mais: todos estão convocados para a "boa pressão" sobre cada deputado e sobre os líderes das Bancadas na Assembléia.

Esse blog entra na luta para ajudar a intensificar manifestação de apoio à luta dos mentaleiros gaúchos . Que tal enviar mensagens de repúdio ao PL 040? Que tal nos manifestarmos em apoio à Reforma Psiquiátrica do Rio Grande do Sul? Basta dizer que você (ou sua entidade) é contra a aprovação do projeto do deputado Adilson Troca. Vamos entupir de mensagens as caixas dos deputados: pedro.westphalen@al.rs.gov.br e jose.farret@al.rs.gov.br . E os gaúchos que puderem estar na reunião do dia 25/04 na Comissão de Saúde, desde já se habilitem.

A Lei de Reforma Psiquiátrica do Rio Grande Sul, de autoria do ex-deputado Marcos Rolim (PT-RS), aprovada em 30.06.92 e sancionada en 07.08.82 (primeira lei do Brasil, segunda da América Latina) estará seriamente ameaçada se não nos manifestarmos contra o retorno do modelo manicomial, agora inteiramente maquiado para atender interesses da psiquiatria conservadora.

Saudações antimanicomiais!

Rogelio Casado

Nota: Míriam Thais Gutierres Dias é Assistente Social, Mestre em Serviço Social (PUC-RS). Professora Assistente e Coordenadora de Estágios do Curso de Serviço Social da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Seu artigo "Manicômios: sua crítica e possibilidade de superação", publicado no livro Saúde Mental: Transpondo as Fronteiras Hospitalares Dacasa - Editora, Porto Alegre, 1997 - é leitura obrigatória.

abril 20, 2006

A arte de manusear a tabatinga

Foto: Rogelio Casado, Urucurituba/Am, 1982
Taí a tabatinga encontrada nas barrancas do município de Urucurituba. Nações indígenas que habitavam o Médio Solimões usavam essa argila na fabricação de utensílios e na confecção da sua arte: uma cultura que deixa vestígios a nos interrogar. E agora, José? Posted by Picasa

Com quantos cacos se faz uma história?

Foto: Rogelio Casado, Urucurituba/AM, 1982
Urucurituba repetiu a mesma história de tantos outros sítios arqueológicos onde foram erguidas as cidades amazônicas. Posted by Picasa

O exemplo de Urucurituba

Foto: Rogelio Casado, Urucurituba, 1982
O exemplo de Urucurituba não pode se repetir. Posted by Picasa

Detalhes das peças arqueológicas encontradas em Urucurituba

Foto: Rogelio Casado, Urucurituba/AM, 1982
Quanto vale a preservação de uma cultura? Posted by Picasa

Peças arqueológicas do artesanato de uma das culturas dos povos indígenas do Médio Amazonas

Foto: Rogelio Casado, Urucurituba/Am, 1982
Centenas de peças do artenato indígena localizado no sítio arqueológico onde foi construída a nova sede de Urucurituba teriam saído do município sem nenhum controle à epoca do seu "descobrimento". Posted by Picasa