Quando o musicoterapeuta Alvano Mutz - contratado temporariamente pela Secretaria Estadual de Cultura para atuar no Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro- colocou todo mundo para cantar no I Encontro de Profissionais Cuidadores em Saúde Mental do Amazonas, tive a convicção de aquele ato simbolizava o fim de um período da história da Saúde Mental na cidade de Manaus. Depois de uma década de estagnação da Reforma Psiquiátrica - década de 90 - o setor dá sinais de ruptura com a leitura psicologizante e psiquiatrizante dos graves problemas decorrentes da exclusão da loucura do convívio social, que ameaçam práticas ambulatoriais descomprometidas com a criação de um novo paradigma em atenção à saúde mental.
É fato que o Amazonas, por todo os anos 80, concorreu para impedir que por aqui se perpetuasse o trágico destino de milhares de cidadãos que ainda vivem em hospícios no Brasil. Ocorre que a ascensão de grupos políticos de centro-direita promoveu uma "caça às bruxas", encontrando no próprio setor atores sociais dispostos a encenar a farsa de uma reforma de araque, que levaria o Amazonas a se distanciar das conquistas que se expandiram pelo país, ali onde havia governos com compromissos populares.
Por pouco não perdemos o bonde da história. A duras penas, desde o limiar do novo século, com um atraso de mais de 10 anos, voltamos a pegar o alegre bonde da história.
O fato é que, doravante, a mediação dos agentes "psi" entre a loucura e a sociedade passa a contar com outros profissionais que até então não costumam ter visibilidade na nossa sociedade. O que é, no mínimo, uma injustiça para com o musicoterapeuta Alvano Mutz. Pelas mãos desse experiente profissional, na festa de confraternização do natal de 2005, o coral "Viva Voz" - uma criação sua -, composto por usuários em tratamento ambulatorial do Hospital Psiquiátrico "Eduardo Ribeiro", emocionou a todos que compareceram ao evento, em particular o Governador do Estado, Eduardo Braga.
Um agradecimento especial devemos ao Secretario Estadual de Cultura, Robério Braga, pelo voto de confiança dado à Coordenação Estadual do Programa de Saúde Mental, com quem foi pactuada tão importante iniciativa. Que o contrato de Alvano Mutz seja renovado, é tudo o que precisamos para consolidar uma experiência inédita no campo da saúde mental: música como bálsamo para as dores nossas de cada dia.
Rogelio Casado
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