
A Associação Chico Inácio, no momento em que profissionais cuidadores em saúde mental estão empenhados na substituição do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro por um Hospital de Clínicas, - incluindo aí os cuidados com os portadores de sofrimento mental -, quer trazer sua contribuição através do assinalamento de alguns observações da companheira Ana Marta que, como nós, é filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial.
Diz ela que algumas experiências de reforma psiquiátrica, seja no âmbito clínico, seja no âmbito gerencial, foram fortemente marcadas pelo discurso "psi", o que gerou uma aceitação "natural" deste discurso e seus efeitos na sociedade. Não raro reduziram suas práticas à humanização da instituição, ao supor que a instituição estava doente, e que era preciso tratá-la, e que as psicoterapias de grupo ou técnicas afins eram elementos de socialização básicos para as pessoas loucas. Essa atitude impediu a invenção de recursos que permitessem aos portadores de sofrimento mental viver e produzir fora do espaço institucional. Com isto, foi reforçado o pressuposto de que lugar do louco é na instituição, e não na cultura.
Sabemos que não é essa a idéia que motiva os profissionais cuidadores em saúde mental do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro. Mas "é preciso estar atento e forte, é preciso não temer a morte" do antigo modelo, afinal não se trata de construir dentro da instituição um "mundo melhor" para os usuários. Trata-se, sim, segundo Ana Marta, de um projeto radical de construção da cidadania do portador de sofrimento mental, e de não superestimar o papel de mediação dos agentes "psi" entre a loucura e a sociedade. Trata-se de não mais aceitar uma leitura psicologizante dos graves problemas representados pela exclusão da loucura, pois que a psicologização de tais problemas é sempre correlata à sua despolitização.
Ana Marta, ao relembrar Basaglia e Foucault, afirma: "o processo histórico de exclusão da loucura não tem raízes na natureza da loucura, não são características inerentes ao sujeito louco que geram tal exclusão; este processo resulta de uma série de embates, enfrentamentos, correlações de força, no âmbito de uma cultura que acredita demasiadamente em sua própria razão"
Ao tempo que relembramos a importância da releitura da obra da companheira Ana Marta Lobosque "Experiências da Locura", publicada pela Editora Garamond, em 2001, tornamos público, a quem interessar possa, que a Associação Chico Inácio é parceira dos profissionais cuidadores em saúde mental no processo de emancipação dos portadores de sofrimento mental, sem perdermos a independência, a crítica e a ternura.

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