A pergunta é simples e direta: quem são esses candidatos que disputarão as eleições à presidência da Republica este ano? Em tese, alguns nomeados pela imprensa diária. De fato e direito, apenas um ou dois, dos chamados partidos pequenos - PPS e Psol são verdadeiramente candidatos. Nenhum deles, no entanto, concorrendo oficialmente, ainda. O atual presidente Lula continua relutando lançar sua candidatura, antes do prazo limite a que tem direito.
O partido que tem sido o fiel da balança, o PMDB, está literalmente dividido nesse momento, não sabe ainda se terá candidato próprio. O dito candidato da oposição, apesar de postular-se como tal, ainda corre o risco de desocupar a moita, caso sua aventura não decole, como é dito dentro de seu partido. Nessa semana, um malfadado bloguista, de um dos maiores jornais sediados na capital de são Paulo, acabou dando a pista do que vem ocorrendo nos bastidores - o candidato do eixo PFL/PSDB pode não ser o ex-governador de São Paulo. E aí, como ficamos?
Tomando a liberdade de falar em nome da maioria do povo brasileiro, afinal, que mal há nisso, se virou moda parlamentares ‘indignados’ vir à tevê e aos jornais, falando em nome da dignidade do povo brasileiro, ofendido com as mazelas cometidas pelo atual governo federal?! Como não nos sentimos aviltados com as mesmas coisas, tomamos a liberdade de falar àquilo que, em nossa modesta opinião, é uma pouca vergonha, uma ilegalidade.
A rede formada por parlamentares do PSDB, PFL e setores significativos da imprensa diária bombardeou o governo Lula, desde os seus primeiros dias, mas não teve como explicitar qual seria o seu programa de governo. A que virão, afinal? Nem ao menos foram capazes de reformar o Palácio Alvorada, em oito anos de reinado; se nem ao menos conseguiram substituir o avião presidencial, em frangalhos!!! O que poderiam oferecer, agora, para o povo brasileiro? Segurança? Não parece mais factível essa promessa, pois uma delegada carioca, cuja missão diária é investigar e perseguir traficantes, veio à tevê e disse: “não adianta matar bandidos e colocar os chefões na cadeia, estamos fazendo isso, nas ultimas duas décadas, e não acabamos com o crime organizado, ele prosperou! Precisamos impedir que os bandidos continuem nascendo e prosperando!” E disse, ainda: “não se acaba com o tráfico, quando a classe média e principalmente as mais favorecidas alimentam, direta e indiretamente o tráfico, consumindo drogas”. Como se vê, o buraco é bem mais em baixo e a discussão muito mais profunda.
A dita oposição tem dificuldades em apresentar um programa de governo, porque não o tem. Seu projeto não contempla a maioria da população, e sim seus próprios interesses. Reside aí a mágica que não convence. É difícil porque, ao explicitar, o tiro atingiria o próprio pé. O amordaçamento da imprensa livre já é um fato, ou alguém duvida? Mas, onde iríamos explicitar isso, a não ser na própria imprensa? Enfrentamos aí o primeiro paradoxo. O Partido dos Trabalhadores também tem sua parte de culpa por essa situação chegar a esse limite. Seus dois ex-presidentes, José Dirceu e José Genoino, por exemplo. As primeiras degolas dessa crise aconteceram justamente contra eles, que desprezaram esse componente conspiratório. Deu no que deu! O PT sempre achou que não deveria abrir fogo, contra os abusos de segmentos da imprensa diária, deu no que deu! O governo Marta Suplicy chegou a confessar, nos bastidores, que tinha um acordo com a Folha de S. Paulo, deu no que deu!
Quando setores significativos do PSDB ainda apostam na candidatura Serra, que não honrou sequer seu compromisso com a população da cidade de São Paulo, quer dizer que o projeto não é outro, senão o de recuperar as vantagens de ser poder e, agora, aniquilar de vez os movimentos que representam efetivamente a sociedade civil. Não importa, para esse segmento do PSDB, seus aliados - o PFL, e grande parte de proprietários dos meios de comunicação se serão utilizadas expedientes, condenadas pela moderna civilização, tais como, prisões ilegais, processos forjados, torturas, se necessário. Alguém duvida que uma enxurrada de processos criminais será instalada contra culpados e, principalmente, contra inocentes, na eventualidade de um governo PSDB/PFL? A demonstração da truculência, nos últimos meses, não foi suficiente para sugerir o que pode vir pela frente? Faltou, é claro, uma discussão profunda e profissional, através da imprensa, sobre tudo, absolutamente tudo o que ocorreu...Bem, mas aí voltamos a questão inicial - não existe imprensa livre, as exceções estão aí para confirmar a regra.
Era de se esperar que, num clima de tamanha liberdade individual (?) o teatro, os jornais, o cinema, estivessem fervilhando com discussões sobre tudo isso, absolutamente tudo. Paradoxalmente, é comum nos dias de hoje o chamado “repercutir”. É comum ver uma apresentadora, diariamente na tevê, jogar sobre sua mesa, jornais e revistas, e comentá-los, durante todo o programa. Existe uma doença contagiosa, chamada “pauta única”. Todos os veículos discutem os mesmos assuntos, as exceções confirmam a regra. Esse é preço que a democracia paga pelo subdesenvolvimento da imprensa (parte dela, é claro). Existe uma distância entre a Lei e o que essa parte significativa da imprensa interpreta como sendo essa lei. O ex-ministro do Superior Tribunal, Nelson Jobim, cansou de dizer isso.
Alguns combatentes (não importando o lado em que estejam) têm se referido sobre o momento presente, como um clima de guerra. É verdade, nessa versão caseira de guerra total, eixo do mal é representado pelo PSDB/PFL e segmentos expressivos dos meios de comunicação. Uma cópia mal inspirada do que foi a tragédia Berlim-Roma-Tóquio, no passado. Se verdade que a tragédia se repete como farsa, estamos vivendo uma perfeita representação de bufões.
Mas, o povo não quer guerra -o povo quer pão, trabalho e liberdade.
Jair Alves – dramaturgo – São Paulo
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