fevereiro 13, 2010

Invictus


Trailer - Based on the John Carlin book "The Human Factor: Nelson Mandela and the Game That Changed the World." The film is set after the fall of apartheid, when South Africa was host to the 1995 Rugby World Cup. Mandela was in his first term as South African president, and he used the event as a way to end decades of mistrust and hatred between whites and blacks.

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Invictus, de Clint Eastwood

por Ana Al Izdihar – Clint Eastwood, quando dirige, se mostra no mínimo eclético. Ele tem o dom de comandar narrativas totalmente diferentes entre si e todas elas têm uma marca definida. Sem dúvida, é possível encaixá-lo no dito cinema auteur. Em Meia noite no jardim do bem e do mal e Sobre meninos e lobos, por exemplo, ele mostra uma condução de enredo bem lenta (não significa sem ação) e de quase total observação, deixando as personagens e a ação quase que agirem sozinhas. Poderíamos até pôr nesses filmes o rótulo de “cabeça”, em clima quase europeu.

Já em filmes como Os imperdoáveis e Menina de ouro ele mostra seu lado mais popular, segundo a narrativa clássica hollywoodiana, em que o espectador torce rasgado para o protagonista; há momentos certos para chorar, rir, se agoniar e se aliviar com a vitória desse herói sofrido que sempre merece tudo o que vem a conquistar. Invictus (em cartaz desde 29 de janeiro), a princípio, pertence a esse segundo grupo, só que é baseado em fatos reais e construído com a aprovação e orientação das pessoas que viveram a história.

Como eu já disse antes em outras resenhas, como crítica, não discuto fidelidade em adaptações cinematográficas quando são feitas a partir de livros. Quando o enredo é baseado em fatos reais, mesmo assim, acho que devemos descontar as licenças poéticas dos roteiristas e diretores. Mas no caso de Invictus terei de comentar algo a respeito, até porque Eastwood fez questão de ser o mais fiel possível com essa homenagem a Mandela e à beleza do esporte.

Eastwood imprime neste novo filme, indicado a vários prêmios mundo a fora, sua predileção por estórias em que a força humana não se quebranta diante dos obstáculos mais duros e doloridos. Só que em Invictus ele amplia a experiência individual de superação à coletiva, em que um homem inspirado inspira a outro que inspira um time de rugby e eles todos inspiram uma nação inteira. Eastwood, mesmo seguindo uma narrativa clássica e até um tanto previsível, se supera em seu próprio estilo, como que mostrando através da recente história da África do Sul sua própria história como narrador.

Ao lembrar do processo de individuação sugerido por Jung, aqui o herói real Nelson Mandela traz de sua vivência e amadurecimento aquilo que ajudará seu país e seu povo a passar pela mesma maturação. Um avanço da alma individual que impulsiona, no momento histórico certo, o mesmo avanço à alma coletiva, a verdadeira e incessante alquimia do ser humano neste planeta. Fora isso, as cenas das partidas de futebol são tecnicamente feitas de modo excelente e a reconstrução dos cenários típicos beira a fiel reprodução dos locais reais, já disseram indivíduos que estiveram lá, como a secretária pessoal de Mandela. E há outra característica marcante das histórias de Eastwood: qualquer que seja o roteiro, os personagens liderados por ele falam bem pouco, os diálogos são sempre enxutos, diretos e claros. Em Invictus não é diferente.

E claro, Morgan Freeman representando Mandela é comovente. A dancinha de Mandela me trouxe lágrimas sinceras. Há o que se chama na África do Sul de Madiba magic (a magia de Madiba, nome de Mandela no clã sulafricano), a qual Freeman diz ter sido impossível captar, mas ele convence mesmo assim. Apesar de muito parecido com a figura real, Freeman parece não querer ser Mandela, e sim fazer lembrar o líder. Confesso que chorei várias vezes ao ver sua interpretação, não porque foi feita de maneira piegas, mas porque realmente me fez imaginar como viveu e sobreviveu um homem tão abatido pela vida: viveu mais de 20 anos numa prisão, lutou pelo que acreditava, perdeu sua família por isso, fez do perdão algo sem um pingo de pieguice ou caridade patética, e foi um estrategista político exemplar. Acima de tudo, manteve-se inspirado o tempo todo, “dono de seu destino e capitão de sua alma”.

Fonte: Amálgama

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