junho 30, 2010

O vôo atabalhoado de um tucano

Imagem postada em saraiva13.blogspot.com
O vôo atabalhoado de um tucano

Por Josué Montenello Jr.
e-mail: jmontenello@hotmail.com

Era uma vez um tucano de bico amarelo e extenso, de tez cansada e madeixas escassas. Este tucano, já senil, realizava vôos diários e tranqüilos por São Paulo, pontualmente às onze horas, pois costumava dormir doze horas por dia, fato que, segundo seu médico, ajudava-lhe a rejuvenescer as penas. Costumava elaborar seus vôos diários pela direção dos ventos. E lá ia ele, solitário, mas seguro de si, com suas asas abertas sobre os arranha-céus de São Paulo. Não se preocupava com nada, com política, com articulações, com vice, com tempo de televisão. Seus vôos eram calmos, sem obstáculos ou tempestades.
Certa vez, apareceu em seu caminho um outro tucano de bico amarelo e extenso, mas levemente inclinado para cima. Era de uma outra linhagem tucana, da família uspiana. Este aconselhou o tucano senil a alçar vôos mais altos, dizendo-lhe:
- Não devemos nos contentar somente com a cidade da garoa, pois a feia fumaça que sobe apagando as estrelas um dia irá nos sufocar.
- O que faremos então? Questionou o tucano senil.
- Vamos percorrer o vasto território brasileiro. Primeiro vamos conquistar o território mineiro e cortar as asas daquele outro tucano de bico amarelo que costuma comer quietinho. Depois iremos para o Sul e demonstrar praquele povo que a nossa experiência por lá não deu fruto por falta de pulso daquela filha da fruta. Em seguida, rumaremos ao Centro-Oeste, onde convenceremos o povo a plantar soja no Pantanal. Depois, voaremos para o Nordeste na certeza de provar a todos que rapa dura é doce e pode ser mole de engolir. E finalmente chegaremos ao Norte, nossa casa, onde construiremos ninhos na copa das árvores.
O tucano senil retrucou, meio cético:
- Isso tudo é muito bonito e até excitante. Mas não posso voar sozinho, pois não tenho o barulho da voz dos periquitos, a fome dos urubus e a esperteza dos gaviões. Por isso pergunto: quem será meu companheiro nessa viagem?
O tucano uspiano meneou a cabeça em sinal de desapontamento e lhe disse:
- Depois te arrumaremos companhia!
E assim, o tucano senil foi convencido do projeto estratégico do tucano vaidoso. Abandonou seus vôos diários por São Paulo e começou a sua peregrinação pelo Brasil. O problema é que no caminho tinha uma pedra e debaixo dela, um molusco. Este havia firmado compromissos com um batráquio anuro. Imagine o que vai dar o casamento de lula com rã?  

30.06.2010
 

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