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Seis meses depois: Avatar, o futuro do cinema? por Bruno Cava – Um semestre depois do lançamento, Avatar continua no centro dos debates sobre o cinema. O blockbuster da década segue mobilizando cinéfilos, jornalistas, críticos, acadêmicos e, sobretudo, os seus milhões de fãs. Deslumbrados, eufóricos, siderados, os tietes ajudam na construção da vasta mitologia de tudo relacionado à Pandora e constituem mercado garantido para os filmes-seqüência, os videogames, os livros, os quadrinhos, as revistas e qualquer produto porventura associado a Avatar.
Desde dezembro de 2009, multiplicam-se portais, sites, canais de Orkut, twitters e blogues inteiramente dedicados a Pandora e seus nativos atléticos e naturebas. A Pandorapedia traz artigos não só sobre a flora, a fauna e a geografia locais, mas também sobre os Na´vi, seus costumes, hábitos de caça, rituais, organização social. Inclui ainda um dicionário inglês – Na´vi – aliás idioma meticulosamente montado, como o esperanto ou o Klingon – e informações up-to-date acerca das “operações humanas” no planeta azul. Tanta fissuração que foi diagnosticada até uma nova mazela, a “Síndrome Pós-Avatar”, também conhecida por “Naviblues”, Caracterizada por depressão, em casos extremos a Naviblues induz tendências suicidas em fãs esmagados pela beleza irreprodutível da vida em Pandora.
Nesse meio ano, o mundo (terráqueo!) pagou 2,8 bilhões de dólares para assistir a Avatar em salas 2D, 3D e 3D-IMAX. O longa arrecadou mais de seis vezes o seu orçamento de 450 milhões de dólares (150 milhões só em marketing). O filme já é a 14ª maior receita bruta dos EUA e Canadá, conforme o ranking que leva em consideração a correção monetária. Está atrás, entre outros, de E o Vento Levou (1ª), de dois episódios da trilogia original de Star Wars (2º e 12º) e de Titanic (6º), assinado pelo mesmo James Cameron. Só no Brasil, Avatar angariou 9,1 milhões de espectadores, alçando-se a segunda maior bilheteria do cinema nacional, atrás somente de Dona Beija e seus Dois Maridos, que acumulou 10,6 milhões em 1976.
Que foi um êxito avassalador de públicos, todo mundo sabe. Mas não foi só o público mundial que viu tudo azul. Contrariando o senso comum, o blockbuster dos blockbusters de Hollywood também maravilhou os críticos. E não somente os comentadores da grande imprensa, como também a crítica “dura”, mais intelectualizada e a acadêmica.
De acordo com o site Rotten Tomatoes, das 262 resenhas compiladas em língua inglesa, Avatar computou 216 positivas contra 46 negativas, num índice de 82% de aprovação. Resultado expressivo se comparado aos 88% (228-30) do excepcional Bastardos Inglórios (Quentin Tarantino) e 85% (104-19) de A Fita Branca (Michael Haneke) – vencedor da Palm d´Or do ano passado. Reduzindo o espaço amostral para os “top critics”, segundo classificação do mesmo site, a avaliação de Avatar decola para 94%, com 32 resenhas favoráveis e somente duas desfavoráveis, e passa à frente dos outros dois, superando os 85% (20-4) do filme de Haneke e os 74% (31-11) de Tarantino. A seu passo, o site Metacritic ratifica a avaliação e atribui a Avatar a pontuação de 84/100, enquadrada como “aclamação universal”.
Mas não foi só a crítica anglófona.
Nos Cahiers du Cinéma, sob o título “Nova fronteira”, o resenhista esgarça elogios: “elã vital poderoso”, “vigor juvenil”, “impressionante mundo com coerência plástica”, “invenção de nova matéria visual”, “imagem total de síntese”, embora reclame da “assexualidade infantil” dos longilíneos nativos azul-turquesa.
No conceituado Critikat, por sua vez, a aprovação da resenha, intitulada “Idade do ouro”, se dá sem ressalvas: “assombroso”, “prodígio técnico”, “100% síntese”, “essência da receita épica”, “ascensão a outro estado da consciência” e “filme-exemplo pelo glamour e pela fábrica de sonhar”.
Texto ainda mais laudatório vem do também francófono Chronicart: “síntese terminal da estética numérica e do cinema clássico”, “pujança formal”, “cinema-total”, “entretenimento no seu sentido mais nobre”, “iconografia definitiva e imediatamente assimilável” e “Cameron parteiro de mundos”. Mesmo expressão que no ensaio poderia parecer negativa – “paradoxo baudrillariano”, a respeito do baralhamento entre real e virtual, – inscreve-se como elogio.
Na crítica brasileira, o tom elogioso igualmente foi generalizado.
Inácio de Araújo (Folha de São Paulo/UOL) assistiu a um “filme belo, livre”, “grande”, que “não é senão cinema, cinema por todo lado”. Identifica na narrativa um “elogio à liberdade”, “mistura Rousseau com Lévy-Strauss”, “contra o brucutismo reacionário”, no “moralismo da tradição americana, como John Ford”.
Rubens Ewald Filho (Band/TNT/Rádio Jovem Pan) não economiza palavras: “uma grande história, importante e empolgante (…) filme sensacional”, “vibrante”, “impressionante” e “a melhor aventura dos últimos anos e provavelmente o melhor filme do ano”. Politicamente, ao invés da promoção da liberdade, sublinha a “mensagem ecológica”.
Outro que adorou foi Luiz Carlos Merten (Estado de São Paulo). Batiza a crítica de “Estou chapado!” e realça o efeito inebriante das maravilhas de Pandora: “viajei”, “chorei”, “passei meio filme emocionado“, “universo paralelo que me arrebatou”, “beleza de cortar o fôlego” e “beleza naquelas imagens e sons que me deixaram chapado”. E arremata, sem esconder a empolgação: “recebi Avatar como uma experiência mística e religiosa”.
Neste ponto, o leitor poderia imaginar que recepção tão calorosa só poderia advir de críticos da grande imprensa, mais condescendentes com blockbusters de Hollywood. Poderia elucubrar que, decerto, os críticos por assim dizer “duros” e/ou acadêmicos chamarão todos à ordem e desmascararão a orgia midiática ao redor de Avatar.
Não foi o que aconteceu.
Na muito respeitada Revista Cinética, Fernando Veríssimo exalta o diretor pela sua “crença na imagem cinematográfica”: com as “conquistas técnicas” e na “exibição magistral em pleno domínio de suas capacidades”, James Cameron “reservou sua cadeira no panteão dos gigantes do cinema”. Mostra muita boa vontade perante Avatar: “termina com uma imagem linda”, “cheio de esperança”, “bem-vindo o bom-mocismo sincero”. E, embora ressalve que “escorregue na pregação desses valores”, isso “parece não importar”, porque a construção do universo de Pandora constitui um “marco da ficção científica no cinema”. Da mesma forma, não importa o crítico “não ter mais 14 anos”, o filme é “obra-prima” mesmo assim, graças às “mais rápidas duas horas e quarenta minutos que passei no cinema em muito tempo.” E perde a linha com: “Ninguém jamais viu nada parecido com este filme e tenho minhas dúvidas se algum dia veremos algo assim novamente.”
A Revista Contracampo, idólatra dos Cahiers du Cinéma clássicos, foi ainda mais fundo na apologia de Avatar – pelo menos em um dos dois textos publicados. Tatiana Monassa avaliou-o com a nota máxima (4/4), sem nove horas no veredito: “Avatar é sem dúvida o grande filme-síntese de seu tempo” e “real divisor de águas na história do cinema”. Pra ela, o filme sintetiza o Zeitgeist. Porque incorpora a “mentalidade da época” e as “aspirações e medos que mobilizam a vasta comunidade terrestre”, numa “narrativa absoluta”, “corporificação completa de um estado de espírito” e “síntese de tudo o que a precedeu e origem para tudo que a sucederá”. Flertando com o cinema pelo cinema, aplaude a “celebração grandiosa do meio” e sua “magia”, “afirmando e reafirmando” o imperativo de James Cameron pelo “cinema como meio único e privilegiado, capaz de proezas além da imaginação e de proporcionar uma vida mais completa, absurda e maravilhosa do que a própria vida.” Contra o comentário geral de que o roteiro é fraco, fez questão de polemizar: “seu roteiro funciona à perfeição”.
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O primeiro livro em português dedicado ao filme foi lançado no Rio de Janeiro em 8 de junho. Em Avatar: o futuro do cinema e a ecologia das imagens digitais (Porto Alegre: 2010, ed. Sulina, 119 pág.), Erick Fellinto e Ivana Bentes contribuem independentemente, cada autor com um ensaio de aproximadamente 50 páginas. Os autores propõem-se a deglutir o filme não tanto no calor do momento, mas après-coup, mobilizando saberes da teoria da comunicação, da antropologia, da filosofia, dos cultural studies.
Aqui, me restrinjo modestamente a abordar a primeira metade do livro, reservando a vistosa contribuição de Ivana Bentes para outra oportunidade, porque merece tratamento próprio. No artigo de Erick Fellinto, são expostas as contradições entre o discurso articulado pelo filme e a realidade de que faz parte. O título vai ao ponto: “They killed their mother: Avatar, o tecno-misticismo e as contradições de Hollywood”.
O autor demonstra como Avatar desmoraliza as corporações insensíveis, predatórias e que-só-pensam-no-lucro, ao mesmo tempo em que a indústria americana de cinema é, ela mesma, um emaranhado corporativo dessa natureza. Ainda, como a crítica à ciência instrumental, desumanizadora e destrutiva, só pode operar devido à tecnologia cinematográfica que seria impensável sem essa mesma ciência. Além disso, como Avatar clama para que não nos acomodemos de modo passivo, alienados pela verdade oficial do capitalismo, mas por sua vez se realiza por meio do efeito espetacular, assombroso e duplamente alienante. Primeiro, na proposta mística (ou tecnomística) do enredo. Segundo, na imersão sensorial das imagens que tomam o espectador por todos os lados.
Noutra contradição, Fellinto reporta-se ao desejo de conexão global que permeia o longa-metragem. Ele promove uma mensagem de harmonia e comunhão em vários níveis: homem e máquina, homem e seu semelhante, homem e animal, homem e natureza e, enfim, homem e divindade – todos os pólos dissolvidos num uno primordial, na energia que tudo anima, no êxtase coletivo de corpos e mentes. A operação remete tanto ao pré-homem quanto ao pós-homem. O primeiro homem caracteriza-se pela existência pré-lingüística e pré-histórica, ser de intensidades puras e sentimentos indizíveis, no mito do bom selvagem, da criatura antes da Queda, antes de ser expulsa do Paraíso. O último homem pela superação das dicotomias, pela culminância numa espécie de Espírito Absoluto hegeliano, na reunião de fé e ciência, segundo o mito do renascimento na Parúsia. Operação em que o alfa e o ômega transfiguram a história em tempo mítico.
Se, por um lado, essa mensagem-síntese remete à espiritualidade orientalista (o “budismo ocidental” de Slavoj Zizek), à ético-estética new-age e tecnopagã, à Hipótese Gaia, ao sonho da aldeia global da Internet e ao atavismo da Comunidade (Gemeinschaft) perdida; por outro, a produção e promoção de Avatar não deixa de se inscrever em todo um sistema socioeconômico pautado pelo individualismo, o consumismo, a alienação do trabalho, o imperialismo cultural, a expropriação sistemática.
Não bastasse isso, a narrativa sozinha já contradiz o anseio de conexão, na medida em que Jake Sully, – o homem branco, o fuzileiro americano, – é quem vai salvar o planeta e comandar messianicamente os Na´vi ao triunfo. É certo que, antes, o personagem tenha de reaprender a andar e a viver num novo mundo, interconectado e maravilhoso, pelo qual se apaixonará. Porém, nada afasta o fato de que se trata de uma jornada individual do herói branco, em processo de autoconhecimento e iluminação religiosa – numa reedição extraterrestre do Caminho de Santiago ou da Subida do Monte Carmelo.
Nesse sentido, foi penetrante a crítica “The Messiah Complex”, de David Brooks, publicada no New York Times. Nele, Brooks argumenta como uma história supostamente panteísta, multicultural e comunitarista, não passa de mal-disfarçada versão do mito do messias ocidental. Ou seja, como um homem branco, iletrado, jovem, puro, que-vem-de-baixo é eleito pela Divindade para liderar os coadjuvantes não-brancos na cruzada do Bem contra o Mal. E com a vitória assegurada pela Providência – a aparição no último momento do exército de feras, que salva os Na´vi da derrota iminente. Etnocentrismo benevolente? Tão benevolente quanto o “capitalismo do bem” pregado por Cameron.
A verdadeira ironia, contudo, está em que o próprio Fellinto produz a maior contradição de seu texto sobre as contradições. O que não deixa de ser produtivo, as contradições também têm os seus direitos. Logo depois de 33 páginas desfavoráveis a Avatar, o autor insere o pós-escrito: “They killed wonder: como Hollywood pode nos devolver a sensação de espanto”. Para espanto do leitor, ele afirma que gostou! Maravilhou-se com “a potência do tecnológico”, “a dimensão artística das imagens de síntese”, “um mundo irreal, mas convincente”. Invocando o cinema de atrações da virada do século 19 para o 20, quando os filmes eram projetados em parques de diversões, Fellinto confere um valor em si ao deslumbramento das imagens, no seu “reencantamento da vida”. Diz o autor que o assombro, afinal, é o motor primeiro da busca do conhecimento.
Num balanço global (e nada definitivo), a maioria dos críticos admite de uma forma ou de outra que a narrativa baseia-se num mar de clichês. De ponta a ponta nos 160 minutos de Avatar. Que se alimenta de roteiros como Dança com Lobos, Flechas Ardentes, Um Homem Chamado Cavalo, Pocahontas, O Último Samurai, Coração Valente, entre muitos outros. Que se apropria conscientemente dos gêneros consagrados de Holywood: western, ficção científica, romance água-com-açúcar, épico de aventura. Que o dualismo metafísico, o exotismo fácil e o mambojambo esotérico, analisados friamente, restam rasteiros e pouco originais. Que as caricaturas e o maniqueísmo atravessam os personagens, os diálogos, os conflitos dramáticos, o caráter épico, a solução providencial deus ex machina.
Em geral, filmes muito formatados e recheados de chavões são vistos como falta de criatividade e ousadia, especialmente pelos bons críticos. Contudo, em Avatar a condensação de clichês foi tão totalizante que, para a maior parte da crítica, se transformou em sua principal qualidade. E fez do filme um monumento do cinema, da cultura, da época. Uma Meca para onde apontam os sentidos do contemporâneo.
Por isso, se Inácio de Araújo fala da “leitura muito fácil e imediata”, também afirma que “todo filme precisa de formulações evidentes”. Ewald de Souza ressalta as “velhas fórmulas” que se validam porque produzem “imagens autênticas”. A Revista Cinética não deixa de assinalar “a mais convencional das histórias”, mas somente para realçar o paradoxo por ela estruturar um filme revolucionário. Por sinal, o título da resenha, “Revolucionário da tradição”, reflete um dos paradoxos da modernidade, na máxima de Baudelaire: “tradição moderna, traição moderna”. Já a Revista Contracampo, menos moderada, vê na síntese bem-sucedida de gêneros e clichês um manancial para um cinema mítico e inesgotável. O máximo no mínimo. Por conseguinte, o mítico de Avatar aponta simultaneamente pra passado e futuro, em eterno retorno cinematográfico. Daí resgatar-se famosa reflexão de Eric Rohmer, pra quem o cinema mais futurista pode significar o retorno a um filme antigo – eis aí o seu (paradoxal) apelo vanguardista ao classicismo.
A bem da verdade, o processo crítico ao redor de Avatar revela a tensão entre forma e conteúdo nas argumentações. A luta conceitual entre tradição e modernidade, entre classicismo e futurismo, entre inovação e clichê. Isso fica claro quando críticos avaliam negativamente o roteiro, a narrativa, a temática ingênua, o drama pueril de Avatar; porém, ao mesmo tempo, aprovam as inovações estéticas, realçam a força das imagens, o encantamento realista de Pandora. Ou simplesmente dizem que, apesar de tudo, gostaram. Esses críticos têm dificuldades em articular forma e conteúdo e se esforçam para coordenar os juízos teóricos, éticos e de gosto. Nesse contexto, Luiz Carlos Merten, talvez o mais honesto dos deslumbrados (“estou chapado!”) pelas imagens, convoca até Nicholas Ray em seu auxílio: “o cinema é a melodia do olhar”. De somenos relevância a história, o que ele quer é audiovisual.
O drama crítico de quem gostou do filme, mas não consegue extravasar o gosto num juízo teórico consciente, é similar ao de quem não gostou, mas tem de enfrentar os efeitos de deslumbramento e a fabricação maravilhosa de Pandora. Pegando emprestado um conceito da teoria literária, o crítico que não gostou tem de enfrentar a força do realismo maravilhoso, nunca antes tão realista e tão maravilhoso. Isto significa interpretar a sedução da experiência imersiva e o tema dostoievskiano da salvação do mundo pela beleza – ambos os sentidos presentes no filme de James Cameron.
No blogue da revista Cinemascópio, encontrei um autêntico contracampo crítico, a articular forma e conteúdo de Avatar. Embora essa crítica seja somente um esboço, Kléber Mendonça Filho reconhece que “a técnica pega o público de jeito”, “induz a multidão a um transe coletivo”, “catapulta sensorial incomum ao espectador”. Comenta que a estética reverbera videogames e “perfis desejados” – me recordo agora de Buddy Poke e Second Life. Mas se o crítico destaca a poética, ataca a poesia. Pois os Na´vi são “pós-gnomos, longos, esotéricos e azuis, e em alguns momentos, exalam uma sensibilidade Xuxa realmente notável”. Pandora bem poderia ser a ambientação futurista da festa infantil da filha da apresentadora.
O Amálgama também não foi no vai-da-valsa da crítica deslumbrada, ao trabalhar forma e conteúdo. O crítico Luiz Biajoni foi além do conteudismo, ao apontar como a parafernália de texturas, luzes, formas, cores, sons – a sofisticada imagem em movimento de Avatar não expressa a riqueza e profundidade da experiência. Serve sim para “tecnicamente, mexer com os sentidos”. Avatar pode ser maravilhoso, mas não realista, porque a realidade de Pandora resultou esmaecida, simplória, pobre de consistência humana, perdida no presente imediato. Não é realismo, mas o seu contrário: “a abstração chegou ao cinema.”
Eu também não gostei. Infantilizado à náusea, de uma sensibilidade chã, o planeta azul parece mesmo um playground, repleto de brinquedos coloridos, concebidos para crianças de 12 anos. As suas seqüências mais envolventes, – os vôos de banshees – de fato, poderiam ser jogos sofisticados de Playstation ou x-Box, mas o filme não traz a mesma interatividade que um videogame. E que dirá então pilotar um avião real ou saltar de asa-delta. Realmente a mata fosforescente de Pandora é exuberante, sensual, tórrida, mas a sexualidade simplesmente não acontece, senão como farsa. E qual a graça de viver em comunhão e comunidade, se isso significa que todo mundo vai saber da sua vida sexual no mesmo dia? Mas o que me decepcionou mesmo na panacéia de James Cameron foi a carência absoluta de sangue, suor, sujeira, sêmen – numa imagem-mundo afinal descarnada, anódina e insípida. Um mundo maravilhoso, porém asséptico.
Fonte: Amálgama
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