julho 01, 2011

Veja por quê Caco Barcelos chamou a Marcha da Liberdade pelo que ela não é

PICICA: Caco Barcelos já havia pisado na bola quando a Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial, em parceria com o Conselho Federal de Psicologia, puseram mais de 2 mil pessoas na Marcha dos Usuários (de saúde mental), em setembro de 2009, em Brasília, exigindo do governo federal que a reforma psiquiátrica assumisse o seu caráter antimanicomial. A potência do movimento antimanicomial não surgiu em todo o seu vigor na tela da Globo (comentário feito em post anterior). Desta vez, Barcelos foi anti-ético praticando um jornalismo desinformativo. Veja como as imagens/som explicam porque ele, deliberadamente, reduziu a liberdade de expressão, tema da Marcha da Liberdade, a uma suposta marcha da maconha. Sabia-se que esse viés seria explorado pela mídia sensacionalista. A calhordice não tem limites. Poucos pensaram que Barcelos fosse um dos seus instrumentos. Por essa e por outras, esse tipo de mídia perde a credibilidade entre os jovens. Vai mentir assim na PQP. A propósito, Caco, a Marcha Nacional da Maconha vai rolar no dia 3 julho, domingo. No Rio, a concentração vai ser em frente do Coqueirão, em Ipanema. E se você for cobrir o evento, lembre-se que a história de "apologia às drogas" foi derrubada pelo STF. Adianto o mote da Marcha da Maconha: "Quem defende proibir a plantação em casa para uso próprio está defendendo os financiadores do tráfico, artigo 36 da Lei 11343/2006." Morô? Em tempo: No Amazonas, a Associação Chico Inácio está vinculada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial e tem como lema "Andar em Boa Companhia". Resumindo: você não a verá na companhia de reformistas de araque, que não lutaram pela Lei de Saúde Mental do Estado do Amazonas, que não participaram dos abraços simbólicos pelo fim do hospício e que escondem por trás do denuncismo interesses contrários à luta antimanicomial. A mídia local está comendo bola ao não perceber quem são os porta-vozes da manutenção de um "hospício humanizado". Taí uma contradição deslavada, fruto residual da leseira baré que ainda vigora em alguns setores da cidade. Não é à toa que em seu discurso lhes falta o essencial: a luta por uma sociedade sem manicômios.
Enviado por em 28/06/2011
Caco Barcellos é surpreendido durante sua visita à Marcha da Liberdade. O povo, em coro grita: "Ei, Globo, vai tomar no cu!" e "O povo não é bobo, fora Rede Globo!". EPIC Globo Fail. A gente só vê por aqui.

Que dó, que dó, que dó! Essa o Profissão Repórter não mostrou.

-------TEXTO BÔNUS--------

VOCÊ É MESMO LIVRE?

No dia 18 de junho, 41 cidades brasileiras realizaram simultaneamente a Marcha da Liberdade. Quase trinta anos após o fim da ditadura, estão indo às ruas pelo direito da liberdade de expressão. Ué, mas no Brasil todo mundo é livre para falar o que pensa. É garantido na Constituição. Sim, desde que não incomode ninguém.

A ditadura militar acabou porque tornou-se desnecessária. Os mecanismos de controle estão mais eficientes. Troque os soldados por traficantes. Substitua a Rota nas ruas por bandidos patrulhando a cidade. A função do censor fica a cargo dos defensores do politicamente correto. E aqui a magia acontece: qualquer "incidente" que possa ocorrer com quem saia do trilho entra na conta da violência urbana. "Ele reagiu ao assalto", caso encerrado.

Essa ditadura sofisticada se apoia em um tipo de censura invisível: o medo. Medo de ser assaltado, de sofrer represálias, de ser julgado, de sofrer bullying. Exagero? Sugiro um exercício. Da próxima vez que um flanelinha vier te extorquir, recuse-se a dar dinheiro. Conteste com o seu chefe as horas extras que você não recebe. Vá até o Pará e proteste contra o desmatamento. Vou facilitar. Conte para os seus colegas de baia qual o seu maior sonho. Vamos, não seja tímido.

Ninguém quer virar mártir. Ainda mais em um país que enterra seus heróis em vala comum. Melhor se calar e fingir que a vida está ótima. E viver uma superficialidade existencial para não levantar polêmicas e passar despercebido pelo Grande Irmão.

O dogma e o tabu são os melhores mecanismos de mordaça de uma sociedade. Ele é plantado através do diálogo moralista da mocinha da novela, dos casamentos perfeitos das capas de revista, do discurso da pseudo-sustentabilidade, do comentário do âncora do jornal, da apropriação da palavra divina como instrumento de manipulação - e não de reflexão, da ditadura da beleza e do consumo, que criam padrões distorcidos da felicidade e, principalmente, da infelicidade. Ajudadas pela defasagem do nosso ensino, que nos programa para replicarmos opiniões alheias, essas verdades absolutas deixam o caminho livre para o preconceito. Pra que deixar as maçãs podres no mesmo cesto?

Cria-se uma sociedade de reprimidos. O humorista que não pode fazer piada, o homem que não pode chorar, a mulher que não pode amar outra mulher, o aluno que não pode contestar o professor.

A esperança está na internet. Um espaço onde todos têm oportunidade de expressar sua voz, de questionar, encontrar pessoas que pensam parecido e de se organizar para marchar pela causa que quiser. E é isso que está acontecendo.

Mas assim como a internet está derrubando mundo afora muros seculares em questão de dias, acabar com a liberdade de expressão dentro dela é bem mais fácil do que parece. Isso já está acontecendo. O modelo chinês está pronto para ser exportado. Ou você acha que "eles" vão assistir tudo de camarote, comendo pipoca?

A hora de agir é agora! Espalhe a mensagem, faça o seu protesto nas suas redes sociais, vá às ruas e lute pelas suas causas. Essa é a revolução 2.0. E ela está apenas começando.

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