PICICA: Dedico este post a Wilson Alecrim, o médico que entrará para a história como o Secretário Estadual de Saúde que pôs fim ao hospício de Manaus. Todo hospício é símbolo da degradação a que foram submetidos os loucos na história dos últimos duzentos anos da humanidade. Com a mudança de paradigma, centrado agora na atenção psicossocial, manter hospícios em funcionamento é sinal de desumanidade e depõe contra a sociedade do nosso tempo. É preciso que a opinião pública acompanhe os próximos passos. O modelo que ora finda só retornará se não estivermos preparados para o desafio de lidar com o sofrimento da loucura sem a sombra do enclausuramento e da exclusão, se não dispormos de uma rede de atenção diária às demandas médicas e sociais das pessoas com transtornos mentais. Os loucos não precisam apenas de medicamentos, mas de uma rede de amizade e solidariedade. A lógica do Pronto Atendimento às crises psiquiátricas deve ser mantida. As internações devem ser breves, e os cuidados não podem recair sobre as famílias, historicamente acusadas de negligência, sem que se ponha em causa a negligência do Estado, incapaz de suprir as demandas deste público com profissionais qualificados e uma rede solidária de construção de laços intersubjetivos. Urge que junto com os loucos reinventemos a vida. Precisamos de uma clínica que não tema os efeitos políticos do seu exercício diário, baseada em conceitos e valores, tais como os defendidos pelo professor Benilton Bezerra Jr. (UERJ): o reconhecimento da singularidade, o respeito pela diferença, o incentivo à autonomia, o apelo à solidariedade, o apreço pelos laços de independência recíproca, a valorização da ação no espaço público. Sem eles não é possível fomentar o debate sobre o mundo que queremos e da vida que desejemos. Com eles construiremos uma sociedade sem manicômios.
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