julho 14, 2011

"A história e a espinha dorsal do Bule Voador", por Eli Vieira

PICICA: "Maior blog ateu do Brasil, blog de todas as letras, e até “bullying voador”, esses foram alguns apelidos dados ao nosso Bule Voador ao longo de mais de um ano e meio de existência. Mas eu deveria dizer mais de um ano e meio de reencarnação – o Bule teve uma vida passada como blog de ceticismo tocado sob a batuta solitária do jornalista Marcelo ‘Druyan’ Esteves, de Belo Horizonte, e já era hospedado, como ainda é hoje, pelo projeto HAAAN do nosso mecenas Kentaro Mori."


A história e a espinha dorsal do Bule Voador



INTRODUÇÃO: Hoje, 13 de julho, é aniversário do Amálgama. Estamos completando 3 anos de vida. Para marcar a data, um texto sobre outro coletivo, o Bule VoadorEli Vieira, um dos editores, conta um pouco do Bule, sítio que está entre os favoritos de vários leitores do Amálgama, para não falar dos colaboradores. Dentro da temática religião/secularismo/ciência, há grande afinidade entre Amálgama e Bule. Há naquele espaço uma defesa destemida dos direitos humanos universais que me faz vê-lo, nestes tempos relativistas, como um dos endereços mais importantes do país. Além disso, o blog oficial da Liga Humanista Secular do Brasil é uma realização diária do que nós mesmos tentamos alcançar por aqui: colaboradores assíduos, conteúdo relevante e bem produzido, debates vivos e, sim, design inteligente. [Daniel Lopes]
*
por Eli Vieira
“Existe uma larga diferença entre as pessoas que se juntam e passam
a pensar da mesma forma, e aquelas que, por pensarem de forma similar, se unem.”
Pedro Almeida, diretor geral da LiHS
– Preâmbulo –
Maior blog ateu do Brasil, blog de todas as letras, e até “bullying voador”, esses foram alguns apelidos dados ao nosso Bule Voador ao longo de mais de um ano e meio de existência. Mas eu deveria dizer mais de um ano e meio de reencarnação – o Bule teve uma vida passada como blog de ceticismo tocado sob a batuta solitária do jornalista Marcelo ‘Druyan’ Esteves, de Belo Horizonte, e já era hospedado, como ainda é hoje, pelo projeto HAAAN do nosso mecenas Kentaro Mori.
Foi o Marcelo o responsável não só pelo nome, em alusão à famosa analogia de Bertrand Russell, mas também pela maior parte dos empurrões iniciais (ou “velocidade de escape”, diria) que levaram o blog aos seis dígitos de visitas mensais atualmente. De uma gestação de discórdia e debate que durou alguns meses, o Bule renasceu e então decolou num voo calmamente ascendente. Estas são algumas das minhas memórias e reflexões sobre o que aconteceu durante este voo, escritas em resposta a um convite do Daniel Lopes, a quem agradeço. É uma alegria para mim que este seja meu primeiro texto no Amálgama. Trago as felicitações de toda a equipe do Bule pelo triênio de existência deste nosso irmão virtual.
Minhas memórias e opiniões aqui expressadas não têm a intenção de representar por completo a história do Bule Voador, muito menos as opiniões de todos os seus editores. Aqui estou, como testemunha, completamente limitado a mim mesmo. E é por isso que escolhi um formato de recortes algo caóticos. Meu desejo é que agrade a alguém da mesma forma que me agradou, numa certa madrugada, encontrar aqui uma resenha que o Daniel fez das obras do saudoso Campos de Carvalho.
– 1. Do atrito se faz luz e calor –
Era um grupo de cerca de cinco pessoas, responsáveis pelo “blog oficial” (ênfase pomposa em “oficial”) da União Nacional dos Ateus (UNA), uma comunidade de Orkut que tinha o projeto de ser uma associação alternativa à conhecida ATEA. Como em qualquer outra tribo de Homo sapiens, discórdias vêm e vão, e nossa mais marcante foi com a diretoria da União por diminuir a importância do blog, que já estava chamando a atenção por causa do talento jornalístico do Marcelo e de textos de outras figuras como Cristiano “Catupiry” Souza, Guilherme Roesler, Neilson Vilela, Silvia Chaucoski e eu.
Nosso rompimento com a UNA se refletiu dentro da “redação”, e outro atrito emergiu, mas foi ótimo. Não estou cantando odes a Éris, deusa da discórdia: foi ótimo porque um dos editores, autointitulado marxista, alegou que a ênfase explícita e renovada do Bule no humanismo secular (HS) o obrigava a se afastar, pois essa visão de mundo seria, segundo ele, claramente capitalista.
O HS é simples em sua proposta epistemologicamente cética e científica e eticamente partidária dos direitos humanos e da democracia – se alguém se afasta desta base simples por compromissos ideológicos anteriores, por prioridades maiores que isso, é algo a ser comemorado num blog humanista secular, até porque esses rompimentos dão liberdade para que a diversidade cresça e cada um ache seu nicho. Tais rupturas lembram o evolucionista francês Lamarck, mas só falarei o porquê no fim deste texto.


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Pós-graduando em genética evolutiva molecular na UFRGS, presidente da Liga Humanista Secular do Brasil e co-editor do Bule Voador.

Eli Vieira

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