novembro 01, 2011

Eterno Drummond

PICICA: (E)terno Drummond.


E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.

Mais Drummond
Ok, não queremos exagerar nas postagens 'drummondianas', mas, pra quem sempre amou sua poesia, seja nos poemas ou nas prosas, fica difícil se conter. Ôpa, prosa? Sim, embora Drummond seja mais conhecido por seus lindos, às vezes polêmicos, e até mesmo pornográficos ( O Amor Natural) poemas, ele também escreveu algumas prosas! (Veja aqui três de seus textos em prosa )
Para finalizar nossa homenagem ao grande e honroso escritor-poeta Carlos Drummond de Andrade, abaixo o poema 'Eterno', um dos meus preferidos, a ponto de não conter minhas lágrimas! "Neste poema, assim como em vários outros textos de Drummond, fica patente sua "filiação" a Machado de Assis. O diálogo jocoso de Yayá Lindinha foi retirado de um delicioso conto do autor de Dom Casmurro também chamado "Eterno!O bruxo de Itabira é filho ideológico do bruxo do Cosme Velho. A outra citação em itálico (Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie — algo como "O silêncio eterno desses espaços infinitos me apavora") é uma frase famosa do pensador francês Blaise Pascal (1623-1662)." (informação extraída do site algumapoesia.com.br).

Enfim, 'Eterno', de Carlos Drummond de Andrade:


E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.

Eterno! Eterno!
O Padre Eterno,
a vida eterna,
o fogo eterno.

(Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie.)

— O que é eterno, Yayá Lindinha?
— Ingrato! é o amor que te tenho.

Eternalidade eternite eternaltivamente
                   eternuávamos
                           eternissíssimo
A cada instante se criam novas categorias do eterno.

Eterna é a flor que se fana
se soube florir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem nome
e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma
                                                [força o resgata
é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa, pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e
                                                [passageiras as obras.
Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um
                                                [mar profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos
                                                [afundamos.
É tentação a vertigem; e também a pirueta dos ébrios.
Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.

Mas eu não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma
                                               [essência
ou nem isso.
E que eu desapareça mas fique este chão varrido onde
                                               [pousou uma sombra
e que não fique o chão nem fique a sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como uma
                                               [esponja no caos
e entre oceanos de nada
gere um ritmo.

Fonte: Umas (e outras) Palavras

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